Uma língua preta de esgoto corre em paralelo às casas de Denise, Oscar, Cláudio e José. Em dias de chuva, além de verem a sujeira verter em direção a uma fossa que desemboca no rio da Lagoinha do Norte, que deságua na praia de mesmo nome, no norte da Ilha, cerca de 50 famílias ainda precisam conviver com o mau cheiro que vem do esgoto.

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Eles vivem em ruas transversais à estrada Jornalista Jaime de Arruda Ramos, na Ponta das Canas, a cerca de 400 metros do mar da Lagoinha, e reclamam de uma obra em andamento da Casan, a ampliação do sistema de esgoto da Costa Norte para Lagoinha e Praia Brava, que começou em setembro de 2014 e cuja previsão de conclusão é dezembro deste ano.

— Pararam a obra porque faltavam as bombas, e disseram que em março instalariam e ligariam as caixas para bombear o esgoto. Desde então, abandonaram as caixas e nos deixaram convivendo com o esgoto, que ainda por cima corre para o rio e o mar — afirma o autônomo José Waltrick, 64 anos.

Ele, assim como o argentino Oscar Rodrigues, 55, mora em uma parte mais baixa do terreno, próximo à Associação Atlética Ponta das Canas, e diz que é necessária a instalação de bombas para bombear o resíduo até as estações elevatórias que estão sendo construídas na Ponta das Canas. E de lá, o esgoto seguiria até a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Canasvieiras.

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— Antes de eles começarem a obra, a gente não precisava conviver com essa língua preta de esgoto ao lado das casas e do campinho de futebol onde jogam as crianças — critica Oscar.

Moradores cobram soluções
Moradores cobram soluções (Foto: Leo Munhoz / Agencia RBS)

O que diz a Casan

A Casan, por meio de sua assessoria de imprensa, informa que para a conclusão do sistema total da Lagoinha restam construir quatro estações elevatórias que estão em processo de licitação. A companhia espera terminar as obras até o início da temporada de verão. As elevatórias, explica a Casan, surgiram depois de o projeto estar pronto. “São ajustes ao projeto original, solicitados depois da emissão da licença ambiental emitida pela Fundação do Meio Ambiente (Fatma)”, diz a nota.

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A solicitação para as novas bombas, reservas, veio da própria Fatma. “Foi necessário redimensionar a capacidade das quatro estações elevatórias e incluir a instalação de motobomba reserva em cada uma. Esta alteração exigiu nova licitação”, completa a nota.

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Em relação ao esgoto que vai parar no rio da Lagoinha do Norte, a Casan afirma que “tanto se preocupa com este rio” que o projeto do sistema de esgoto “é justamente para melhorar a qualidade da sua água”.

Pagam contas sem estarem conectados à rede

Mesmo antes da conclusão da obra, moradores da Rua Diácomo Nemesio Coelho reclamam receber a cobrança da taxa de esgoto pela Casan. Ou seja, dizem ser cobrados, na taxa associada à conta de água, valores entre R$ 30 e R$ 80 por um tratamento de esgoto que ainda não existe. Uma das cobranças é endereçada à farmacêutica Denise Rodrigues, 53 anos, que mora em uma rua sem nome da comunidade. Ela cobra explicações da Casan pelo “esgoto a céu aberto” e “pelas cobranças indevidas”.

— Já há alguns anos, a Casan me cobra R$ 35,80 todos os meses pela taxa de esgoto que não existe. Isso é um absurdo, já ligamos lá e nada de parar a cobrança — conta Denise, acompanhada do coro de outros moradores.

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Um deles é o vidraceiro Cláudio Leite de Almeida, 64 anos. Segundo ele, pior que o “cheiro” é a “cobrança” que chega mesmo “sem a obra estar pronta”. A execução está orçada em R$ 4,5 milhões e, segundo a Casan, serão instalados mais de sete quilômetros de rede de esgoto, que beneficiarão mais de 6.800 habitantes.

Depois da reportagem da Hora encaminhar os questionamentos à Casan, funcionários da companhia foram até o local. Nesta quinta-feira, a assessoria informou que foram encontradas três casas na Rua Diácomo Nemesio Coelho (número 36, 46 e 58) que podem ser ressarcidas. “Já foi providenciado o ressarcimento”, diz a nota.

A companhia alega que os proprietários destes três imóveis fizeram a ligação indevida numa rede nova, que ainda não está operante. “E o Sistema de Cobrança da Casan acolheu a ligação à rede como ‘correta’, quando deveria ter acusado que esta ponta de rede só vai operar normalmente no final do ano”, expõe a nota, antes de garantir que a rua inteira tem rede, mas “as três casas estarão ligadas à rede nova e não à rede já existente”.

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Em seguida, a Casan afirma que outras duas casas (73 e 166) não têm caixa de inspeção, mas deveriam ter. “Mesmo estando irregulares estes imóveis não deveriam (não precisariam) estar pagando tarifa e, portanto, solicitamos o ressarcimento”.

Casan critica ligações clandestinas
Casan critica ligações clandestinas (Foto: Leo Munhoz / Agencia RBS)

Irregularidades no bairro

Sobre o vazamento de esgoto e o mau cheiro relatado por moradores, especialmente em dias quentes e com chuva, a Casan entende que a causa dos vazamentos é o grande número de casas que não estão corretamente ligados ao sistema à rede, mesmo argumento utilizado quando dos casos de poluição no rio do Braz, em Canasvieiras, no verão deste ano.

E uma delas, diz a companhia, é a casa da farmacêutica Denise. A Casan aponta que existe caixa de inspeção no imóvel e que esta deveria estar conectada à rede coletora de esgoto, conforme prevê a legislação.

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“Ela não está conectada, irregularidade cometida por mais de 50% dos proprietários de imóveis do Norte da Ilha, o que lamentamos. Por isso ela deve pagar tarifa”, destaca a nota.

O caso de Denise, revela a Casan, foi enviado ao Programa Se Liga na Rede, da Prefeitura de Florianópolis, para que voltem a conversar amigavelmente, explicando as razões de se ligar corretamente. Moradores que se negam a regularizar podem ser autuados pela Vigilância Sanitária.

Por fim, a Casan diz que os outros 43 imóveis do entorno estão em plena condição de conexão à rede coletora de esgoto. Portanto, “passíveis de pagamento da tarifa de esgoto”.

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