Festas, aglomerações e circulação desnecessária de pessoas são registradas cotidianamente no Brasil e em Santa Catarina durante a pandemia de coronavírus. O relaxamento, perceptível nas ruas, aparece em números nos dados do índice de isolamento. Doutor em psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina e coordenador do Núcleo de Análise do Comportamento, o professor Hélder Gusso analisa os motivos que levam a este movimento.
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— Estamos vivendo um processo conhecido na psicologia como paradoxo da esquiva. Comportamentos de prevenção nos mantém longe de um determinado problema. Quando fazemos o que é certo, a coisa que é ruim não acontece. E conforme continuamos fazendo o certo, vamos criando uma falsa sensação de segurança, como se aquilo que é problema simplesmente não existisse. Isso acontece especialmente quando nosso meio social passa por narrativas de que o problema não é tão grave — explica o professor do Departamento de Psicologia da UFSC.
Ouça a entrevista com o professor Hélder Gusso:
Enquanto não há uma vacina para prevenir as pessoas da doença Covid-19, a recomendação da comunidade científica é o distanciamento social como forma de evitar o contágio com o coronavírus. Referências da população, como o presidente Jair Bolsonaro, se comportam de maneira contrária ao recomendado, participando de aglomerações. Isso se reflete na população, conforme o professor Hélder Gusso.
— Tem sido um desserviço muito grande quando alguns governantes e pessoas influentes incentivam a população a circular, caminhando na contramão do conhecimento científico existente. Se quisermos fortalecer os comportamentos preventivos, precisamos valorizá-los. As pessoas que têm grande influência social precisam incentivar e valorizar quem se comporta de maneira segura, que nas atuais circunstâncias, é um ato de amor — comenta.
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No universo brasileiro de 200 milhões de habitantes, o número de infectados com o coronavírus, 241.080 pessoas, representa apenas 0,1% da população. O pico do contágio da doença, no entanto, ainda não chegou ao país, que está em fase inicial da pandemia. A percepção de que o vírus está distante é outro fator reputado pelo professor Hélder Gusso como um dos geradores de comportamentos inseguros.
— Aquela máxima do “só acredito vendo”, do sentir na pele, é uma coisa muito presente no discurso cotidiano. Isso aumenta o risco da população, que talvez precise chegar em uma situação muito grave, com indicadores desastrosos, para se mobilizar. Estamos subindo uma escala que talvez em alguns meses as pessoas se deem conta da situação trágica e calamitosa que estamos beirando — avalia Gusso.
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