Para compreender melhor os impactos e a abrangência que tomou o evento do confronto entre as polícias federal e militar, estudantes, servidores e professores da UFSC, o Diário Catarinense realizou um debate com especialistas de diversas áreas. Trouxe um advogado, uma psicóloga e um médico para discutir as várias áreas implicadas no uso das drogas e em sua repressão pelas forças policiais.

Continua depois da publicidade

:: Assista aos principais pontos do debate

O primeiro entendimento foi o de que o confronto poderia ter sido evitado se as duas partes tivessem concordado com o diálogo.

– Há um problema relacionado às drogas na universidade, mas que não é exclusivo do campus. É social. O que a gente viu é essa dificuldade de diálogo entre policiais e a UFSC – disse o advogado e sociólogo Sandro Sell, vice-presidente da Comissão de Segurança Criminalidade e Violência Pública da OAB.

A posição é parecida com a do coordenador científico da Associação Catarinense de Psiquiatria, Tadeu Lemos, especialista no tratamento de dependentes químicos.

Continua depois da publicidade

– O foco do problema não ficou no uso da droga, mas no tipo de aborgadem – disse Lemos.

Os três não souberam identificar se há hoje uma tendência nacional que leve mais para a repressão ou mais para a tolerância em relação ao uso de drogas.

– O que a gente tem certeza é que a nossa política proibicionista fracassou – disse Sell, sobre o fato de a polícia notificar sempre recordes de apreensões, sem que o efetivo consumo das drogas ilícitas esteja se reduzindo.

– Talvez seja o momento de se começar a discutir a descriminalização da maconha – disse a psicóloga Beatriz de Sousa Arruda, diferenciando isso da legalização, de a venda e o consumo serem liberados de forma recreativa.

A opinião dos três é a de que ainda não é o momento ideal para fazer essa inversão de valores, mas que a mudança do modelo já desveria estar sendo discutida e estudada desde agora porque a sociedade passa por um momento de transformação em relação ao assunto.

Continua depois da publicidade

– Achei ingenuidade do delegado da PF achar que não haveria reação – continuou Arruda.

Dois temas foram destacados pelo advogado Sandro Sell na forma como o assunto foi discutido pelas duas instituições, a UFSC e a PF: o reducionismo e a necessidade da ação.

– A universidade não pode ser reduzida a maconheiros assim como a polícia não pode ser minimizada ao papel de invasor – disse o representante da OAB no debate.

– A polícia tem tantos crimes para atender que ela acaba tendo que priorizar alguns, aqueles mais nocivos à sociedade. Se ação da PF fosse para prender um estuprador dentro do campus, teria aplausos instantâneos da sociedade. Diferente desse consumo que, pelo potencial danoso da ilegalidade, rende no máximo uma advertência. Todo esse barulho por um crime em que ninguém fica preso – comentou também Sell.

Mesmo com todas as posições de que o trabalho de repressão não tem dado o resultado esperado pela sociedade, o médico psiquiatra Lemos faz um alerta de que o outro caminho também não é tão simples.

Continua depois da publicidade

– O uso de drogas existe desde a pré-história. No entanto, legalizar não é uma questão tão fácil – disse, em especial porque não há como prever hoje os efeitos que podem vir com a mudança.