Um ponto em comum une praticamente todas as ações anunciadas pela prefeitura de Florianópolis nesta segunda-feira no novo pacote de obras de mobilidade para a cidade: a priorização do transporte coletivo. Mesmo em intervenções pequenas no trânsito da Capital, em gargalos identificados pela prefeitura, algum detalhe no projeto envolve uma facilitação para a mobilidade dos ônibus em relação aos carros. O caminho, seguido pela maioria das grandes e médias cidades do Brasil e do mundo, busca um cálculo simples: mais pessoas usando o transporte coletivo e menos carros nas ruas.

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Para o coordenador do Observatório da Mobilidade Urbana da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Bernardo Meyer, é somente com priorização e com transporte público mais rápido e eficiente que a cidade conseguirá reduzir o índice de moradores que usam o carro nos deslocamentos diários. Para isso, o professor defende a criação de mais corredores exclusivos de ônibus em Florianópolis, algo que não é barato e, por isso, ainda não aparece com força nas obras que devem impactar a Capital nos próximos meses.

— Transporte mais rápido, que não disputa espaço com o veículo individual, é o caminho e é o que defendemos. A prefeitura está alinhada com esse pensamento, mas é claro que esse anúncio ainda não teve a dimensão que a gente desejava, devido especialmente à capacidade pequena de investimento da prefeitura. Para pensar em mais corredores exclusivos precisaria de financiamentos, parcerias com o governo do Estado e federal — destaca Meyer.

De imediato, o projeto anunciado nesta segunda-feira traz dois corredores exclusivos: na Ponte Hercílio Luz — quando inaugurada — e na Rua Deputado Antônio Edu Vieira — quando a duplicação ficar pronta. Somente na Edu Vieira, no trecho da UFSC, o professor Meyer destaca que os estudos apontam um ganho de velocidade em até 20 minutos para os ônibus no horário de pico com o corredor pronto.

Para caber nos cofres públicos, entraram no projeto atual pequenas ações que o secretário de Mobilidade, Michel Mittmann, chamou de "microcorredores": pontos em gargalos do trânsito em que as mudanças farão o ônibus ter um caminho prioritário para "largar na frente" dos outros veículos. São exemplos o acesso ao bairro Santa Mônica, perto do Terminal da Trindade ou no elevado do Rio Tavares.

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— Essas ações ajudam demais. Esses pequenos paliativos ajudam a vencer pequenos entroncamentos que fazem o transporte coletivo ganhar minutos preciosos — avalia o professor.

Como ação maior, além das atitudes para deixar o transporte mais rápido e eficaz, Meyer aponta que o mais importante é integrar o sistema de transporte público de Florianópolis com o das cidades no entorno, criando um sistema integrado com racionalização das linhas.

Impacto da nova faixa na Admar Gonzaga

Sobre uma das principais obras anunciadas pela prefeitura, a criação de uma nova faixa na SC-404, a Rodovia Admar Gonzaga, no Itacorubi, o professor Bernardo Meyer aponta que a abertura da pista é uma medida paliativa que deve ter um planejamento diferenciado:

Se só abrir a pista e deixar para o uso dos carros, ela vai servir para desafogar o trânsito por um ano, um ano e meio. Sustentável seria uma pista a mais com priorização do transporte coletivo, com ônibus andando mais rápido e, com isso, diminuindo o uso dos carros.

Importância das bicicletas

Outro ponto de destaque do anúncio foi na parte das ciclovias e ciclofaixas, que serão incentivadas pela prefeitura em várias áreas da cidade. Meyer acredita que se trata de algo importante, mas que precisa de conexão com outros pontos para ser eficiente:

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— A gente sabe que dificilmente vai conseguir fazer com que um grande contingente de pessoas use a bicicleta. Seja pela distância, pelos morros, etc. É importante, mas ela isoladamente tem eficácia pequena. Deve ser conectada com outros modais. Um bom cenário é quando a pessoa pode usar a bike para ir de casa até o terminal, onde pega o ônibus para seguir ao destino.

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