Fritz Müller nos observa através do tempo com o legado e contribuições científicas deixadas para a humanidade. Basta caminhar por Blumenau para se deparar com rua, praça, escola, biblioteca e até mesmo instituições de pesquisa que levam o nome do naturalista. Toda essa presença do nome de alguém que já morreu há mais de 120 anos e agora estampa placas e memoriais gera uma pergunta inquietante: “Afinal, quem é esse tal de Fritz Müller?”.
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A resposta pode ser dada por pessoas que até hoje dão continuidade nos trabalhos e pesquisas iniciadas por ele. Como é o caso do coordenador do programa de pós-graduação em biodiversidade da Universidade Regional de Blumenau (Furb), André Luis Gasper.
Admiro muito o trabalho dele. Existe muita coisa que ele catalogou e que hoje já não existe mais, por conta da ação humana e isso possibilitou o nosso trabalho em avanço nos estudos, tendo base nas obras do Fritz. O nome dele é muito importante para os estudos biológicos não só no Brasil, mas no mundo inteiro
André Luis Gasper, coordenador do programa de pós-graduação em biodiversidade da Furb
A observação feita pelo alemão, que adotou a cidade de Blumenau para viver no Século 19, também é vista pelo mundo científico como pedra fundamental de estudos das relações dos seres e como eles reagem no ambiente em que vivem.
– Foram pesquisas muito bem feitas, tendo em vista o material tecnológico que ele tinha na época. Naquele tempo, teria que se aproveitar bastante a luz do dia para trabalhar, pois a noite só a luz de vela e com microscópios que hoje se compra em lojas de brinquedos. Na área da zoologia, uma das contribuições mais importantes e mais incríveis é o estudo do mimetismo das borboletas. Que é a capacidade de algumas espécies de imitar a coloração e demais características físicas de outros seres para escapar de predadores. Inclusive essa teoria é chamada no mundo científico como “Mimetismo Mülleriano” – explica Gasper.
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Ainda de acordo com o pesquisador, este estudo é um dos principais trabalhos de Fritz e auxiliou o naturalista inglês Charles Darwin a elaborar a Teoria da Seleção Natural, base da Teoria da Evolução. Além do legado dos registros e estudos, Müller também levantava o olhar para causas que ainda hoje são muito debatidas e com certo tom de preocupação, como a preservação ambiental.
O ambientalista Lauro Bacca afirma que os documentos produzidos por Müller atualmente possibilitam estudos avançados no campo da biodiversidade e retratam como era a região nos períodos coloniais.
Ele serve como referência para o que nós tínhamos aqui no Vale do Itajaí. Em 1866, Fritz fez um registro de que naquele ano foram mortas 50 mil jacutingas aqui na nossa região. Então, sabemos através disso que este animal era extremamente abundante e podemos comparar com a realidade de hoje. Isso é muito importante, tendo em vista a riqueza deste lugar e os efeitos da ação humana nele em quase dois séculos
Lauro Bacca, ambientalista
Para deixar mais claro a importância desta figura, até o ano de 2017 Fritz Müller era o único cientista, morador de Santa Catarina, que teve artigo publicado na revista científica britânica “Nature”, principal veículo do meio. Periódico em que o próprio Charles Darwin publicou vários trabalhos. O pesquisador Alexander Christian Vibrans, da Furb, foi o segundo a conseguir este feito.
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Ao analisar toda a base que Fritz Müller construiu na rara ciência moderna, que logo é possível aplicar a frase elaborada em 1675 pelo físico Isaac Newton: “Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes”. De fato, para os olhos de leigos e cientistas as heranças deixadas pelo ilustre morador destas terras é um legado gigantesco.
Museu em Blumenau guarda memória e obra do naturalista

Parte do legado de Fritz Müller está no museu de ecologia que leva o nome dele, localizado na Rua Itajaí, no bairro Vorsadt, em Blumenau. O local explora a vida e a obra do naturalista, e fica exatamente no lugar onde ele viveu em meados Século 19 e serviu de palco para as observações e análises.
Fundado em 17 de junho de 1936, o museu abriga objetos usados pela família Müller e amostras de animais e ecossistemas da Mata Atlântica. O espaço ainda conta com algumas espécies de plantas que inclusive foram cultivadas pelo naturalista.
O visitante pode encontrar alguns móveis e objetos que pertenceram a Fritz Müller e familiares. Além disso, é possível observar animais empalhados de várias espécies, aquários com ecossistemas da região, animais em líquidos e um acervo com objetos do povo indígena “Xoklengues”, presente no Vale e com quem o próprio naturalista cultivava uma ótima relação.
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Confira a seguir quatro itens importantes para conferir em uma visita ao museu:
Plantas e animais

Exemplares de animas e plantas da Mata Atlântica que Fritz Müller estudou enquanto esteve na região.
Cadeiras e quadros

Como o museu foi uma das casas de Müller, em Blumenau, nela constam duas cadeiras que foram usadas por ele e pela esposa, Caroline, assim como quadros com retratos do casal.
Microscópio

Exemplar similar ao equipamento utilizado por Müller no Século 19.
Borboletas

Catalogação de espécies de borboletas que foram estudadas por Müller, e deram origem à teoria que é chamada no mundo científico como “Mimetismo Mülleriano”.