Recomendação da vacina contra o HPV para pessoas fora da faixa etária prescrita em bula, vacinação de gestantes e lactentes contra coqueluche, como proceder com os pacientes alérgicos à proteína do ovo e qual a melhor idade para aplicação da segunda dose da vacina contra varicela serão debatidos no Controvérsias em Imunizações, que reúne especialistas no Rio de Janeiro neste sábado.

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Organizado pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), o evento terá conferencistas do Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. O objetivo, segundo o presidente da SBIm, Renato Kfouri, é democratizar o acesso às informações de qualidade, atendendo ao estatuto da entidade que prevê o incentivo à educação continuada na área de imunizações.

Entenda alguns pontos em debate:

:: Vacinação de grávidas contra coqueluche

Com o aumento dos casos de coqueluche entre bebês, tendo os pais como os principais transmissores da bactéria causadora da doença, a indicação da vacina para grávidas e lactentes é um dos principais tópicos a ser debatido no evento. O tema, que será tratado pela médica Isabella Ballalai, presidente da SBIm – Rio de Janeiro. De acordo com Ballalai, a vacinação pré-natal representa melhor custo-efetividade, já que previne mortes em 51% dos casos (na vacinação pós-parto, esse índice cai para 21%).

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– Vacinar a mulher durante a gestação significa aumentar a proteção nos primeiros meses de vida da criança – afirma a médica.

:: HPV para maiores de 26 anos

A indicação da vacina contra HPV para mulheres com mais de 26 anos está sendo considerada mediante os estudos que verificaram ser alto o índice daquelas que apresentam sorologia negativa para os tipos de HPV 16 e 18, causadores de câncer. De acordo com o vice-presidente da SBIm Nacional, Guido Carlos Levi, estudos mostram que 68% das mulheres com idade entre 26 a 35 anos estão suscetíveis. Entre as que têm de 46 a 50 anos, o percentual de suscetíveis é de 65,6%.

– Esses dados reforçam a importância da vacinação mesmo que a mulher esteja acima da faixa etária recomendada na bula. Embora a vacina não vá tratar infecções pré- existentes, ela ainda será útil para a prevenção da infecção por outros sorotipos – considera Levi.

Países como Austrália, México, Turquia, Índia, Equador, Filipinas e Macau já autorizam formalmente a vacina do HPV para maiores de 26 anos. O médico destaca que não há uma contraindicação específica para o uso da vacina nesses grupos, o que se discute é o benefício da indicação.

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:: Prevenção da febre amarela em idosos

A validade da indicação para idosos da vacina que previne a febre amarela será discutida pelo médico José Geraldo Leite, da SBIm – Minas Gerais. O tema está em pauta devido ao maior risco de reações adversas em pessoas com mais de 60 anos.

– Sempre que o risco de contrair a doença por meio da picada do mosquito for maior do que o risco de reações adversas possíveis de ocorrer em idosos, a escolha deve ser pela imunização – defende o médico.

:: Antecipação da vacina contra varicela

A antecipação da primeira dose da vacina contra varicela (catapora) é outro ponto polêmico. A indicação atual é que a vacinação tenha início entre 12 e 15 meses de vida, para evitar a interferência de anticorpos maternos na resposta vacinal da criança. Contudo, já é conhecida a eficácia da aplicação de “dose de emergência” com o objetivo de prevenir a doença em bebês que tiveram contato com pessoas infectadas pelo vírus da varicela.

– Diante dessa constatação, vamos discutir as indicações e a proteção conferida aplicando a primeira dose antes de um ano e após os nove meses de idade e, nessa situação, como proceder posteriormente: serão necessárias mais uma ou duas doses da vacina? Quando aplicá-las? – questiona o médico Juarez Cunha, da SBIm- Rio Grande do Sul.

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Outra discussão envolvendo a mesma vacina é se os especialistas irão recomendar a antecipação da segunda dose. O que motiva o debate é a possibilidade da ocorrência da doença em crianças já vacinadas com uma única dose e a comprovação de que a dose de reforço pode conferir proteção de até 100%.

:: Vacina inativada contra poliomielite em adolescentes

Existe risco de queda da imunidade contra a poliomielite no adolescente brasileiro, embora a imensa maioria tenha sido vacinada na infância, segundo a médica Luiza Helena Arlant, vice- presidente da Sociedade Latino-americana de Infectologia Pediátrica, que defende o reforço na imunização de jovens e adultos contra a doença.

– Indicamos a VIP para o viajante que se dirige a países nos quais ainda existe a doença, como é o caso de adolescentes que fazem intercâmbio fora do país, especialmente em países onde a pólio ainda existe em níveis endêmicos – explica Luiza.

De acordo com a médica, a doença em adultos é tão grave como em crianças, com uma letalidade bastante alta. O vírus da pólio ainda circula mesmo em países que já erradicaram a doença, como é o caso do Brasil. Isso ocorre também porque o vírus presente na vacina oral, usada nas campanhas e na vacinação de rotina, é eliminado nas fezes das crianças vacinadas.

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:: Como proceder em casos de alergia à proteína do ovo

Vacinas produzidas a partir do cultivo de vírus em ovos podem representar limitação de uso por pessoas com alergia a esse alimento, o que leva alguns médicos a deixar de prescrever a imunização.

Segundo o pediatra Gabriel Oselka, presidente da Comissão de Imunizações da Secretaria de Saúde de São Paulo, a vacina só deve ser contraindicada a pessoas com reações extremas à ingestão de ovos, como anafilaxia, isto é, choque, falta de ar, edema de lábios, urticária generalizada.

De acordo com o médico, das vacinas disponíveis hoje no Brasil, apenas as de gripe e febre amarela são produzidas em ovos.