Cola tecido daqui, solda ferro de lá. Os últimos dias antes do Carnaval são de trabalho intenso para as seis escolas de samba do grupo especial de Florianópolis. Cinco delas já estão com seus barracões montados na área externa do Centro Sul, ao lado da Passarela Nego Quirido. No local, os carnavalescos montam os carros alegóricos e fazem os ajustes necessários para que tudo fique perfeito para o desfile deste sábado, 10.

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Frank de Souza, 45 anos, é artista plástico da Dascuia, a primeira escola a entrar na avenida. Natural de Parintins, no interior do Amazonas, onde aprendeu tudo o que sabe sobre Carnaval, ele se mudou com a família para a Capital catarinense em 2010 e, desde 2014, trabalha na produção e montagem dos carros alegóricos da Verde Rosa.

Na manhã desta segunda-feira, 5 de fevereiro, ele e a esposa finalizavam o acabamento de parte de um dos carros. Apesar de ter que trabalhar duro para reaproveitar e transformar materiais de outros carnavais em uma alegoria nova, reflexo da falta de dinheiro das escolas, ele se emociona ao falar do resultado.

— Eu sei cada detalhe do desfile. No momento em que entrego os carros, que eles passam da linha amarela, eu vejo toda a trajetória do serviço passando na minha cabeça, todo mundo comemora, é muito gratificante — conta.

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Segundo a diretora de Carnaval e carnavalesca da Dascuia, Raphaela Perrut, os dois carros alegóricos que vão desfilar estão há 26 dias na Nego Quirido. Entre 10 e 25 pessoas estão trabalhando todos os dias para montar as alegorias.

— Eu trabalho com cronograma. Não temos o melhor espaço, até porque não conseguimos alugar um barracão como outras escolas, mas estamos conseguindo fazer tudo e esperamos fazer um belíssimo desfile.

Neste ano, o enredo da Dascuia promete encantar a plateia com a história do samba desde sua origem no continente africano, passando pela Pequena África, no Rio de Janeiro, até chegar a Florianópolis e na comunidade do Morro do Céu, de onde é o patrono da escola, seu Altamiro José dos Anjos, o Dascuia, de 82 anos. E quem deve estar na avenida é o próprio Dascuia. De acordo com Frank, ele estava construindo uma alegoria para representar o patrono da escola, mas parou o serviço ao saber que o próprio vai desfilar.

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Nação Guarani

A escola de Palhoça está com os carros alegóricos montados em um galpão fechado e corre o risco de não desfilar neste ano. O presidente geral da Nação Guarani, Daniel Amorim, informa que a agremiação não tem recursos para colocar a escola na avenida e, se não receber nenhuma verba vinda do patrocínio de empresas por meio da Lei Rouanet, ou do governo do Estado, não vai desfilar.

— Enquanto não tivermos uma definição vamos ficar parados, não vamos desfilar sem dinheiro para depois ficarmos com dívidas — afirma.

Segundo Amorim, a escola só recebeu R$ 100 mil da prefeitura de Palhoça e não tem condições de ir para a avenida.

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— Estão vendendo uma imagem de Carnaval que não existe. A verdade é que este será o Carnaval da vergonha.

A escola, se desfilar, irá com o enredo O mapa da vida… Linhas e horizontes de uma Nação, que vai mostrar a importância dos mapas no decorrer do tempo, como ele foi importante para os descobrimentos e para a navegação.

Unidos da Coloninha

No barracão da Unidos da Coloninha o samba-enredo embala os trabalhos da equipe do seu Ademir de Oliveira Junior, o Mizinho, carnavalesco e responsável pelos carros alegóricos. Ele conta que os dois carros que irão para a avenida foram montados do zero. Por enquanto, há apenas a estrutura metálica, mas Mizinho garante que até sábado tudo estará concluído.

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— Somos a bicampeã, então a expectativa é muito boa. Pode parecer que não tem nada pronto, mas nossa equipe é muito eficiente e vamos lutar pelo tri. Se você vier aqui na quinta-feira vai dizer que é inacreditável — diz confiante Mizinho.

