O coronel aposentado do Exército e especialista em segurança, Eugênio Moretzsohn, afirmou em entrevista ao DC que a Polícia Militar pode ter recebido ordens do governo do Estado para ser tolerante com os manifestantes que fecharam por cinco horas as pontes em Florianópolis, na quinta-feira.

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Segundo ele, a demora para abrir as pontes não pode ser usada para desmerecer o trabalho dos policiais militares. Leia a entrevista concedida por e-mail nesta sexta-feira:

Diário Catarinense – Por que a polícia não está agindo, ou demorando para agir sobre vândalos (que destruíram em Brasília e Rio, por exemplo) e nem sobre bandidos que saquearam lojas em Porto Alegre quinta-feira?

Eugênio Moretzsohn – Na minha opinião, a grande repercussão das ações violentas da PM paulista foi determinante para o low-profile adotado agora. Os governadores perceberam que poderia ser uma armadilha política: a PM (estadual) se desgasta num confronto cuja origem é a insatisfação com o valor dos passes (gestão da esfera municipal). Por isso, a ordem foi: “só usar de força em último caso”. Evidentemente, os vândalos precisam ser contidos, mas, é muito difícil fazer isso na prática, pois eles atacam e se dispersam. A única forma eficaz de combater esses ataques de guerrilha é infiltrando agentes caracterizados como eles (máscaras, carecas, tatuagens e atitudes), para ficar por perto, se comportando como eles, enquanto os atos de vandalismo ocorrem. Após a inevitável dispersão, acompanhar discretamente esses bandidos até um momento propício para sua captura, a qual pode ser feita por patrulhas motorizadas acionadas pelo celular.

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DC – O que a população está vendo, e viu quinta-feira em Florianópolis, é que a polícia demorou para retirar baderneiros que insistiam em trancar as pontes. Esse procedimento foi o correto, o mais apropriado ou ela deveria ter intervindo logo para favorecer ao coletivo?

Moretzsohn – Eu sou da opinião que a polícia tem de proteger e servir à maioria. E a maioria era ordeira e pacífica. Portanto, seria moralmente permitido usar de força, proporcional e moderada, para retirar os resistentes. Entretanto, não podemos nos esquecer que o comando da corporação pode ter recebido ordens do governo do estado para ser tolerante até o final. O trabalho da PM foi excelente. Os soldados foram muito elogiados. Aquele policial ferido no rosto foi agredido covardemente. Espero que seja possível chegar até o agressor.

DC – A sensação é que a polícia está acuada ou realmente esse tipo de procedimento está de acordo?

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Moretzsohn – Claro que, quando vemos na TV a PM usar de força, achamos que sempre é demasiada. E quando a vemos tolerar mais que o normal, passamos a achar que fizeram corpo mole. Embora me solidarize com quem estava há 5 horas esperando, sofrendo toda a sorte de angústias e privações físicas, mas, vamos pensar no HOJE: qual seria a repercussão se a tropa tivesse usado de força contra aqueles resistentes?

DC – Demorando para agir e permitindo o fechamento das pontes não está abrindo precedentes na Ilha para outras ações de movimentos?

Moretzsohn – O coronel Nazareno (Marcineiro, comandante-geral da PM) respondeu a essa pergunta ontem (quinta-feira) pela TVCOM. Ele foi feliz em tipificar esse movimento como um movimento especial, diferente das manifestações classistas e outras. Para cada caso, uma solução. Essa foi adequada, apesar da demora na liberação. A demora não pode ser usada para desmerecer o trabalho pacificador e tranquilizador da PM. Demorou, sim, mas terminou bem.

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