Falar de educação sexual na escola e aderir a estratégias mundiais de combate à aids. Na opinião de especialistas, esses são os dois principais pontos que precisam ser levados em conta para Blumenau frear o aumento do número de casos de HIV na cidade. Com uma média de dois novos casos registrados por dia útil até agosto deste ano, o município tem um índice de infecção 22,9% maior em 2017 comparado ao ano passado – foram 295 testes positivos até o último levantamento do Centro Especializado em Diagnóstico, Assistência e Prevenção (Cedap), feito três meses atrás. Esse aumento proporcional é comparável a países como Moçambique, África do Sul e Namíbia na década de 1990, expoentes de uma África que virou quase sinônimo da doença duas décadas atrás, o que gera o alerta.
Continua depois da publicidade
A meta da Unaids – órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) que lida diretamente com o vírus – é, até 2020, fazer com que 90% de todas as pessoas que têm HIV saibam disso. Dessas, outras 90% com infecção recebam a medicação regularmente e, a partir daí, fazer com que 90% tenham a chamada supressão viral – o controle do vírus na prática. Conforme o médico infectologista Amaury Mielle, essa estratégia chamada de 90-90-90 precisa ser aplicada em Blumenau para, pelo menos localmente, amenizar o número de novos casos em um curto espaço de tempo.
– Assim você quebra a transmissibilidade e praticamente zera novas infecções – argumenta Mielle.
Excetuando questões estratégicas a curto prazo, outra missão que precisa ser colocada em prática com mais intensidade é falar sobre educação sexual nas escolas. O infectologista Ricardo Freitas diz que para conter o crescimento de novos casos de HIV é preciso quebrar o tabu e focar na faixa etária que tem se infectado mais: adolescentes e adultos jovens. Freitas acredita que a adoção de um discurso mais incisivo com essas pessoas é que o gráfico ascendente poderá ser freado.
– A medida correta é nós, profissionais de saúde, falarmos sem medo que a aids existe, que ela mata, que ela não tem cura, nem vacina e que atinge principalmente a moral das pessoas. É muito ruim ter que conviver com o HIV, tomar remédio todo dia e viver com as consequências. Parece que as pessoas ainda não se tocaram disso – opina o médico.
Continua depois da publicidade
Segundo Mielle, a questão é comportamental e não se pode ter receio de falar sobre isso nas unidades de ensino. Quebrar o que ele chama de “relações descartáveis” é algo a longo prazo que precisa ser trabalhado:
– Não adianta ter conhecimento que não mude comportamento. Orientação existe, há preservativo de graça, mas as pessoas não se previnem. Só vamos quebrar tabus falando como as pessoas estão se comportando hoje em dia. É uma geração que só quer ficar por ficar, estar com seus celulares em mãos, e isso gera relações descartáveis, que não implicam em responsabilidades.
– A escola precisa não só falar de educação sexual. Tem que complementar isso falando de respeito, moral, ética. Temos que tirar os adolescentes de hoje em dia da cultura do descartável – finaliza o infectologista Amaury Mielle.
Município projeta ações para 2018
Dados da Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina (Dive-SC) mostram que o número de novas infecções pelo vírus HIV no Estado entre adultos jovens cresceu 43% nos últimos três anos. Pessoas entre 20 e 34 anos correspondem a mais da metade (1.080) de todos os 1.974 casos descobertos no ano passado, o que gera ainda mais preocupação e motiva ações alternativas que a Secretaria de Promoção da Saúde de Blumenau tomará em 2018 para não contribuir ainda mais com esse gráfico.
Continua depois da publicidade
Além de palestras, distribuição de preservativos, participação em eventos de grande movimentação de público – Oktoberfest, Sommerfest, Festitália, por exemplo – o Centro Especializado em Diagnóstico, Assistência e Prevenção (Cedap) também projeta para o ano que vem manter ações mais específicas no combate ao HIV.
Conforme a coordenadora do Cedap, Shirley de Freitas Stringari, alguns trabalhos serão feitos com aquelas pessoas consideradas expostas ao vírus (casas noturnas, por exemplo), e aumentar os atendimentos em grupos cujas pessoas têm mais potencial de contrair o HIV.