De origem humilde, João Schwambach (MDB), era produtor rural, veio da roça. Quem se refere a ele fala que o prefeito de Imbuia, no Alto Vale do Itajaí, era uma pessoa tranquila, conciliadora. Mesmo assim, o emedebista foi vítima de um assassinato na última quarta-feira (8), assim que deixou o prédio do Executivo do município, exatamente às 17h53min. O crime chocou Santa Catarina e traz à tona o debate sobre o ódio à classe política.

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De acordo com a Polícia Civil, o principal suspeito de atirar duas vezes contra Schwambach é conhecido na região. Os investigadores acreditam que a motivação do crime teria sido uma proposta de alargamento de uma rua que dá acesso a uma comunidade no interior de Imbuia. Para que a obra ocorresse, alguns eucaliptos de uma propriedade rural (que pertence ao suposto atirador) teriam de ser removidos, o que pode ter sido o motivo de uma discussão entre ambos na manhã da última quarta-feira, antes do homicídio.

"Democracia anda para trás"

Para o sociólogo político Sérgio Saturnino Januário, o assassinato de Schwambach é reflexo de um momento político em que “a democracia anda para trás”.

O especialista critica o cenário atual em que as pessoas não dialogam e usam constantemente a hostilidade como tom em uma discussão. Januário ainda compara o atentado do então candidato à presidência Jair Bolsonaro, em Juiz de Fora (MG), em setembro de 2018, com o crime cometido no Alto Vale.

– A facada que Jair Bolsonaro levou tem muito a ver com a morte do prefeito de Imbuia. Estamos andando de lado ou até para trás na democracia. O que percebe-se é que as pessoas estão à vontade para xingar quem é contra a opinião delas, sem conversa, só com conflito. Palavras que não eram usadas pouco tempo atrás em debates, agora são. Você chama de “vagabundo” alguém que acredita em um político diferente do seu – analisa o sociólogo político.

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"Tem prefeito com medo de sair de casa"

José Thomé (PSDB), prefeito de Rio do Sul, principal cidade do Alto Vale do Itajaí, se diz assustado com o que aconteceu em Imbuia. Para ele, o assassinato de Schwambach é a consequência de um momento com a classe política “jogada na lata do lixo”. Thomé ainda expõe a preocupação trazida com um caso como este:

– O que fica claro é o clima de ódio, de rancor, principalmente com a classe política. O Brasil viveu momentos de muita corrupção, que vieram atrelados a muita intolerância. Tem gente que acha que “tem que matar todos” (os políticos). Estamos jogados na lata do lixo. Tem prefeito com medo de sair de casa, por estar vulnerável a um maluco como esse, que quer descontar os problemas no líder da comunidade.

"A democracia exige tolerância"

Na avaliação de Sérgio Saturnino Januário, o assassinato de um político, como é o caso de Schwambach, sempre precisa ser tratado de forma diferente pela sociedade.

– Do ponto de vista moral, uma morte como essa tem que ser discutida por conta da questão de vingança, do comportamento do eleitor. A democracia exige tolerância. Você tem que garantir ao seu crítico o direito de ele falar o que quiser. E aí ele terá o direito de ouvir você. Mas tudo com respeito. As pessoas têm que ser suas próprias limitadoras morais – finaliza o sociólogo político.

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Vídeo mostra momento do assassinato

Imagens das câmeras de segurança da prefeitura de Imbuia mostram o momento em que o prefeito João Schwambach foi assassinado, no fim da tarde desta quarta-feira (8). No vídeo, é possível ver o prefeito caminhando em direção a um carro prata.

Ele fica próximo ao veículo por poucos segundos, e em sequência sai correndo. Schwambach levou dois tiros no peito e morreu instantes depois ao lado do prédio do Executivo. O homem que atirou no prefeito deixou o local logo após os disparos.