Um time de especialistas está debruçado para revelar os segredos de uma das ameaças virtuais mais complexas já descobertas. Mas os mistérios do Flame, apelido do programa espião que infectou dezenas de máquinas no Oriente Médio e agiu sem ser detectado nos últimos dois anos, ainda estão longe de serem esclarecidos.

Continua depois da publicidade

Em entrevista a Zero Hora, Vitaly Kamluk, chefe da equipe da Kaspersky Lab responsável por identificar a praga virtual, explica que o vírus é tão complexo que suas funções podem levar anos para ser conhecidas. E os autores podem permanecer anônimos para sempre.

Zero Hora – Qual é o poder do Flame?

Vitaly Kamluk – O Flame é único na forma como rouba informação. Ele grava áudio, se existe um microfone ligado ao computador, faz reproduções da tela e exibe imagens. O malware pode roubar informação da caixa de entrada. Quando o Bluetooth está disponível, ele coleta informação sobre outros dispositivos perto da máquina infectada. O programa é muito avançado e muito grande. No entanto, o Flame divide características de outras ciberarmas notórias: a geografia dos ataques e o cuidado sobre quem atacar colocam essa ameaça no campo das superarmas atualmente lançadas no Oriente Médio por desconhecidos.

ZH – Por que a suspeita de que esse vírus tenha sido criado por um governo?

Continua depois da publicidade

Kamluk – Atualmente, há três tipos de desenvolvedores de malware e spyware: hackativistas, cibercriminosos e governos. O Flame não foi desenvolvido para roubar dinheiro de contas bancárias. Também é diferente das ferramentas usadas por hackativistas. Então, excluindo esses dois grupos, chegamos à conclusão de que o vírus deve ter sido desenvolvido pelo terceiro. Além disso, a localização dos alvos e a complexidade da ameaça não deixam dúvida de que o malware foi patrocinado por um país.

ZH – Que tipo de perigo as armas virtuais representam para o mundo real?

Kamluk – Armas virtuais podem ser consideradas ameaças sérias à segurança nacional. São um sinal de que a humanidade entrou em uma nova era: a da ciberguerra, ou seja, a sabotagem e espionagem com ferramentas digitais por motivos políticos. Considerando nossa dependência universal em tecnologia, o mau funcionamento de infraestrutura de TI pode resultar em caos em nível local, regional ou até mesmo global, causando dano significativo à economia e à segurança da população. Armas virtuais podem desencadear guerras convencionais, já que muitos países proclamaram que ciberataques podem ser vistos como atos de guerra e podem retaliar com armas convencionais.

ZH – O usuário comum de internet deve ficar preocupado?

Kamluk – Todos deveriam se preocupar. Atacar uma pessoa comum pode ser uma maneira fácil de atingir um alvo mais importante que essa pessoa pode conhecer.