Um elevado de terra à beira da estrada coberto por cacos de vidro, latarias, calotas, pedaços de pneu e até objetos pessoais expõe o resultado de inúmeros acidentes em um dos trechos mais perigosos da SC-418, que liga Joinville ao Planalto Norte de Santa Catarina. O cenário fica no quilômetro 16,7, na primeira curva do alto da Serra Dona Francisca, onde ocorreram ao menos três acidentes neste ano – o último deles no dia 31 de janeiro.

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O local não tem radar fixo e é considerado o principal ponto de ocorrências da rodovia, que só no ano passado registrou 429 acidentes que resultaram em seis mortes ao longo dos seus 68 quilômetros. Além desta, pelo menos quatro curvas acentuadas fazem parte do trajeto entre os quilômetros 12 e 17, entre elas, a do acidente com um ônibus de turismo que vitimou mais de 50 pessoas há quase três anos.

De acordo com a Polícia Militar Rodoviária (PMRv), além da primeira curva, a curva do km 15,9 (após o mirante); a do Bambu no km 15,1; e a curva do km 13,1, imediatamente posterior ao local da queda do coletivo, concentram a maioria dos acidentes.

A imprudência dos motoristas, chuva, neblina e óleo na pista são apontadas pela PMRv como as principais causas para o alto número de acidentes na via estadual, índice 29,6% maior que o total contabilizado em 2016. Os registros são justamente na descida sentido a Joinville, onde a velocidade máxima permitida é de 30 km/h. As condições da via, no entanto, também influenciam para os acidentes, segundo a percepção de motoristas e moradores.

O tema insegurança voltou a fazer parte das conversas dos usuários da SC-418 em janeiro, depois que o carro de um casal despencou ribanceira por 150 metros. O acidente foi no dia 6 de janeiro e as duas vítimas esperaram 36 horas por socorro. Horas após o resgate, outro carro caiu no mesmo lugar.

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Sensação de insegurança

A reportagem percorreu nesta semana toda a extensão da Serra Dona Francisca por duas vezes, de dia e de noite, e constatou que a falta de iluminação é o principal problema enfrentado por quem faz o trajeto. Até mesmo para quem conhece o local desde a inauguração da pavimentação, a sensação de insegurança é frequente.

Márcia Romilda Hass, de 49 anos, presenciou a abertura da serra há cerca de 20 anos, quando as duas filhas ainda eram pequenas, e lembra que, na época, o espaço era todo iluminado. Hoje, percebe apenas dois postes acesos. Para ela, essa nova realidade é incômoda e passa uma imagem de desleixo.

Dona de um comércio de caldo de cana na serra, ela comenta que, depois dos acidentes, a escuridão da estrada se tornou assunto recorrente entre os clientes. Para Márcia, o “breu noturno” também pode ter contribuído para o aumento das saídas de pista na região nos últimos meses.

— Hoje, a sensação é de abandono. As canaletas eram limpas e o mato está tomando conta, a água do córrego está correndo pelo asfalto e enfrentamos a escuridão. Percebemos que há mais acidentes, pois os motoristas não enxergam a proximidade da curva e, às vezes, não têm nem tempo de frear.

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A moradora acredita que, se houvesse manutenção da iluminação, o resgate às vítimas de acidentes, por exemplo, poderia ser mais rápido e o total de ocorrências seria menor. ‘Se apagar as luzes de casa, não enxergamos nada’, avaliam Márcia e o marido Dorival Gonçalves da Maia, de 59 anos. Nascido na localidade da Dona Francisca, ele mantém a avaliação da mulher e confirma que, até para quem mora no perímetro da Serra, trafegar pela estrada não é tarefa fácil.

— Outro problema são os buracos, que, para quem não conhece a estrada, oferecem risco maior de cair ou de bater (o veículo), como já aconteceu — aponta.

Para Evelin Bonfante dos Santos e Cristina Fátima Silveira, que iam para São Francisco do Sul e pararam para descanso na metade do trajeto, a sensação é de perigo por causa da escuridão, dos obstáculos e da imprudência.

— À noite, o trajeto preocupa pela falta de iluminação, mas também por aqueles que deixam o farol alto e não deixam enxergar nada. Parte dos motoristas não respeita a sinalização e alguns caminhoneiros descem rápido, ultrapassam em locais proibidos e aumentam o risco de acidentes — dizem.

