A ocorrência de dois alagamentos em menos de uma semana no Litoral acende o sinal de alerta. Pela segunda vez em seis dias, o solo e os rios não foram capazes de absorver a água da chuva e escoá-la. O resultado foram alagamentos e deslizamentos de terra – alguns, em locais nunca antes atingidos pela água, como no Bairro Ressacada, em Itajaí.
Continua depois da publicidade
Diferente de outras enchentes e alagamentos, que costumavam estar acompanhadas de estragos no Vale do Itajaí, desta vez o prejuízo se concentrou apenas no Litoral – resultado do excesso de chuvas e da dificuldade de escoamento.
Em busca de respostas para o fenômeno, O Sol Diário conversou com especialistas de diferentes áreas da Univali, da engenharia civil à geologia, que avaliaram os estragos. O resultado é unânime: se não houver planejamento urbano e educação das comunidades, situações como as que foram vistas nos últimos dias tendem a se repetir.
Morros
Continua depois da publicidade
Sete deslizamentos de terra foram registrados somente em Itajaí na quarta-feira. As ocorrências, que de acordo com o geólogo Sérgio Freitas Borges podem ser decorrentes do desgaste natural dos morros, é agravada em locais habitados e com supressão de vegetação.
– Isso faz com que a água escorra com mais velocidade, causando erosão superficial. As construções, por sua vez, fazem patamares artificiais e desestabilizam o perfil da encosta, favorecendo a infiltração.
Estima-se que existam 574 moradias em áreas de risco de deslizamentos em Itajaí e 2.422 pessoas vivendo nessa situação.
Continua depois da publicidade
Construções (sugestão do leitor Dorvalino Silvestrin, administrador de empresas)
O engenheiro civil Luís Fernando Pedroso Sales lembra que a urbanização dos bairros potencializa os alagamentos. Foi o que ocorreu com a região da Ressacada, em Itajaí. Segundo ele, novas construções, independente do tamanho, influenciam no escoamento da água da chuva.
– A impermeabilização exige uma resposta mais rápida, que talvez não venha a ocorrer porque os rios não tenham condição de escoar a água da chuva.
Na Praia Brava, que também sofreu com alagamentos, o problema é diferente, segundo ele:
– Ali há mais dificuldade de escoamento, trechos que estão tubulados. O que se deveria fazer são melhorias como ampliação das margens, aumento da profundidade e dragagens.
Continua depois da publicidade
Educação
A característica geográfica da região costeira facilita a ocorrência de alagamentos. Áreas baixas, que sofrem influência das marés, dificultam o escoamento da água da chuva. Para evitar prejuízos, especialistas dizem que é essencial a conscientização da comunidade.
– Com lixo nas ruas e bueiros entupidos, a água não escoa – diz o geólogo Sérgio Freitas Borges.
Cuidados com os projetos de construção civil também são importantes, lembra o engenheiro Luís Fernando Pedroso Sales.
Continua depois da publicidade
– É preciso promover projetos sustentáveis, que retenham água da chuva, diminuindo a carga no sistema de drenagem. É uma questão de cidadania.
Planejamento
O geógrafo Marcus Polette explica que o planejamento urbano nas cidades do Litoral, que têm experimentado crescimento econômico e populacional nos últimos anos, deve ser feito a longo prazo e com respaldo técnico.
– É preciso rever a questão estrutural, inclusive o funcionamento de secretarias. Muitas vezes, falta controle em áreas mais frágeis, em que não poderia haver uma ocupação maior.
Continua depois da publicidade
Além do planejamento urbano, sistemas de drenagem bem projetados e consistentes são apontados pelo especialista como essenciais para evitar alagamentos e enchentes, como a que atingiu Balneário Piçarras.