Um projeto da década de 1970 foi executado em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, a fim de barrar possíveis inundações na cidade, como aquela registrada em 1941. Segundo especialistas, uma série de fatores teriam contribuído para o não funcionamento do projeto e, consequentemente, as enchentes que atingem o município gaúcho. As informações são da DW, com reprodução do g1.
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A arquiteta Lígia Bergamaschi Botta, que passou a integrar a secretaria de planejamento urbano no fim da década de 1960, explica que estavam sendo projetadas uma série de obras para formar um anel ao redor da parte mais urbanizada da região que, também, tinha perspectiva de expansão.
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Entre os investimentos estava a construção de 68 quilômetros de diques para impedir o avanço das águas dos rios Jacuí e Guaíba. Depois, avenidas e estradas foram construídas sobre o local.
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Para fechar o anel, também foi construído na avenida Mauá um muro de concreto, com cerca de dois metros de extensão, que serviria para suportar a força da água trazida por uma cheia. Além disso, a estrutura tinha portões para permitir a passagem na avenida, portas que seriam fechadas e lacradas com chapas de metal em caso de inundações. Por fim, o projeto também previa a instalação de 20 bombas para “jogar para fora” água e esgoto que pudessem entrar em excesso.
— As falhas se deram nos pontos de abertura do muro. A água passou por cima em alguns pontos. As comportas não foram bem vedadas. E no momento crucial não teve energia elétrica para bombear água de dentro para fora do sistema. Foi um descuido de décadas — analisa Walter Collischonn, professor de engenharia ambiental e engenharia hídrica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Botta indica a falta de conservação do sistema, com comportas que já estavam bastante abauladas e com falta de parafusos. Em consequência, segundo ela, um dos portões veio abaixo com a força da água.
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Entretanto, a especialista comenta que, sem o muro na avenida Mauá, o estrago teria sido ainda mais intenso. Isso porque Porto Alegre registrou uma campanha para que a estrutura fosse derrubada. Inclusive, informações do DW ao g1 indicam que até mesmo o atual prefeito da cidade, Sebastião Melo, teria alegado que o muro atrapalhava a vista do Guaíba.
— Era um bombardeamento de grupos interessados em derrubar. Se ele fosse destruído, todo o sistema seria anulado — menciona Botta.
De acordo com Collischonn, em outras regiões atingidas pelas chuvas no estado não há sistema de proteção, ao contrário de Porto Alegre.
— Mas na área da região metropolitana de Porto Alegre, o nível não sobe tão rápido assim. Então dá tempo para se preparar — destaca.
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Botta também explica que existem outros mecanismos para barrar as inundações, mas que projetos como o executado em Porto Alegre também funciona bem em outros países como a Holanda.
Especialistas ouvidos pela DW, conforme matéria do g1, indicam que o trabalho a ser feito daqui para frente deve ocorrer em conjunto com outras demandas de crescimento das cidades, reavaliação das estruturas já existentes e ocupação de áreas proibidas.
— Tem que se reavaliar as estruturas que existem, entender se elas estão dimensionadas de maneira apropriada considerando as mudanças climáticas e os regimes de cheia já observados — indica o pesquisador do laboratório de hidrologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Pedro Chafre.
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