O doutor em Engenharia de Produção Alexandre de Avila Leripio explica o que realmente é lixo. Professor dos cursos de mestrado da Universidade do Vale do Itajaí, o especialista em gerenciamento de resíduos opina sobre lixo e reforça a importância da coleta seletiva. Confira:
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Santa: O que é lixo?
Alexandre de Avila Leripio: A palavra lixo é comumente utilizada para se referir aos materiais decorrentes das nossas rotinas diárias e que não apresentam mais utilidade. Porém, em termos técnicos o lixo se refere aos rejeitos, que segundo a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) consiste em resíduos que depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada.
Santa: Então o que é reciclável não pode ser considerado lixo?
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Leripio: Neste caso, os resíduos recicláveis não são considerados rejeitos, ou seja, lixo. Estes devem ser encaminhados para os centros de triagem e posterior reciclagem em indústrias especializadas e licenciadas. Considerando os resíduos domésticos, os rejeitos em sua maioria se caracterizam por papéis higiênicos pós-uso e resíduos orgânicos, os quais também poderiam ser objeto de tratamento via compostagem, por exemplo. Dos resíduos domésticos gerados em média nas cidades brasileiras apenas cerca de 20% se constitui de fato lixo.
Santa: Como fazer para reduzir o que é jogado no aterro e aumentar o que é aproveitado?
Leripio: A coleta seletiva é o programa mais adequado para alcançar a separação dos resíduos sólidos dos rejeitos na fonte de geração. Contudo, deve estar diretamente atrelado a uma campanha de sensibilização dos cidadãos-consumidores, pois este é o principal elo da cadeia para que a reciclagem dos resíduos sólidos não seja inviabilizada pelo contato com os resíduos orgânicos. Mecanismos como a responsabilidade compartilhada, como os instituídos pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, estabelecem que os cidadãos-consumidores devem efetuar a devolução após o uso para comerciantes ou distribuidores de produtos e embalagens que são alvo da logística reversa, por exemplo. Assim, a responsabilidade dos cidadãos-consumidores deve ser reiterada em todo o processo da coleta seletiva, garantindo que estes compreendam o prejuízo que podem causar a uma cadeia de minimização de impactos ambientais em função da simples mistura dos resíduos nas residências.
Santa: O que falta para uma gestão eficiente do que jogamos fora?
Leripio: A sensibilização dos elos da cadeia da coleta seletiva é fundamental para garantir o sucesso do projeto. No entanto, existem alguns fatores que devem ser levados em consideração. Inicialmente, o programa de coleta seletiva deve ser implantado, garantindo a disponibilidade de centros de triagem e posterior encaminhamento dos resíduos para empresas que realizam a reciclagem dos mesmos. Para isso, devem ser analisados fatores como caráter público ou privado, distância destas instalações, bem como mão de obra treinada. Além disso, mecanismos de controle social devem ser previstos para prover à sociedade informações e participação nos processos de formulação, implementação e avaliação das políticas públicas relacionadas aos resíduos sólidos, conforme preconiza a PNRS.
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Santa: E qual o papel dos catadores de resíduos neste processo?
Leripio: Além dos fatores mencionados, a valorização dos catadores é imprescindível para alcançar maiores índices de coleta seletiva. Em um programa ideal de coleta seletiva deve haver a integração dos catadores de materiais recicláveis em todo o processo, sendo que o poder público deve incentivar à criação e o desenvolvimento de cooperativas ou de outras formas de associação para os mesmos.