A espanhola Eva Civit Gras, 43 anos, chorava quando foi libertada pela Polícia Federal do cárcere a que era submetida pelo companheiro. O paranaense Pedro Uziel Demachi Filho, 33, chegava a confiná-la por vários dias consecutivos no apartamento onde moravam em Santo Amaro da Imperatriz. O relacionamento do casal já durava cerca de 10 meses no Brasil e a prisão do homem na manhã de ontem pôs fim à série de pressões psicológicas e ameaças que a mulher vinha sofrendo.
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Em depoimento, ela relatou que o relacionamento entre os dois começou há cerca de três anos, em Barcelona, na Espanha. Em janeiro deste ano chegaram ao Brasil. Ela não trabalhava e dependia financeiramente dele. O casal morava no bairro Ingleses, em Florianópolis, quando as ameaças começaram. O homem seria usuário de cocaína e crack e o comportamento dele começou a mudar desde que chegaram na cidade.
Na tentativa de tirá-lo do vício, Eva aceitou o casamento oficial em agosto deste ano. Mas as ameaças continuaram e ela chegou a ficar até sete dias trancafiada no apartamento. Com ameaças, o suspeito restringiu também o contato da mulher com a família dela na Espanha, dizendo por várias vezes que a colocaria no “forno micro-ondas” – expressão usada para dizer que a pessoa será queimada viva.
De posse da senha do e-mail da mulher ele mesmo respondia as mensagens aos familiares espanhóis. Desconfiada, a família chegou a comprar a passagem Brasil-Espanha para Eva, que foi impedida de sair de casa. Já certa que algo estava errado, a irmã contatou a Interpol, em Brasília. A investigação começou e, num primeiro contato, Eva respondeu por telefone que tudo estava bem por pressão do companheiro. Logo depois, na primeira oportunidade, fugiu de casa e foi à delegacia de polícia da cidade para enviar um e-mail à PF pedindo ajuda. Após três meses de investigação a Polícia Federal de SC conseguiu localizar e prender o homem.
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– Ele retinha o passaporte e não dava condições econômicas pra ela. Abalada emocionalmente pelas violências psicológicas que sofria, não conseguia fugir – constata o delegado da PF, Clyton Eustáquio Xavier.
Apesar de não conseguirem o flagrante, pois o casal dormia no momento da chegada da PF ao apartamento, o homem foi preso por constrangimento ilegal baseado na Lei Maria da Penha e indiciado por cárcere privado. Com um mandado de prisão em aberto por furto na cidade de Curitiba (PR) em 2009, ele ficará detido e à disposição da Justiça catarinense. Apesar de negar as acusações, o delegado Xavier ressalta que provas, como o depoimento dos familiares da vítima e um próprio e-mail de Eva pedindo socorro já são suficientes para o indiciamento. O caso já foi encaminhado a ao Consulado da Espanha no Brasil e a mulher pretende voltar ao país de origem ainda nesta quinta-feira.