Bruno Lenzi é psicólogo e coordenador da Associação Instituto Movimento (Assim), ONG de Florianópolis que oferece atendimento psicológico gratuito para cerca de duas mil pessoas no tratamento de diferentes conflitos. Ele escreveu um artigo sobre a importância do homem cuidar da saúde para o diagnóstico precoce do câncer de próstata. Confira o artigo na íntegra:
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Está na nossa cultura. Homem que é homem não pode chorar, não pode ser sensível, tem que ser duro e racional. Homem que é homem garante ainda o sustento da família e é um profissional de sucesso.
Vítimas do patriarcado e ainda criados pela ótica machista, muitos homens são reféns desse discurso arcaico e que os impede de cuidar de si mesmos e da própria saúde. Não é por mal, mas muitos de nós simplesmente acreditam que não podem demonstrar sentimentos e devem ocultar suas fragilidades, sem ter qualquer autocuidado. O problema é ainda pior quando surge a fantasia de que se é indestrutível e que nunca se vai adoecer. O que muitos não falam é que sim, sentem o medo de descobrir que estão doentes.
Quando o assunto é o câncer de próstata, há ainda a questão da sexualidade. O homem, aquele criado pelo machismo, foi educado para ser uma potência sexualmente intimidadora. E para esse mesmo homem, o exame do toque pode destituí-lo de sua masculinidade, quase como uma castração.
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Está mais do que na hora de desconstruir esses paradigmas. A prevenção ainda é o maior aliado da saúde. E o diagnóstico precoce aumenta as possibilidades de cura.
O primeiro passo para mudar essa realidade é quebrar essas resistências. O homem tem de se libertar das correntes que estão presas nos tornozelos há tanto tempo que muitos acabam esquecendo que estão lá. Como mudar o hábito de uma vida? Restabelecendo o contato com seus próprios sentimentos, vivendo os momentos de carinho com os filhos, conversando sobre suas dificuldades diárias com aqueles com quem escolheu conviver. A sexualidade tem que ser entendida como um encontro íntimo, um espaço de troca afetiva entre pessoas que se preocupam com o prazer um do outro.
Nós homens não precisamos ser racionais, agressivos, nem distantes de qualquer afeto. O homem sente, tem emoções, tem que se aproximar de relações de afeto e de carinho para experimentar uma força diferente da patriarcal: é a força dos relacionamentos. Quando o homem conseguir vivenciar essa intimidade, vai querer cuidar melhor de si mesmo, até porque vai querer viver melhor e com mais qualidade de vida. E é nesse momento que o homem escolhe cuidar da sua saúde e passa a enfrentar os exames, que não são mais vistos como uma ameaça e sim como a possibilidade de um projeto de vida.
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Homem que é homem pode amar. E, por mais absurdo que pareça, homem que é homem pode amar a si mesmo.