Dois escritores de escrita sólida e alma tímida – o sergipano Francisco J. C. Dantas e o carioca Rubens Figueiredo – revelaram profunda devoção à literatura na mesa ocorrida no início da tarde de hoje na Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, cuja décima edição terminou neste domingo, na cidade fluminense.

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Ciosos de seu ofício, Dantas e Figueiredo procuraram detalhar a forma com que trabalham com a escrita.

Professor da rede pública, Figueiredo contou que aproveitou a convivência com experiências distintas com seus alunos para perceber como aquela vivência estava alheia à literatura, atividade que parece traçar um anel mágico com a capacidade de se isentar dos processos históricos e das relações sociais.

– Assim, passei a ver a literatura como uma contribuição a partir de uma visão crítica – disse.

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Com isso, ele partiu de momentos banais, que pouco chamam a atenção, para, ao exaltá-los, torná-los assim visíveis.

Já Dantas, depois de lembrar do cinquentenário da morte de William Faulkner, leu um trecho da prosa do americano, que lhe fornece substância para moldar seus livros.

– Ele, assim como outros autores, buscava criar um mundo particular que, na verdade, era universal. Por conta disso, o particular torna-se plenamente coletivo.

Segundo ele, o escritor não pode ser maniqueísta. Foi o que fez em Os Desvalidos, agora reeditado pela Alfaguara, que traz como protagonista um personagem controverso: o cangaceiro Virgulino Ferreira, o Lampião.

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– Procurei mostrar seu lado mais conhecido, o selvagem, mas, ao mesmo tempo, seus momentos interiores, aqueles que quase o aproximam do bem – afirmou.

-Acredito que o mérito do livro está em se situar na ambiguidade – e só consigo isso porque sempre situo meus romances na minha região de Sergipe, que está embutida em mim sem que eu possa fazer algo.