Imagine a cena: um homem carrega uma rocha montanha acima. A rocha é pesada, a montanha é íngreme e, quando chega lá em cima, ele solta a rocha só para que ela desça a montanha e ele precise voltar para buscá-la e carregá-la novamente.
Continua depois da publicidade
Esse conto do absurdo é o mito de Sísifo, criado pelo filósofo Albert Camus em 1942 e readaptado por Affonso Romano Sant?Anna em “Sísifo Desce a Montanha”. Affonso não quis que seu Sísifo subisse a montanha. Assim como o escritor, o personagem está descendo com a rocha nos ombros – e ela é leve.
Mais de 40 anos trabalhando em prol da cultura brasileira, escrevendo, ensinando e, principalmente, agindo, garantem a ele essa leveza: a sabedoria de não precisar mais empurrar a rocha montanha acima.
Um pouco dessa experiência será dividida em Joinville no domingo à noite, quando Affonso participar da 9ª Feira do Livro. Boa parte da conversa que ocorrerá com Affonso Romano no palco principal da Feira do Livro será a respeito da experiência dele na administração pública.
Continua depois da publicidade
Durante seis anos, Affonso foi presidente da Biblioteca Nacional – a oitava maior do mundo, com oito milhões de volumes – e, enquanto a administrava, criou o Proler, um programa nacional de incentivo à leitura, e o Sistema Nacional de Bibliotecas, que reúne 3 mil instituições.
“Passei por três presidentes e seis ministros. Conheci as entranhas da administração pública, com todos os seus problemas. Quando entrei, a Biblioteca estava em ruínas”, afirma ele.
Para quem quiser conhecer o Affonso escritor, a palestra “A Leitura da Escrita” também ampliará outras ideias do intelectual. Ele se pauta em seu livro “Ler o Mundo”, lançado em 2011 pela Editora Global, para falar sobre sua teoria de que leitura não é divertimento, mas sim uma tecnologia.
Continua depois da publicidade
“Todo mundo lê o mundo e dou um exemplo bem fácil para explicar a ideia: quando ocorreu o tsunami no Japão, os animais sabiam uma hora antes e fugiram para as montanhas. Eles sabem ler a natureza; nós, civilizados, não conseguimos isso”, avalia. Para Affonso, o Brasil só vai chegar ao “Primeiro Mundo” quando as pessoas souberem ler e compreender o que está à frente.
Os “viajeiros”
Affonso Romano criou um nome para a geração de artistas da qual faz parte, aquela que começou nos anos 60. “Somos a geração viajeira. Antes, os escritores eram funcionários públicos que nunca saíam do Rio e de São Paulo”, conta, citando Marina Colasanti – sua mulher desde 1971 -, Ignácio Loyola Brandão – que estará na Feira de Joinville na terça-feira – e Moacyr Scliar, morto no ano passado.
É desse movimento, segundo ele, que as feiras do livro fazem parte. “Antigamente, só tinha Bienal de São Paulo e Feira no Rio. Agora, elas estão no País inteiro”, avalia. Hoje, aliás, Affonso está na 1ª Bienal Brasil do Livro e Leitura, em Brasília e recebe o Prêmio Brasília de Literatura.
Continua depois da publicidade
Indicação do Autor
“Eu indico ?Não Contem com o Fim do Livro?, do Umberto Eco e do Jean-Claude Càrriere, publicado pela Editora Record. É fundamental para entender as mudanças da linha editorial e o futuro dos livros”.
O QUÊ: palestra “A Leitura da Escrita”, com Affonso
Romano Sant?Anna.
QUANDO: domingo, às 19 horas.
ONDE: 9ª Feira do Livro de Joinville, no Expocentro Edmundo Doubrawa, anexo ao Centreventos Cau Hansen (avenida José Vieira, 315).
QUANTO: gratuito.