A partir desta segunda-feira escolas particulares e públicas de todo o Estado começam o cronograma para vacinar em torno de 160 mil adolescente entre 11 e 13 anos contra o HPV. O vírus é um dos principais responsáveis pelo câncer de colo de útero – a quarta causa de morte em mulheres no Brasil.

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Com a estratégia de focar a vacinação nas escolas, a Secretaria de Saúde do Estado pretende alcançar a meta de vacinar 128 mil, ou seja, 80% da população atual até o fim de março. O município de Piçarras foi um dos primeiros a começar a vacinação. Ao total 498 crianças serão vacinadas até sexta-feira, segundo a gerência da Diretoria de Vigilância Epidemiológica.

Uma reunião hoje em Florianópolis definiu o cronograma de visitas da equipe de saúde às instituições. No próximo dia 17, será apresentado o cronograma para a vacinação nas escolas estaduais. Panfletos começam a ser entregues hoje para orientação dos familiares. Os pais serão comunicados e caso sejam contrários a vacina devem realizar um comunicado por escrito.

Em Itajaí, a direção da Escola de Educação Básica (EEB) Paulo Bauer, começou a orientação aos pais na última sexta-feira. Somente na cidade mais de 4500 meninas de 11 a 13 anos, de 58 escolas estaduais e municipais serão vacinadas.

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A primeira dose será aplicada nas alunas em cada escola, dentro de um cronograma de atendimento feito pelas secretarias municipais, mas os pais também poderão levar as filhas até a unidade de saúde mais próxima de casa.

O diretor de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina, Eduardo Macário, reforça que a vacina é segura e tem uma eficácia de proteção ao vírus em 98% dos casos. Logo após a aplicação a criança começa a desenvolver os anticorpos.

-É importante começar pelas adolescentes antes do início das atividades sexuais. Além de proteger vamos poder diminuir e bloquear daqui há alguns anos a transmissão dos vírus entre homens e mulheres. É um proteção a mais além da camisinha e do exame Papanicolau.

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Polêmica

A vacina enfrenta resistência por parte de alguns médicos em relação a sua eficácia. O coordenador do Centro de Pesquisas Clínicas, em Florianópolis, Edison Fedrizzi, que contribuiu junto a especialistas de outros 30 países no desenvolvimento da vacina contra o HPV, reforça que ela tem tempo suficiente de acompanhamento contra o prevenção do câncer.

Esta vacina protege contra quatro tipos de vírus e uma nova vacina multivalente que está sendo testada deve proteger a população contra nove tipos de vírus. Fedrizzi acredita que em um prazo de cinco anos o novo medicamento poderá ser produzido no Brasil.

Acompanhe a entrevista com o especialista Edison Fedrizzi que participou do desenvolvimento da vacina:

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DC- Para que serve a vacina contra HPV?

Fedrizzi – Esta vacina é contra dois tipos de verrugas genitais e contra dois tipos de câncer de colo de útero – responsáveis por 70% dos casos de doença.

DC- Porque é importante se vacinar?

Fedrizzi – As verrugas genitais são consideradas a doença mais frequente no mundo inteiro e a vacina protege contra os vírus de HPV que mais causam colo de útero.

DC – Atualmente, quais os métodos de prevenção do câncer de colo de útero?

Fedrizzi – O que temos hoje é o exame Papanicolau, feito por ginecologistas. As desvantagens é que ele tem que ser feito periodicamente. No diagnóstico só aparece quando tem uma lesão pré-cancerígena. Já a vacina previne o que causa a lesão.

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DC- Quem pode se vacinar?

Fedrizzi – Todas as mulheres deveriam ser vacinadas. Mesmo as que já contraíram os vírus, porque ao tomarem a vacina estimulam o sistema de defesa do organismo para eliminar o vírus após uma nova contaminação e protege contra uma nova infecção.

DC – Porque vacinar meninas de 11 a 13 anos?

Fedrizzi – O ideal é que a vacina seja aplicada antes do início da vida sexual. Como a aplicação será em rede nacional, temos dados que no Sul do país meninas começam a vida sexual depois dos 12 anos, mas no Norte e Nordeste entre os 10 anos, então foi estipulado esta idade a partir dos 11 anos.

DC – Alguns médicos e inclusive uma das instituições que se posicionaram contra a estratégia foi a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, que divulgou carta questionando a segurança e a eficácia do procedimento. No texto, afirma que a vacina “expõe adolescentes a risco de supermedicação desnecessária” o que o senhor tem a dizer a respeito?

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Fedrizzi – Todas as vacinas alopáticas têm linhas a favor e contra. Alguns movimentos antivacinas têm considerações vagas e fazem um desserviço à saúde pública que acabam provocando surtos de doenças já controlados com vacinas. A vacina contra a HPV está na rede pública de 53 países e em 126 já é liberada. É extremamente segura, se não fosse não estaria no mercado.

DC – No Japão após a aplicação da vacina tiveram relatos de dor em algumas mulheres. A aplicação da vacina pode trazer efeitos colaterais ou contraindicações?

Fedrizzi – No Japão, tiveram relatos de quadros de dor. O Governo suspendeu a campanha para investigar melhor o sistema de vacinação, mas a vacina contra o HPV continua sendo distribuída. Para que uma medicação possa ser autorizada é preciso demonstrar sua segurança comprovada por estudos e testes reais. Quando se faz a utilização em número maior de pessoas podem aparecer problemas que podem ou não ser relacionados. A vacina do HPV não tem efeitos colaterais associados ao uso. As contra indicações são as para todas as vacinas como dor, febre e quadros alérgicos a algum componente do medicamento.

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DC – Como será realizado o procedimento?

Fedrizzi _ A vacina pode ser aplicada tanto no braço ou na coxa, com injeção. Os pais não precisam levar até o posto porque equipes da saúde estarão nas escolas públicas e particulares para a vacinação. Nos postos a vacina também estará disponível. A recomendação é que a menina fique em observação durante 10 a 15 minutos logo após a aplicação. Nesta idade é comum ocorrer um mal estar ou até mesmo um desmaio, mas relacionado a aplicação em si, não à vacina. Em caso de reação alérgica como falta de ar ou coceiras pelo corpo, não deve ser tomada a segunda dose da vacina. Cada adolescente deverá tomar três doses para completar a proteção, sendo a segunda seis meses depois da primeira, e a terceira, cinco anos após a primeira dose.

DC- Quem tomar a vacina não precisará fazer o exame preventivo com o ginecologista?

Fedrizzi – A vacina protege contra quatro tipos de vírus, então é importante continuar fazendo os exames periódicos, mas com uma proteção muito maior contra as doenças.

DC- A vacina é segura?

Fedrizzi – É extremamente segura. Está há 12 anos sendo acompanhada. Na Austrália com três anos de uso já foi comprovada uma redução de 45% das lesões cancerosas e em cinco anos reduziu em 93% as verrugas genitais, além de proteger também os homens em 80% em relação as verrugas nas genitais masculinas. Em SC fizemos parte do grupo de pesquisa em 30 países que testou a eficácia da vacina.

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