A promessa de cortes nas despesas com viagens, aluguel de imóveis e locação de carros não convenceu especialistas em finanças públicas. O secretário-geral da Contas Abertas, Gil Castello Branco, critica o fato de o governo federal não detalhar o quanto pretende economizar nos diferentes itens.

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Da redução de R$ 10 bilhões no orçamento da União, R$ 4,4 bilhões se referem às chamadas despesas discricionárias – as não obrigatórias, como bilhetes aéreos, diárias e consumo de energia. Castello Branco reclama que o Ministério do Planejamento não revelou o percentual de cada corte, o que inviabiliza fiscalizar se as medidas serão cumpridas.

– É por isso que o governo perde a confiabilidade. Mesmo quando anuncia ações supostamente positivas, não convence – diz o especialista.

Entidade privada que investiga o desperdício com o dinheiro público, a Contas Abertas ainda não descobriu quais foram os gastos com viagens e locação de automóveis em 2012. Para Castello Branco, é impossível saber o quanto representará o corte de R$ 4,4 bilhões nas sete rubricas que compõem o bloco das despesas discricionárias. Supõe que esteja na margem dos 10%, mas é um palpite.

– É extremamente vago. As dúvidas continuam – observa.

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Outra inconformidade da Contas Abertas é quanto ao enxugamento de R$ 5,6 bilhões no setor das despesas obrigatórias – como de pessoal e encargos sociais. Castello Branco diz que o governo admitiu ter se equivocado na previsão orçamentária inicial, para mais.

O consultor econômico e de finanças públicas Raul Velloso também aponta a desinformação no anúncio. Diz que o governo não esclarece a dimensão dos cortes, na comparação com o ano passado, nem o período de duração:

– Não sei se representa redução. Ou se pode significar aumento em relação ao exercício anterior. O governo nunca informa direito.

Partidos podem pressionar por verbas para emendas

Ex-secretário de assuntos econômicos do Ministério do Planejamento, Velloso analisa que as medidas estão no âmbito das intenções. Ou de protelar o problema.

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– Cheira a adiamento – avisa.

Os cortes não atingiram as emendas parlamentares, nas quais políticos recebem verbas para agradar suas bases eleitorais. No entanto, o diretor-executivo da ONG Transparência Brasil, Claudio Abramo, alerta que os partidos de sustentação do governo deverão pressionar por mais dinheiro no segundo semestre. É que receberam pingado até julho, ficando longe da cota média.

– Vem pressão por aí. Normalmente, os partidos da base emplacam metade das emendas que propõem – lembra o diretor.

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