O tamanho do esforço dispendido pelo governo para reativar a termelétrica AES Uruguaiana, parada há quase quatro anos, mostra o quanto a atual situação do abastecimento de energia no país preocupa. O investimento financeiro e logístico, ao fazer a Petrobras importar gás argentino para abastecer a usina, não é por acaso: a térmica instalada na fronteira gaúcha é o último trunfo para aumentar de imediato a geração de energia e reduzir o risco de racionamento.
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A AES Uruguaiana voltará a operar neste mês após intervenção do governo, diante de reservatórios de hidrelétricas com níveis próximos do limite de segurança para o abastecimento. Para reativar a usina, a Petrobras irá importar gás natural liquefeito da Argentina – sem se importar com os custos.
Desde o final de outubro, para poupar água nos reservatórios, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) colocou em operação todas as térmicas existentes no país – movidas a óleo combustível, diesel, carvão ou gás. A geração foi ampliada para 11,4 mil megawatts (MW) – 22% da produção nacional. Em 2011, as térmicas responderam por 7,8% da produção de energia no país.
A única usina ainda parada é a AES Uruguaiana, que interrompeu a operação em abril de 2009, quando a Argentina cortou o fornecimento de gás. Com 639 MW de capacidade instalada, a térmica voltará a funcionar na segunda quinzena de janeiro, com um terço do potencial.
Em dezembro, em caráter emergencial, o Ministério de Minas e Energia autorizou a geração comercial de energia pela usina com gás importado pela Petrobras. O transporte do combustível usará a infraestrutura de gasodutos da Argentina. Para retomar a funcionalidade, foram desembolsados R$ 17 milhões.
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– Em momentos críticos como esse, as térmicas funcionam como um seguro para garantir o abastecimento. Mas isso representa custos bem maiores, que irão acabar caindo no bolso do consumidor – aponta Roberto Pereira D’Araújo, diretor do Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico (Ilumina).
Utilização de térmicas têm impacto na conta de luz
Em 2012, a geração não programada com térmicas representou R$ 3 bilhões – podendo resultar em impacto de até 3% de reajuste nas tarifas domésticas e industriais, estima o instituto. Os custos são bancados para preservar os reservatórios. No Nordeste, as represas acabaram o ano abaixo do limite de segurança para o abastecimento. No Sudeste/Centro-Oeste, chegaram ao limite.
– Ao contrário do que o governo afirma, há risco de racionamento. Num sistema como o nosso, que opera com afluências variáveis grandes, não há como afirmar nada com certeza – aponta D’Araújo.
No Rio Grande do Sul, a hidrelétrica de Machadinho é a que está com o menor nível de armazenamento.
Mas, embora os níveis dos reservatórios de hidrelétricas sejam preocupantes e remetam ao temor do racionamento de energia elétrica, determinado pelo governo federal em 2001, a situação atual não é considerada tão grave como na época.
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– Estamos numa condição delicada, porém menos pior porque contamos com as térmicas. Além disso, foram feitos investimentos importantes em linhas de transmissão desde então – explica Cristiano Prado, gerente de competitividade industrial e investimentos da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).
No mês passado, a entidade alertou em nota pública a preocupação quanto ao abastecimento de energia no país, justamente no ano em que é esperada a retomada da economia.
– A energia é um dos principais insumos para a indústria. Um racionamento de energia elétrica e gás comprometeria muito os projetos de expansão industrial previstos para o ano – acrescenta Prado.