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De dia, a viagem é mais tranquila

Residente em Laranjeiras do Sul, no Paraná, Romildo Konkiski passou pelo mesmo local horas antes. Segundo ele, costumava passar com mais frequência pela serra até 2016, quando trabalhava no Porto de Itajaí. De lá para cá, voltou poucas vezes, como nesta semana, no fim das férias com a família em Itapoá, no Norte do Estado. Para ele e a mulher, diferentemente do cenário noturno, as condições da estrada melhoraram depois do acidente com o ônibus e, ao menos durante o dia, a viagem apresenta poucos riscos.

Os usuários apontam que houve melhora na sinalização e também redução no número de buracos e rachaduras na pista. Eles percebem também mais atenção por parte dos motoristas. Em contrapartida, a falta de um mirante, desativado desde 2015, e de acostamento são apontados como pontos negativos pelos turistas.

Incomoda ainda a invasão da vegetação sobre os guard rails em frente às placas de sinalização, que encobre avisos importantes aos motoristas, especialmente na descida rumo a Joinville. Em outros trechos ocorrem trepidações e a pintura do asfalto enfrenta desgaste.

Manutenção da rodovia

A Agência de Desenvolvimento Regional (ADR) de Joinville e a superintendência regional do Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra) se manifestaram sobre a manutenção da SC-418, no trecho que compreende a Serra Dona Francisca.

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De acordo com o superintendente regional do Deinfra, Ademir Machado, o problema de iluminação na Serra Dona Francisca decorre do furto de fios de cobre há mais de um ano. A dificuldade de monitoramento é apontada como um dos empecilhos para a conservação das lâmpadas. Ele explica que para revitalizar a energia são necessários ao menos R$ 100 mil, o que ainda não ocorreu por falta de recursos financeiros. A intenção é de que, quando reposto, o cabeamento seja substituído por outro material, porém ainda não há previsão.

Quanto à construção de um novo mirante, o Deinfra lamenta a impossibilidade de reconstrução no momento, também por não dispor do dinheiro necessário. O departamento busca a quantia de pelo menos R$ 140 mil junto aos recursos de reposição da iluminação, mas aguarda liberação orçamentária do Estado para 2018. A pintura dos trechos onde há desgaste da sinalização e a reposição dos guard-rails também estão previstas mediante repasse de verba.

Responsável pelas roçadas e operação tapa-buracos da pista, a ADR informou que realiza trabalho permanente de limpeza da vegetação por meio de uma empresa contratada em licitação. As operações de roçadas ocorrem de forma alternada com outros trechos das rodovias estaduais na região. No local, a última ação foi realizada na segunda quinzena de dezembro e tem continuidade prevista para este mês em toda a serra.

Quanto ao desgaste da pista, a agência destacou que possui recursos limitados para as operações tapa-buracos, distribuídos ao longo de 180 quilômetros de rodovias, mas que as manutenções estão em andamento. A previsão é de que em março cheguem novos recursos do governo de Santa Catarina para este fim. No entanto, trabalhos na serra foram retomados na última quinta-feira e, neste mês, deve ser feita a abertura de nova licitação com o objetivo de renovar a prestação de serviços para a manutenção da rodovia.

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O governo conta ainda com a expectativa de que até o segundo semestre de 2018 o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) lance o edital de privatização do modal que inclui a SC-418.

Controle de acidentes

Do início da SC-418, na ligação com a BR-101 até Fragosos, na divisa com o Paraná, a Polícia Militar Rodoviária somou em janeiro deste ano cerca de 30 acidentes, metade deles com vítimas (nenhuma fatal). Na análise da PMRv, a tendência é de que a média dos números possa ter redução na medida em que os motoristas sigam orientações seguras de trânsito, além da realização de investimentos considerados essenciais no perímetro.

Entre as melhorias apontadas como necessárias pela entidade estão o complemento da sinalização por meio da instalação de radares fixos na serra, além de reposição da iluminação. Também são considerados importantes o auxílio de faixas termoplásticas e um estudo técnico para faixa de britas, com o objetivo de diminuir a velocidade, principalmente, de caminhões. Porém, existem complicações para o planejamento decorrentes da topografia do local – caracterizado por ser uma descida íngreme e com vários pontos de grota.

Já para o motorista, a orientação é de que revise o veículo e mantenha a atenção e velocidade moderada e compatível com a sinalização da via, além de não realizar ultrapassagens proibidas. Também deve-se utilizar a luz baixa durante o tráfego diurno e não conduzir o veículo sob cansaço, efeito de medicamentos ou de álcool. Na descida da serra, é indicado utilizar sempre o freio motor e não deslocar-se com excesso de carga.

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