Os debates partidários têm consumido postagens, comentários e tweets. As redes sociais se transformaram em um campo de batalha e, muito mais que militantes digitais, os usuários enxergam aqueles com opiniões contrárias como verdadeiros inimigos. Para especialistas é fundamental encontrar o equilíbrio e, acima de tudo, não esquecer de um velho ensinamento: respeitar as diferenças.

Continua depois da publicidade

::: Leia mais

>> DC terá site especial para apuração em tempo real no segundo turno

>> Outras notícias sobre Política

Na avaliação de Jamil Marques, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e um dos organizadores do livro Do Clique à Urna: Internet, Redes Sociais e Eleições no Brasil, o contexto chega a ser paradoxal. Se por um lado há um acesso mais fácil e conveniente a uma série de informações e dados, por outro lado os usuários passam a evitar quem discorda da opinião política deles.

Continua depois da publicidade

– As relações eram diferentes quando as divergências não estavam tão expostas – avalia.

Ele acrescenta que o debate que ocorre nas redes sociais não significa necessariamente que os usuários estão dispostos a mudar de opinião sobre os candidatos.

Paulo Lopes, psicólogo do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP, ressalta que as discussões são intensificadas e ganham muitas vezes contornos mais agressivos porque é mais fácil colocar uma opinião com um clique na internet do que em um debate cara a cara. Além disso, com a polarização de opiniões em torno de dois candidatos, as pessoas se identificam com um dos grupos.

– O ser humano quando está em grupo pode ficar mais hostil a grupos que se opõem diretamente a ele e muita gente transforma o debate político numa questão pessoal – analisa.

Flávio Ramos, doutor em Sociologia e professor da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), avalia que essas discussões nem sempre são consistentes ou contribuem para o debate democrático, pois há muita intolerância e até mesmo preconceito.

Continua depois da publicidade

Além disso, segundo o professor universitário, muitas vezes não é um debate qualificado, pois é pautado principalmente pelo senso comum.

Gil Giardelli, professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e autor do livro Você é o que você compartilha, vai além e reforça algo que parece esquecido em meio a tantos comentários e postagens: as eleições vão passar, mas as amizades precisam continuar.

Para ele, as pessoas muito mais do que fazer uma webcidadania ou militância digital, estão tentando convencer quem já está decidido e pautam as discussões pela paixão:

– É bom este momento que o Brasil está voltando a falar de política, mas tem que ter um pouco de bom senso em relação aos limites – aconselha.

Continua depois da publicidade

::: Etiqueta virtual

10 dicas de especialistas para evitar aborrecimentos nas redes sociais:

_ Tenha em mente que a web amplifica as mensagens

_ A palavra escrita tem um peso maior do que a falada

_ Avalie o que está escrevendo. Respire antes de pressionar a tecla enter

_ Respeite o próximo. Não poste mensagens na timeline do amigo

_ Tenha maturidade para receber contrapontos e respostas divergentes

_ Não tente mudar a opinião dos outros. A timeline não é o espaço para catequizar ninguém

_ Lembre-se que as amizades vão além das opiniões. O mundo seria chato se todos fossem iguais

_ Não propague mentiras

_ Não inicie discussões de ódio

_ Varie os assuntos dos posts

::: Pâmela analisa qualidade de texto e horário antes de postar

Na página do Facebook de Pamela da Fonseca Pereira, de 30 anos, a foto de perfil deu lugar a uma imagem de Dilma. A foto de capa foi substituída por uma da candidata acompanhada do cantor Chico Buarque. A publicitária e consultora do Sebrae posta pelo menos quatro conteúdos diariamente relacionados à politica. Ela se considera uma ativista das redes sociais e afirma que o debate na internet está mais aberto e intenso que nas eleições anteriores.

Pamela analisa o horário antes de divulgar os conteúdos – posta no Facebook em horário comercial e no Instagram, à noite – e preza pela qualidade do texto e das fotos, pois acredita que muitos decidem os votos pelas redes sociais.

– Muitos discursos são pautados em ofensas pessoais e já fui chamada de terrorista e fascista. Nas eleições passadas, as pessoas ficavam mais receosas em expor seus candidatos tão abertamente.

A publicitária debate ainda em grupos de WhatsApp e, apesar de selecionar o momento, também discute pessoalmente. Mas admite que prefere as redes sociais para evitar desgaste. Ela admite que “fica um pouco chata” em período eleitoral e alguns amigos evitam convidá-la para sair.

Continua depois da publicidade

Post no perfil de Pamela

::: Jefferson prefere compartilhar conteúdos a fazer comentários

Desde o dia das eleições do primeiro turno até as 15h do dia 15 de outubro, Jefferson Santarém publicou 30 conteúdos no seu perfil do Facebook, sendo 24 relacionados ao apoio ao candidato Aécio Neves (PSDB). O servidor público e advogado tem 31 anos e mora em Itajaí. Ele afirma que o objetivo é compartilhar informações que considera válidas. Santarém vê uma diferença básica nestas eleições: o maior envolvimento das pessoas. Mas ressalta que falta conhecimento.

– As pessoas estão se sentindo parte de um processo, estão politicamente ativas e sentem que são importantes ao postar as opiniões nas redes. Isso é válido, mas ainda é superficial – avalia.

Ele conta que no começo chegava a argumentar e debater em meio a comentários e postagens. Agora, opta apenas por compartilhar conteúdos. Também prioriza as discussões virtuais para evitar o clima de desconforto.

– Não vale a pena (debater pessoalmente), porque irá causar inimizades.

Diante de discussões mais acaloradas de amigos, chegou a apagar quatro compartilhamentos seus. Nunca excluiu amigo, mas garante que não faltou vontade.

Continua depois da publicidade

Post no perfil de Jefferson