Impulsionada pelo choque de preços dos alimentos no primeiro semestre, pela disparada nos serviços e pelo aumento de combustíveis e transporte, a inflação medida pelo IPCA ficou em 6,5% no ano passado – que é a maior desde 2004. Significa que o resultado, divulgado na sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fechou no limite da meta do governo federal.
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A refeição fora de casa foi o item que teve o maior impacto no ano passado. A situação foi vivenciada pela farmacêutica Natália Nobre Mazot, 24 anos, que trabalha em um shopping de Porto Alegre e almoça quase diariamente na praça de alimentação. O aumento no preço dos pratos tem feito a farmacêutica tentar almoçar mais em casa.
– Até tento, mas nem sempre consigo almoçar em casa. É uma pena, pois gasto o dobro com refeições na rua – afirma Natália.
A expectativa para 2012 é de inflação menor. Mesmo assim, há preocupações, porque tanto a renda quanto o emprego devem seguir em alta neste ano. Especialistas apontam que dificilmente será atingido o centro da meta, de 4,5%.
PRANCHETA ZH:
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O IPCA no limite da meta em 2011 traz quais consequências ao país?
Gustavo Loyola, ex-presidente do BC e sócio-diretor da tendências Consultoria: O Brasil teve inflação muito alta e crescimento econômico muito baixo em 2011, ano em que pagamos o preço por acelerar muito a economia em 2010. O crescimento econômico no médio prazo depende de inflação baixa.
Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio: Não há nenhum problema em atingir o teto da meta nas atuais circunstâncias externas. Muitos países não alcançaram a meta de inflação. O IPCA em 2011 reflete ainda 2010, com a demanda puxando muito os preços.
Constantin Jancso, economista sênior do HSBC no Brasil: Essa não é uma situação grave. Haveria um impacto negativo na economia se a inflação nos últimos anos estivesse superando constantemente a meta do governo, o que não tem ocorrido.
Qual a previsão para o índice em 2012?
Gustavo Loyola: Nossa expectativa é de que a inflação caia no primeiro semestre deste ano, mas não está assegurada a meta de 4,5% ao final de 2012. Achamos que o IPCA será de 5,4%.
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Carlos Thadeu de Freitas: Deve ser menor do que em 2011, ficando em 5%, pois as commodities caíram no ano passado, o IGP-M subiu pouco, e a economia brasileira andou devagar nos últimos meses.
Constantin Jancso: Estamos prevendo IPCA em 5,4%, diante da desaceleração do índice nos últimos meses e que deverá permanecer. E haverá o impacto da mudança de pesos do IPCA, que aliviará a inflação.
Algo deve mudar na política do BC diante do resultado de 6,5%?
Gustavo Loyola: Não deve mudar nada. O (Alexandre) Tombini (presidente do BC) está satisfeito, então o BC deve manter a queda de juros. Prevemos que haverá dois cortes de meio ponto cada nas próximas reuniões.
Carlos Thadeu de Freitas: O Banco Central não poderia deixar de baixar a taxa Selic, então este IPCA no limite não afeta sua reputação. Mas, se a inflação voltar no ano que vem, o BC terá de ser rigoroso no controle.
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Constantin Jancso: Nada, a postura do BC deve permanecer a mesma, com novos cortes na taxa Selic nas próximas reuniões do Copom.