A escritora Nara Vidal esteve da 15ª Feira do Livro em Joinville nesta quarta-feira. Ela tem sido uma ativista da literatura, divulgando na Europa os escritores brasileiros e também promovendo ações e projetos que envolvam crianças e adultos nesse universo das palavras. Mineira, mas morando há anos em Londres, na Inglaterra, Nara criou o Canalzinho, evento em que convidou escritores brasileiros e portugueses para irem a Londres e Paris para expor suas obras e falar sobre as questões da literatura infanto-juvenil e também adulta.

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Em Joinville, Nara subiu ao palco do Teatro Juarez Machado no dia 13, para lançar seu livro “Sorte” e conversar com o público. Já na quinta (14), a escritora tem encontros com leitores em sessões de autógrafos e na palestra “A fantasia que encontra a realidade”.

Veja a programação completa da 15ª Feira do Livro de Joinville

Confira a entrevista:

Como surgiu a ideia de compartilhar os talentos da literatura brasileira no exterior?

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Nara – Surgiu da minha necessidade de levar literatura para os meus filhos. Meu filho vai fazer sete anos e minha filha tem nove e o meu estoque de literatura infantil se limita às vezes em que eu venho para o Brasil. Eu que levo os livros e, consequentemente, eles não têm esse contato com os autores, então eu queria proporcionar para eles essa possibilidade de entrar em contato com os escritores, de conversar com essas pessoas. Assim surgiu o Canalzinho, em 2016, um evento que ganhou esse nome porque entre as cidades de Londres e Paris tem o Canal da Mancha, e eu acabei jogando a ideia para vários escritores que toparam participar. E eles vieram por conta própria porque não conseguimos apoio nem patrocínio para custear a vinda deles. O que é uma pena porque temos que ser valorizados, temos que ser pagos pelas nossas participações, é justo. Essa foi uma parte difícil porque eu queria que eles viessem, mas não tinha como custear. Mas muita gente já tinha programações na Europa e um total de 15 escritores veio para o evento e todo mundo adorou a ideia. Foi legal, teve muita repercussão na imprensa, muita gente foi ao evento. Foi apenas um dia, mas para um próximo já pensamos em aumentar para dois.

Mas você tem outras formas de divulgar a literatura brasileira na Europa, certo?

Nara – Eu tenho uma livraria online, a Capitolina, que é uma referência à Capitu, e ela se especializa em literatura brasileira contemporânea, só, e de editoras pequenas, independentes. Isso me orgulha muito porque é uma vitrine desses autores, já que pelos canais normais suas obras não chegariam até lá. É uma coisa pequena, eu não vivo da livraria, mas é uma vitrine, quem tiver interesse em conhecer literatura brasileira contemporânea pode acessar o site da Capitolina e tem um acervo e uma coleção grande de livros.

Além desses, mais algum outro projeto em andamento?

Nara – Por enquanto nãoooo….(risos), eu preciso de tempo para fazer tudo. Por isso até o Canalzinho está parado, não consigo fazer outro porque no momento eu tenho escrito bastante. Estou lançando aqui na Feira do Livro de Joinville meu primeiro romance, o “Sorte”, depois levo para São Paulo e para minha cidade natal, Guarani, em Minas Gerais, faço questão sempre de lançar lá meus livros porque tenho um carinho enorme pela cidade.

O humor é uma marca registrada nos seus livros infantis. De onde surgiu essa característica?

Nara – É uma coisa mais natural na parte infantil porque, inclusive, eu acho uma forma de comunicação com a criança mais eficaz do que você tentar falar de uma maneira muito autoritária, como se você soubesse mais. O humor cativa a criança. O livro sobre o bullying, por exemplo, “Arco-íris em preto e branco”, da personagem Isadora, eu não tinha nenhuma pretensão com esse livro, e eu escrevi muito rápido e as crianças adoram. A personagem do livro ri de si mesma, ela se aceita, se gosta, ela é fascinante. Realmente tem uma coisa de humor nos meus livros infantis. Tem um que eu fiz “O Doce Plano das Galinhas”, que é também super bem humorado e eles têm um viés neste sentido.

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E entre os livros adultos, qual a inspiração?

Nara – Tenho dois livros de contos, entre eles “A Loucura dos Outros”, e esse que lanço na Feira é o meu primeiro romance. Os adultos são mais pesados, são muito diferentes, tratam de temas difíceis, falo de tudo. Mas geralmente tem um universo feminino atrás disso, o ponto de vista é feminino. Mas eu não gosto do rótulo de escrita feminina, acho que diminui a gente, limita, é equivocada. Eu acho que é escrita. Uma mulher que escreve e um homem que escreve, é igual, senão eu teria que falar também de uma escrita masculina. Agora, eu escolho a minha narradora com uma voz feminina, isto não significa que eu esteja limitada a isso, eu posso escolher uma narrativa masculina, posso criar um ponto de vista masculino, não precisa ser um homem para isso. Acho muito importante discutirmos isso. E acho também que esse é o barato da literatura, da ficção, você pode fazer tudo.