Após o segundo assalto impactante em menos de seis meses no bairro Itoupava Central, em Blumenau, o analista de segurança Eugênio Moretzsohn afirma que há fragilidade na segurança das empresas em operações que envolvem dinheiro. Ele alega que os dois casos envolveram instituições importantes economicamente e que têm condições de investir para aperfeiçoar os processos de trabalho.
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O especialista alega que essas empresas devem melhorar o processo seletivo, monitorar os sinais exteriores de riqueza dos vigilantes e investir em contrainteligência, já que a maioria dos roubos envolvendo malotes tem origem no vazamento de informações internas. Além disso, recomendou que seja adotado o "Princípio da Necessidade de Conhecer" como método para compartilhamento de informações.
— O funcionário recebe apenas um fragmento da informação, suficiente para fazer parte do trabalho, e não sabe qual será a tarefa do outro. Assim, a informação sensível é fracionada em partes e nenhum envolvido na operação terá acesso a todos os detalhes, dificultando a ocorrência de vazamentos — explica.
Além da falta de investimento pela iniciativa privada, Moretzsohn afirma que a legislação fragiliza a segurança ao limitar a legislação para que o armamento utilizado pelos vigilantes seja de revólveres de 6 tiros em calibre 38. Além disso, cita que há necessidade da criação de uma agência reguladora para a atividade de vigilância patrimonial e que as imagens das câmeras de segurança podem auxiliar na identificação dos criminosos.
Veja a entrevista completa com Eugênio Moretzsohn
Jornal de Santa Catarina: Tivemos nos últimos seis meses dois grandes assaltos na mesma região em Blumenau. Isso representa uma fragilidade na segurança pública?
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Eugênio Moretzsohn: Não vejo como fragilidade na segurança pública, e, sim, na segurança privada. Os dois eventos (carro forte no aeroporto e a agência bancária) envolveram entes privados, economicamente importantes, e que têm condições de investir pesado e melhorar a segurança de seus processos de trabalho. Aliás, a maior parte dos roubos envolvendo malotes tem origem no vazamento de informações internas nas próprias empresas.
O modus operandi neste assalto chama atenção?
Sim. Foi uma operação no estilo dos comandos: ataque agressivo e rápido (felizmente não houve mortos ou feridos), utilização de miguelitos (pregos retorcidos) para dificultar a perseguição e demonstração de força com rajadas para impacto psicológico, mostrando poder de fogo e abundância de munição. Evidentemente, fizeram prévio reconhecimento detalhado e as imagens das câmeras de vigilância da agência podem auxiliar nas investigações, pois certamente alguns bandidos visitaram a agência mais de uma vez nos últimos dias se disfarçando de clientes para conhecerem o ambiente e a rotina. A agência é movimentada todos os dias e será uma busca por uma agulha no palheiro, mas conseguir um rosto suspeito pode ser o início de uma investigação bem-sucedida.
Assalto à agências bancárias era algo mais comum antigamente? Há um motivo disso ter voltado acontecer?
O tráfico é um organismo empresarial que, como tal, não reage bem a prejuízos financeiros; as drogas costumam ser apanhadas com fornecedores "de confiança" no regime de consignação, ou seja, o prejuízo causado pelas apreensões policiais deve ser amortizado de alguma forma — assim, aumentam as explosões de caixas eletrônicos, roubos a bancos e carros-forte sempre que as autoridades realizam bem o trabalho, como, por exemplo, a apreensão de mais de uma tonelada de cocaína no porto de Itajaí há exatamente um mês. É previsível que aconteça dessa forma.
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A segurança feita nesses estabelecimentos não é suficiente?
É frágil por vários motivos, dentre estes, as restrições impostas pela própria legislação que limita até o armamento utilizado pelos vigilantes aos insuficientes revólveres de 6 tiros em calibre 38. Já passou da hora de ser criada uma agência reguladora para a atividade de vigilância patrimonial, retirando da Polícia Federal as atribuições que hoje recaem sobre ela sobre essa atividade. A Polícia Federal, de excelentes serviços ao país, precisa se desembaraçar das atividades de polícia administrativa e se concentrar no que faz de melhor: as investigações.
As empresas de vigilância, por sua vez, precisam de mais investimento em contrainteligência, melhorando seu processo seletivo, monitorando os sinais exteriores de riqueza dos vigilantes, e utilizando a técnica de compartimentação apoiada no "Princípio da Necessidade de Conhecer": o funcionário recebe apenas um fragmento da informação, suficiente para fazer parte do trabalho, e não sabe qual será a tarefa do outro; assim, a informação sensível é fracionada em partes e nenhum envolvido na operação terá acesso a todos os detalhes, dificultando a ocorrência de vazamentos. O cidadão também pode fazer a parte dele, parando de reclamar quando fica retido na porta giratória, equipamento importante para a segurança das pessoas que estão no banco.
As forças de segurança pública precisam dar uma resposta para a sociedade? Esta resposta passa pela prisão dos envolvidos ou também é necessário ações que inibam as ações criminosas?
As forças policiais de SC fazem um trabalho exemplar – eu já residi em todas as regiões brasileiras, exceto na nordeste, por força da carreira no Exército, e asseguro que nossas polícias são excelentes: bons profissionais, éticos, bem selecionados e preparados. O comandante do 10º BMP, tenente-coronel Jefferson Schimidt, é um líder entre seus subordinados e policial nato. Obviamente, ele e seus policiais sofrem silenciosamente com revezes assim e se solidarizam com aquelas pessoas que passaram por momentos de muita angústia. Uma resposta à altura será dada à sociedade no devido tempo, pois a investigação é um trabalho minucioso e técnico e a nossa Polícia Civil sabe o que faz.
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Claro que, como todas as demais instituições, há necessidade de constante investimento e aperfeiçoamento na busca pela excelência – mas, isso tem um preço: custa caro investir em segurança pública e, por essa razão, o trabalho precisa ser feito por toda a sociedade, começando em casa, na família, educando os filhos para que respeitem o professor, os mais velhos, que não colem na prova, não cometam furtos de pequenas coisas, não usem drogas, enfim, criando pessoas de bem, a fim de que a escola possa complementar a educação delas pela formação curricular, entregando cidadãos íntegros e úteis à sociedade. Mas, infelizmente, não é isso que estamos vendo: muitos pais estão se omitindo na tarefa de educar a prole e delegando essa responsabilidade para os professores.
É preciso acender um sinal de alerta para a nossa região?
Blumenau e as demais cidades da região são localidades de muito progresso, trabalho árduo, sério, formada por gente de valor, de cultura germânica que não brinca em serviço. Fruto desse esforço, circula dinheiro e isso atrai as organizações criminosas, especialmente de outros estados enfraquecidos economicamente. E sempre onde circular riquezas, haverá interessados em obtê-la de forma ilícita. A região é visada, sim, como são todas as demais onde há dinheiro; agora, vamos confiar nas autoridades, manter a polícia informada pelo disque-denúncia e dizer não às drogas e à violência, em especial contra a mulher, outro delito que pode ser afastado pela sociedade. E não vamos nos esquecer das vítimas: os clientes, os reféns, os funcionários e os vigilantes do banco passaram por momentos extremos e merecem atenção especializada e acolhimento.