No barracão há oito pessoas trabalhando o dia inteiro, até o início da madrugada há cerca de 25 dias.

A escola é a campeã do grupo especial do Carnaval 2017 de Florianópolis. Para 2018, a agremiação vai apresentar o enredo Tecnópolis – O Passaporte de Floripa para o Mundo, que conta a história da tecnologia e suas evoluções, incluindo as invenções que saíram de Florianópolis.

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Embaixada Copa Lord

Pé no chão é o lema do seu Antônio Carlos Barbosa, 63 anos, chefe de barracão da Copa Lord. Há aproximadamente 20 dias, ele e uma equipe com 20 pessoas estão no barracão ao lado da Nego Quirido trabalhando duro para colocar a escola na avenida. Segundo ele, toda a montagem dos carros alegóricos foi feita no local. Agora faltam os acabamentos, mas Barbosa reclama da chuva, que atrasa a colagem do material nas estruturas dos carros.

— Essa semana vamos ter que trabalhar dia e noite com duas equipe se revezando para dar tempo. Mas a expectativa é boa, o pessoal tá pegando firme, vamos ver se ganhamos neste ano — diz, confiante.

A Copa Lord promete ir para a passarela com três carros alegóricos. A escola será a quarta a desfilar. Ela vai contar a história do manjericão, a erva conhecida por seus poderes curativos e de limpeza espiritual, que já foi alvo de perseguição até se tornar símbolo de purificação, usada como tempero e, principalmente, nos rituais de diversas religiões e crenças.

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Protegidos da Princesa

A Protegidos da Princesa chegou ao barracão na manhã de segunda-feira, 5. O diretor de barracão, Luiz Carlos de Oliveira, informa que a escola montou tudo em um galpão próprio. Durante esta semana, a equipe comandada por Ivaldo de Souza, o Louro da Protegidos, vai restaurar o que pode ter danificado durante o transporte e terminar de montar a estrutura de ferro.

É o que faz Carlos Eduardo de Castro, 30 anos. Carlos mora em Manaus, mas há dois anos vem para Florianópolis trabalhar no Carnaval. Já cuidou dos carros da Coloninha e este ano se dedica a Protegidos da Princesa.

— Toda a equipe está bem tranquila, estamos com tempo, nada melhor do que trabalhar assim, agora só estamos apertando os parafusos, encaixando as peças, mas tá tudo pronto — conta.

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A escola vai para a passarela com o enredo Das terras kaingangs às terras do futuro! A agremiação vai homenagear todo o Oeste catarinense, desde o povo indígena, passando pela colonização, guerras e conflitos até as grandes festas, como o Carnaval de Joaçaba, a festa Farroupilha, e, claro, o futebol. A escola será a penúltima a entrar na avenida.

Consulado

A última escola a entrar na passarela é uma das mais adiantadas na produção dos carros alegóricos. Segundo a diretora cultural da escola, Gisele Quadros, a equipe montou o barracão no início de janeiro para então começar a montagem da estrutura dos carros.

— Neste ano todas as alegorias estão sendo feitas no Centro Sul, porque a maioria das escolas não tem barracões. Mas os nossos trabalhos estão adiantados, estamos na parte de pintura e decoração — diz.

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Apesar das dificuldades, a equipe, composta por 10 pessoas entre profissionais e voluntários, está trabalhando até de madrugada para dar tempo de deixar tudo pronto para o desfile de sábado. A Consulado terá dois carros alegóricos e uma alegoria menor chamada de elemento alegórico.

— A gente está na luta, a expectativa é boa, estamos ansiosos por causa da chuva, mas estamos na torcida para que dê tudo certo.

A Consulado vai apresentar o enredo Os Sete Reinados do Rei João, uma homenagem a um dos maiores carnavalescos do país João Jorge Trinta, o Joãosinho Trinta, que faleceu em 2011. Em 2018, Joãosinho completaria 85 anos. Na avenida, a agremiação não irá contar a sua biografia, mas os reinados de suas histórias, que serão os condutores do enredo.

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