Alcançar o equilíbrio mental e a paz interior. Para os que buscam respostas a esses anseios, o começo pode estar em atitudes simples do dia a dia. É o que aponta o escritor e um dos maiores tradutores do budismo tibetano, Alan Wallace. Discípulo do Dalai Lama, ele vem pela primeira vez a Florianópolis no sábado para ministrar palestra sobre mente em equilíbrio.

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O americano, formado em física e monge budista, preside um instituto de estudos da consciência, na Califórnia (EUA). Ele defende que precisamos de uma alternativa ao nosso modo materialista de ver a existência humana. Para o cientista da consciência, a ciência contemplativa – disciplina que integra as metodologias contemplativas do budismo e da ciência ocidental – pode ser o caminho.

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A aluna de Wallace, Cerys Tramontini, fundadora do Instituto Paz & Mente em Florianópolis, onde ele também vai ministrar aulas, explica que a ciência contemplativa é uma ciência empírica cujo objeto é o estudo da mente.

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— Esta ciência introduz métodos de investigação da mente por meio de técnicas budistas de meditação, como o shamatha, um método sofisticado para treinar a atenção. Assim como os cientistas fazem observações e conduzem experimentos com a ajuda da tecnologia, os meditadores há muito vêm testando as próprias teorias com a ajuda de capacidades meditativas altamente desenvolvidas para a observação e a experimentação — define Cerys.

Essa investigação minuciosa dos processos mentais, vinda da meditação, podem reduzir fisicamente níveis de estresse e elevar a sensação de alegria, proporcionando bem- estar, acrescenta. Quando temos no dia a dia essas práticas, quando surge uma emoção, por exemplo, não somos tomados por ela. Apenas deve observá- la e deixar que repouse, sem que haja identificação com ela, explica a fundadora.

— Equilíbrio mental vem da ética, do cultivo de bons pensamentos, da motivação ou propósito na vida, na atenção para cada movimento e também identificarmos o papel do observador na interpretação de realidade. Ou seja, não somos atores de nossas vidas, somos diretores e precisamos cuidar e perceber que peça estamos criando — finaliza.

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Serviço

Aula Mente em Equilíbrio

QUANDO: neste sábado, dia 27

HORÁRIO: das 8h às 12h

ONDE: Auditório da Faculdade Cesusc, na SC- 401

VALOR: R$ 120, compra de ingressos no local ou na sede do Instituto Paz & Mente

Entrevista com Alan Wallace:

¿Precisamos de uma alternativa ao materialismo¿

Como a ciência contemplativa, que vem do Himalaia, pode ajudar a nossa sociedade a se tornar mais pacífica?

Wallace – Na verdade, a ciência tem suas raízes em múltiplas culturais de toda a Ásia, não apenas nas regiões nômades dos Himalaias. Assim, as pessoas que praticam essa ciência contemplativa incluem pessoas da cidade, agricultores, comerciantes e nômades. Estas culturas tradicionais valorizam o bem- estar e a paz interior juntamente com prosperidade exterior, de modo que eles não repousaram seu foco unicamente em aquisição e consumo desenfreados. Precisamos urgentemente de uma alternativa para o nosso atual modo materialista de ver a existência humana e a realidade como um todo, juntamente com sua ênfase no hedonismo e no consumismo, pois o próprio destino da civilização humana e o equilíbrio do ecossistema dependem da nossa reconcepção do significado da ¿ boa vida¿. Nesse sentido, as culturas mais tradicionais têm muito a nos ensinar sobre desenvolver contentamento, harmonia e paz com o resto do mundo.

Muitos compreendem o budismo como religião. Afinal, o que é o budismo?

Wallace – As categorias de religião, filosofia e ciência são construções eurocêntricas que se aplicam bem ao judaísmo, cristianismo e islamismo como religiões, Platão, Spinoza, Kant como filósofos, e a física, biologia e psicologia como ciências. Mas as tradições como o budismo, que originou e se desenvolveu fora da influência da civilização eurocêntrica, não são facilmente classificados dentro desse quadro ocidental. O budismo tem elementos religiosos, filosóficos e científicos, mas também tem elementos únicos que não são encontrados em qualquer lugar na civilização ocidental.

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E como trazer essa ciência para o nosso dia a dia?

Budismo certamente inclui uma ciência da mente, e pode ser praticado por qualquer pessoa com uma mente aberta que queira explorar a natureza e os potenciais da mente e maneiras de conseguir um estado excepcional de saúde mental, equilíbrio e bem- estar. Muitas das teorias e métodos do budismo são acessíveis a pessoas de todas as crenças religiosas, porque não exigem a adesão a qualquer sistema de crença, mas sim encorajar- nos a explorar nossas mentes e a realidade em geral, com uma mente aberta.

Como o senhor vê a evolução das práticas contemplativas no Brasil?

Durante minhas muitas visitas ao Brasil ao longo dos últimos 10 anos, tenho o prazer de ver o grau de abertura para práticas contemplativas, tanto no público em geral quanto no meio acadêmico. Esse é um dos mais diversos países que visitei, com muitos grupos étnicos e crenças, e isso tem sido útil na prevenção de qualquer ideologia de dominação, que suprimiria todas as outras.