Anexo D – Como explicar o pânico de alguns homens quando descobrem que serão pais pela primeira vez?
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Rubens Maciel – Esse pânico pode surgir por causa da ideia do compromisso que a paternidade remete. Agora, ele é responsável por um ser que será dependente dele por muitos anos. Além disso, o casamento se torna um vínculo que não pode ser mais quebrado com tanta facilidade.
Anexo D – Esse sentimento também pode ter ligação com o medo de repetirmos erros cometidos por nossos pais?
Rubens – O medo seria em relação à educação dos filhos, se podemos ser diferentes do que foram nossos pais, no caso de pessoas que tiveram pais austeros, distantes. Há preocupação sobre a relação com a esposa também, questionam se conseguirão manter o casamento com uma relação boa.
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Anexo D – Como lidar com esses sentimentos? É importante compartilhar tudo com a companheira?
Rubens – É muito importante conversar sobre as inseguranças com a companheira. O pânico nada mais é do que o medo de não ter capacidade de enfrentar certas situações. O pai pode superdimensionar a responsabilidade e, por isso, a conversa é um ótimo caminho. O que acontece é que os pais têm pouco apoio. As mulheres conversam mais, têm grupos, se abrem com as amigas, os homens não. Eles têm acesso a informações, mas grupos de apoio para pais são muito raros, não tem muita literatura disponível para discutir as aflições que os homens sentem.
Anexo D – E qual é a função da figura paterna?
Rubens – Nas últimas décadas, houve um apagamento das diferenças sexuais. O papel do homem e da mulher são semelhantes, a mulher trabalha fora e o homem tem sido solicitado para essa participação, tanto por causa da questão econômica, porque a mulher precisa trabalhar, como também por causa dos esclarecimentos da psicologia, que afirmam que a presença do pai tem uma influência grande e isso não se cogitava antes.
Anexo D – Como a participação do pai influencia no desenvolvimento da criança?
Rubens – A questão é que a presença de um pai afetivo, participativo é muito mais saudável para o filho. Emocionalmente, essa criança terá mais figuras para se identificar, receberá afeto de um número maior de pessoas, terá uma visão de mundo diferente por ter mais referências, poder comparar e fazer suas escolhas baseada em vários exemplos, atitudes e visões de mundo.
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Anexo D – O que mudou na relação entre pai e filho atualmente?
Rubens – Existe essa aprovação social, essa expectativa social de que seja assim. Hoje em dia, o homem pode se aproximar muito mais de seus aspectos femininos do que no passado. O homem pode chorar, pode demonstrar afeto, cuidar de criança. Há 30, 40 anos, isso era malvisto.
Anexo D – Quando o bebê nasce, ele depende diretamente da mãe. Como o pai pode não se sentir coadjuvante nesse momento?
Rubens – Alimento não é só o leite, existe o alimento afetivo também. Uma criança deixada de lado, sem atenção, sem brincadeira, que não percebe a atenção dos pais, sente-se como se não fosse bem-vinda neste mundo. Por outro lado, criança cujos pais brincam com ela, que demonstram afeto, estabelecem segurança interna que vai durar para o resto da vida. Elas levarão isso para a vida adulta com base na infância. Então, o pai pode dar o alimento afetivo.
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Anexo D – Que dicas o senhor dá para o pais que desejam participar ativamente dos primeiros meses de vida do bebê e criar um vínculo com a criança?
Rubens – Brincar com o bebê; trocar a fralda; ajudar a dar banho; colocar para dormir; dar mamadeira; apoiar a mãe emocionalmente.