Esta deveria ser a era do escritório móvel (ou não existente), com empreendedores trabalhando de casa ou da praia vestindo roupas informais. Porém, muitos que trabalham de forma independente estão descobrindo a exclusão rondando por trás da fantasia do escritório em casa, e um número crescente está passando a integrar uma nova geração de organizações focadas em espaços de trabalho compartilhados, tais como Grind, Fueled Collective e NeueHouse – algumas são mais exclusivas do que outras. Existem espaços para redatores, designers, blogueiros e empreendedores de tecnologia, incluindo um que também funciona como campus para educação continuada.

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Embora tenham se ouvido queixas quando Marissa Mayer, presidente do Yahoo, aboliu os acordos para os funcionários trabalharem em casa, talvez ela tivesse certa razão. Muitos trabalhadores afirmam necessitarem de uma colmeia para serem felizes e produtivos.

Uma delas é Rebekah Epstein, que tocava uma agência de relações públicas de sua casa em Austin, Texas (EUA), somente com seu dachshund, Dixie, cujo latido uma vez a forçou a entrar num armário escuro enquanto conduzia uma negociação complicada pelo telefone com um cliente.

Frustrada, ela entrou para o espaço local Link Coworking, que oferece drinques no aniversário, festinhas e jantares triviais para os membros, além de colegas a quem se mostrar apresentável.

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– Parece uma coisa à toa, mas se vestir para trabalhar faz uma diferença danada – afirmou Epstein.

Desde que o futurista Alvin Toffler pintou imagens futuristas do “chalé eletrônico” no livro de 1980, A Terceira Onda, profissionais vêm imaginando trocar reuniões de comitê e deslocamentos pavorosos por uma vida de satisfação autodirigida.

A porcentagem de norte-americanos que só trabalha em casa, embora ainda pequena, cresceu 37% entre 1997 e 2010, chegando a 6,6%, segundo pesquisa do censo realizado nos EUA. Existe uma estimativa bastante ampla do número de pessoas que perfazem a Nação Freelance.

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Em 2009, mais de 15 milhões de norte-americanos se identificavam como autônomos, segundo a Divisão de Estatísticas Trabalhistas do país. Porém, parece que o sonho de trabalhar em casa não foi tudo que se imaginava. Agora, existem quase 800 instalações comerciais de trabalho compartilhado nos Estados Unidos, contra pouco mais de 300 dois anos atrás e cerca de 40 em 2008, de acordo com pesquisa anual da Deskmag, revista online voltada a esse setor.

Certamente essas pessoas não sentiam falta das lâmpadas fluorescentes e da politicagem interna. Contudo, Tierney O’Dea Booker, 37, que tocou uma consultoria de mídia de sua casa em Austin antes de entrar para a Link, afirmou que pode existir uma lado positivo nessa última opção.

– O espaço de trabalho é essencialmente um jogo, com pontos, obstáculos, recompensas, armadilhas e aliados. Quando você está sozinha, é preciso criar seu próprio sistema para não perder o pique. É fácil estabelecer o parâmetro no nível errado para si mesma no dia a dia, seja exigindo demais ou muito pouco de si mesma, tentando alcançar uma meta irreal e, em resultado, sentindo-se inadequada.

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Isso não quer dizer que trabalhar em casa tenha sido decepcionante para todos. Uma meta-análise muito citada da Universidade Estadual da Pensilvânia, de 2007, a respeito de 46 estudos sobre trabalho à distância constatou que, no caso de pessoas empregadas por empresas tradicionais, este pode ter “efeitos favoráveis pequenos na autonomia aparente, conflito entre família e trabalho, satisfação e desempenho na função”.

Porém, quem trabalha em casa em “alta intensidade” mais de três dias por semana e freelancers em tempo integral correm o risco de sentirem excluídos, disse Ravi S. Gajendran, um dos autores desse estudo e que agora é professor assistente de administração na Universidade de Illinois.

– A necessidade de se sentir conectado socialmente é uma necessidade humana fundamental.

Uma pesquisa no Google sobre “solidão freelance”, por exemplo, produziu 3,6 milhões de resultados. Para muitos, o “chalé eletrônico” se tornou “a jaula de tigre eletrônica “, afirmou Paul Saffo, previsor de tecnologia do Vale do Silício.

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– Nós passamos pela fase de trabalhar em casa com chinelo de coelhinho e vimos que era solitário -, declarou Saffo.

Não é por nada que alguns espaços de trabalho estão investindo na atmosfera de festa. O Link realiza saraus temáticos baseados no seriado “Mad Men”. No Indy Hall, Filadélfia, aberto seis anos atrás, os membros organizam shows e exposições de arte após o expediente no espaço do mural, tudo de acordo com o dogma quase comunitário adotado por Alex Hillman, um dos fundadores do estabelecimento.

– As pessoas não estão voltando ao escritório por causa do escritório, mas para voltarem a estar cercadas por outras pessoas.

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Com ênfase na diversão, o Fueled Collective, nova área de trabalho de 1.672 metros quadrados em Nova York, parece mais uma república estudantil, com sala de uísque, carrinhos do sorvete grátis e mesas de pingue-pongue.

Entretanto, nenhum espaço de trabalho compartilhado estreou com as mesmas aspirações sociais que o NeueHouse. Com compensado à vista, lustres de ferro fundido e piso de concreto, o interior de 4.645 metros quadrados sugere um cruzamento do Ace Hotel com uma megaboate de Las Vegas.

Os fundadores – Joshua Abram e Alan Murray, ambos empreendedores de tecnologia quarentões veteranos, em conjunto com o sócio Oberon Sinclair – têm em mente profissionais criativos que vivem na estrada, os leitores da revista “Monocle” que consideram estrategicamente crucial que o NeueHouse planeje postos avançados em locais distantes, começando por Los Angeles, Londres e Xangai, e aceitam o custo (US$ 600 mensais para trabalhar na “galeria” principal no térreo; os estúdios particulares nos andares superiores começam em US$ 4 mil). A área de trabalho conta com sala de projeção, estúdio de transmissão e de gravação.

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– Nós temos membros, não inquilinos -, afirmou Abram.

É um escritório projetado para o estilo interativo e repleto de acasos felizes pelas quais os profissionais criativos trabalham hoje em dia, numa suposta economia de ideias onde escritórios de luxo e caixas de entrada parecem relíquias do passado.

– Nós passamos de uma cultura de escritório centrada em tarefas para uma cultura de cafezinho -, disse Murray.

Essa conversa grandiosa pode ajudar a vender afiliações, mas até mesmo esses novos modelos de escritórios um dia começam a parecer um pouco com escritórios comuns, disse Po Bronson, redator que ajudou a fundar o Writers’ Grotto, em São Francisco, 19 anos atrás. Em outras palavras: competição, fofocas, inveja e egos, além de colaboração.

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– É como na escola; você quer estudar com outros estudantes bons, mas não os ajuda na lição de casa. Você se compara com eles. Você não quer ser um perdedor – disse Bronson.