Natout

O Natal era especial: chester, peru e latinhas semivazias nas lixeiras. Gostava dos risos fáceis e da alegria desmedida que, por algumas horas, fluíam das casas. Seu sonho era arrumar os dentes e comprar uma roupa de Papai Noel; pegar umas crianças no colo. Gostava delas, conversavam com ele. Mas nada aconteceu, como sempre, e ele ficou um bom tempo tentando lembrar de seu nome.

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*Carlos Henrique Schroeder, de Jaraguá do Sul

Agradecendo o Pior

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Uma senhora de Lages dava sempre os piores presentes de Natal. Não comprava nada de útil, nada de belo. Ela gostava de todo mundo, era encantadora. A pessoa abria o pacote e começava a rir. A festa inteira então se contorcia de tanto rir. Quem recusaria um presente igual? Pois o pior presente é o mais engraçado de todos. Por isso, agradecemos!

*Sérgio Medeiros, de Florianópolis

Detetives do Natal

Cada um cuidava de uma das duas únicas chaminés da rua. Mas sabe como é criança, deu vontade de fazer xixi, deu soninho, de maneira que o Papai Noel conseguiu colocar os brinquedos sob os pinheiros de suas casas sem que o vissem. Os dois meninos combinaram, então, de no próximo Natal traçar um plano mais eficiente, pois agora iam brincar.

*Suzana Mafra, de Brusque

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Imigrante

Lá fora, as luzes de Natal. Relembra o verso da canção quando chegou nesse lugar: “Meu Deus, mas que cidade linda”. Cá dentro, lembra-se do que deixou para trás, ajeita as cadeiras vazias. Pai, mãe, esposa, filhos, amigos: ausências, saudade. “No Ano-novo eu começo a trabalhar”, cantarola baixinho.

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*Rubens da Cunha, de Joinville

Sina

O velho caminhou pelas ruas, exaurido após a entrega dos presentes. Era quente, as roupas vermelhas fétidas, braços e pernas cansados de atender pedidos tantos. Sentou-se em frente do ventilador, lembrou dos filhos que não teve, da esposa que o abandonou. Passou os olhos na sua casa sem luzes, sem toalha vermelha, nem janta. Abriu a garrafa de conhaque e chorou com saudades da sua mãe, que sempre pedia para que ele fosse um homem bom!

*Rosane Magaly Martins, de Blumenau

Ausentes

Por trás das grades podia ver a neve caindo. Era Natal. A memória liberta voava pela janela trazendo a família reunida celebrando um nascimento. Sozinho agora, longe daqueles a quem amara, as lembranças fustigavam a ação para o gesto derradeiro e, com o pedaço de carvão nas mãos, riscou na parede o dia 25.

*Olsen Jr., de Florianópolis

O Espírito de Natal

Simone cantava Então é Natal no radinho de pilha da portaria. Dona Carla se sentia generosa por ter levado um fardinho com uma fatia de panetone e um copinho plástico com cidra. Vilson matou tudo em duas mordidas e três goles. Limpou a boca com as costas da mão, sacudiu os farelos da camisa e sentiu uma pontinha do espírito natalino no fígado.

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*André Timm, de Chapecó

O Quarto Escuro

Numa noite de Natal, ao redor do fogão a lenha, o avô reuniu seus 14 filhos e disse:

– Não tenho nada para presentear, senão esta pequena história. Ouçam, pois. Num quarto escuro, um homem procura por alguma coisa. É um cientista. Noutro quarto escuro, um homem também procura por uma coisa que lá não se encontra. É um filósofo. Em outro quarto escuro, um religioso procura por alguma coisa que lá não se encontra e exclama: “Eu encontrei!” Pois bem, em que quarto escuro cada um de vocês se encontra?

*David Gonçalves, de Joinville

Fantasias

Fantasia de Noel, alcoolizado, 18 anos. Os primos pequenos como hidrantes, habitantes de um longínquo mundo naïf, querendo presença de espírito. O suor colava a máscara de plástico ao rosto. A risada de velhinho bonachão saiu medíocre. Ela se chamava Paola e esperava, sozinha, por ele. Meu presente, teve vontade de dizer, vale bem mais que esse teu Playstation aí.

*Thiago Momm, de Florianópolis