Escritor indígena com 43 livros publicados e professor, Daniel Munduruku compartilhou um pouco de sua história durante a 7ª Feira do Livro de Jaraguá do Sul, na manhã de segunda-feira. Graduado em filosofia, história e psicologia, Daniel pertence à etnia indígena mundurucu e se destaca na literatura infantil. Em meio a um auditório repleto de estudantes, no Grande Teatro da Scar, o convidado participou de um bate-papo descontraído sobre preconceito, cultura, a relação entre pais e filhos e a importância de ler e contar histórias.
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Daniel também é doutor em Educação pela USP e diretor presidente do Instituto UKA – Casa dos Saberes Ancestrais e Diretor do Instituto Indígena Brasileiro para a Propriedade Intelectual (Inbrapi). Recebeu diversos prêmios no Brasil e exterior. Muitos de seus livros receberam o selo Altamente Recomendável outorgado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).
Destaque para as obras “Histórias de índio”, “A onça e o fogo”, Você lembra, pai?, “Sabedoria das águas”, “A Primeira Estrela que vejo é a Estrela do meu Desejo e Outras Histórias Indígenas de Amor.
Confira a opinião do autor:
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Preconceito
A palavra índio não traduz o que é o povo indígena, é um apelido, uma palavra cheia de estereótipos. Ela tira a riqueza e sabedoria de cada povo individualmente. Quando cheguei à idade de ir para a escola na cidade, as pessoas me chamavam de índio e reforçavam o estereótipo de preguiçoso e atrasado, uma ideia que existe até hoje.
Diziam que para eu me tornar gente de verdade, civilizada, que eu tinha de ser que nem eles e abandonar o que eu era. Por um tempo, eu acreditei nisso, mas meu avô me trouxe de volta para a realidade do meu povo. Ele disse que eu não era índio, que eu era munduruku. E fiquei orgulhoso de ser quem eu era.
Cultura indígena
Na cultura indígena a gente nunca pergunta a uma criança o que ela quer ser. A gente não educa a criança para o futuro, mas o presente. Meu avô dizia que se o momento que a gente está vivendo não fosse bom, não se chamaria presente. E que criança tem que ser criança e não fazer coisas de adulto, planejar o futuro. A gente não fica imaginando o que vai ser, senão perde o agora, o tempo de brincar.
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Quando virei adulto, tinha só uma intenção: viver minha vida de adulto, e não a fase de criança e adolescente. Quando a gente vive cada fase da vida, não sente saudade da fase anterior. A criança já é um ser humano completo, o que vier depois é só uma consequência da educação que ela recebeu.
Histórias
Nos livros, eu descobri um grande instrumento para fazer minha voz chegar mais longe. No nosso povo, os pais nos ensinam as coisas práticas e os avós são responsáveis por contar histórias. As histórias alimentam o nosso espírito e ensinam coisas que a gente não aprende simplesmente lendo um livro. Os pais e os avós devem contar histórias para as crianças. Mas, muitas vezes, o pai entrega a função de contar histórias para a TV.
Confira a programação da Feira do Livro nesta terça-feira:
9h – Abertura dos estandes
9h15, 10h, 14h15 e 15h – Chapeuzinho adormecida no País das Maravilhas
Maratona de Contos Sesc – Cia Coxinha Contacausos (Jaraguá do Sul) – Grande Teatro
Um pai conta uma história a filha antes de dormir. O quarto, os brinquedos, os móveis e todos os objetos do local viram parte dessa história que é um fábula infantil que mescla vários contos clássicos. Classificação: Livre.
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9h40 e 14h40 – Mostra Nueva Mirada – Seleção de 11 Curtas – Pequeno Teatro (Classificação: 14 anos)
15h – Lançamento do livro “Preciosidades” de Eliana Aparecida Quadra Corrêa – Espaço dos autores – Espaço dos autores
16h – Lançamento de “O nome dele era Pedro” e bate-papo com a autora Célia Biscaia Veiga – Espaço dos autores
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16h15 – Lançamento do livro “A Naneara e a busca por Paititi” de Lilian Cristina Peixe – Espaço dos autores
19h – Palavras russas, com Rubens Figueiredo – Pequeno teatro
Vencedor do Prêmio Portugal Telecom de Literatura 2011, do Prêmio São Paulo de Literatura 2011 e duas vezes ganhador do Prêmio Jabuti, Figueiredo é um dos mais respeitados escritores brasileiros vivos. É autor dos livros “Passageiro do fim do dia”, “Barco a seco” e “Contos de Pedro”. Figueiredo é também tradutor do russo, e traduziu as últimas versões dos clássicos de Tolstói para o português.
21h – Encerramento das atividades