A escritora quilombola e pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina, Roselete Fagundes de Aviz ganhou o Prêmio Carolina Maria de Jesus de Literatura Produzida por Mulheres 2023 por sua obra “Encaracolado”, na categoria romance. Roselete escreveu seu livro inspirado nas entrevistas e relatos coletados na Comunidade Quilombola Ribeirão do Cubatão, em Joinville, onde nasceu.

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Roselete conta que se inspirou na memória da comunidade quilombola para escrever seu livro. O enredo se passa em Joinville na época em que ainda era parte de São Francisco do Sul. A pesquisadora da área de educação destaca que nessa região, a história da pessoa negra ainda é invisibilizada pelos historiadores, que valorizam a imigração europeia em Santa Catarina como se não houvesse uma história anterior.

A autora fala sobre o bairro de Pirabeiraba, em Joinville, que muitos chamam de alemão, mas outros povos já tinham história por lá, bem antes dessa colonização. Roselete diz:

— Aqui tem um sambaqui, uma forte influência indígena e uma população afroindígena. Os lusos receberam suas sesmarias, vieram com escravos e pouco se fala desta história. Minha avó materna era neta de escravos. Neste lugar, funcionava uma das usinas açucareiras mais importantes e modernas do Brasil em 1890. O lugar era uma fazenda, um bairro com escola e igrejas, evangélica e católica. Tudo foi destruído quando a usina faliu.

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O objetivo de Encaracolado é contar a história desse povo e de seus descendentes. O livro mostra momentos vividos por Roselete no ambiente em que a história acontece. Ela cita uma fala de um dos personagens:

— Pode ter coisas da vida, mas é ficção — diz a escritora.

O Prêmio Carolina Maria de Jesus de Literatura Produzida por Mulheres

A premiação recebeu 2.619 inscrições, com 1.922 habilitadas e avaliadas, e 61 vencedoras – 12 de mulheres negras; seis PcD; três indígenas; três quilombolas e 37 na categoria “não se aplica”, que corresponde à ampla concorrência.

O objetivo do Prêmio Carolina Maria de Jesus é promover a literatura brasileira produzida por mulheres, valorizar autoras nacionais e incentivar a qualidade literária por meio de concurso. As 61 escritoras selecionadas com obras inéditas receberão R$ 50 mil cada. A Comissão de Seleção do concurso contou com 74 avaliadoras, composta por professoras, escritoras, servidoras públicas e gestoras do livro e leitura de todo o país.

*Sob supervisão de Andréa da Luz

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