Olsen Jr. tirou do bolso da calça um extrato bancário cujo lado em branco estava rabiscado com uma inspiração que lhe veio na última sexta. Na Kibelândia, tradicional ponto de encontro de intelectuais no Centro de Florianópolis – e onde hoje lança sua nova obra, Discípulos de Ninguém – Um convite à Insubmissão -, leu em voz alta apontamentos sobre a humanidade.

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Quem pode devolvê-la? A civilização, ele responde. “O homem é uma paixão inútil, mas as ainda é uma paixão”, recita no meio da conversa. Ele recorre a Sartre e outros autores que admira para de alguma forma “literaturalizar” seu idealismo. Aos 59 anos, o jornalista e autor de livros como Os Esquecidos do Brasil (1993) e Desterro, SC (2000) – finalista do prêmio Jabuti, é idealista por opção e vocação.

Cita Rainer Maria Rilke, quem dizia que todo o autor tem que ter uma questão para a vida, para falar do novo livro. Sua questão é a ditadura e mergulha nesse passado para situar os dois personagens centrais.

Ernani e Osvaldo dividem um quarto de pensão. O primeiro, casado e pai de família, procura um trabalho melhor na cidade grande. Já o segundo é um estudante que ser escritor. Em torno deles há vários outros personagens e situações, mas o fundamental é que ambos, independente do que acontece, continuam sendo éticos e idealistas.

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Essa obsessão pelo idealismo dos personagens é a mesma compartilhada pelo autor:

– Acredito muito no sonho, que é um pouco quando uma pessoa faz uma fé na Mega Sena e vive o período que antecede o jogo e o resultado. Na prática o idealista vive isso frequentemente. É fraterno e solidário, tem muita compaixão. Para recriar a realidade há que se ter um ideal da realidade para botar no lugar – diz.

Olsen fez as primeiras anotações do livro em 1980 e só terminou em 1982, um calhamaço de 432 páginas que somente em 2014 chega às mãos dos leitores.

Entre memória e história, por Péricles Prade

Com excelente formação filosófica, a partir das lições de Jean-Paul Sartre, menos pela vivência existencialista e mais pela visão/reflexão de caráter humanista, reveladora de um sedutor engajamento de expressão crítico-política, o escritor Oldemar Olsen Jr., amparado por essa estrutura, criou o pano de fundo da obra Discípulos de Ninguém, ambientando-o em nosso país na época da ditadura, retratada sob os auspícios das relações entre memória e história de que falava Jacques Le Goff.

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Para melhor configurar esse período, valeu-se de uma linguagem em que são percebidas as ressonâncias estilísticas de Ernest Hemingway e Scott Fitzgerald, já encontradiças em obras anteriores, sem comprometer a originalidade com ênfase na tipologia dos azeitados diálogos diretos de dicção dialética, construindo dois personagens de certa forma antípodas (Osvaldo e Ernani), mas ligados pelo afeto, ao lado de outro, o próprio prosador, escondido nas subliminares entrelinhas de perfil autobiográfico.

Trata-se de obra com plenas condições de obter o ambicionado prêmio cubano da Casa das Américas, no gênero romance, em virtude de suas lapidares características.

Péricles Prade é escritor, ex-presidente da Academia Catarinense de Letras e assinou o prefácio de Discípulos de Ninguém

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Agende-se

O quê: lançamento do livro Discípulos de Ninguém – Um Convite à Insubmissão, de Olsen Jr.

Quando: hoje, às 19h

Onde: Kibelândia (Rua Victor Meirelles, 98, Centro, Florianópolis)

Quanto: gratuito

Informações: (48) 3322-0760