Uma escola pública de Itajaí viu o desempenho dos alunos melhorar em sala de aula a partir da criação de um projeto inovador de educação financeira. O colégio Aníbal César fundou uma cooperativa de crédito escolar na qual o estudante precisa ter boas notas e comprometimento para ganhar “dinheiro”. Depois, os estudantes têm de fazer “investimentos” para dividir entre todos no fim do ano. Tudo entre aspas, claro.
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A Aníbal Cred tem agência dentro da unidade, funcionários e, inclusive, moeda própria. Segundo a diretora e presidente do Banco Central Estudantil, Elenice Furtado, essa é a primeira cooperativa de crédito escolar do Brasil. Mas para o aluno ter “saldo positivo”, precisa tirar no mínimo 6 na nota processual, que considera assiduidade, pontualidade, tarefas, ações em sala e comportamento.
Quanto maior for a nota em cada disciplina, mais aníbals — nome da moeda criada pelo colégio — o estudante recebe. O bom resultado do boletim pode render até 90 aníbals por aluno. O estudante tem ainda a possibilidade de conseguir um “dinheiro extra”, que é distribuído pelos professores em situações diferentes. É o caso da participação na prova do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
— Isso tem sido um grande sucesso, elevando nossos índices — garante a diretora.
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“O aníbal é superfaturado”
Conferir saldo bancário, fazer saques e depósitos é possível diariamente na agência dentro da escola. Não é incomum ver alunos nos corredores contabilizando os aníbals. E para que o “dinheiro” em mãos seja possível, a cada turno, dois alunos fazem o atendimento — e recebem pagamento mensal na moeda própria da escola. São 1,5 mil alunos, todos cooperados da Aníbal Cred.
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É com o cartão, aliás, que cada estudante pode comprar mercadorias na lojinha montada dentro da agência. Os produtos vêm de doações de comerciantes locais a partir de uma lista de desejos feitas pelos próprios alunos. Os valores nas etiquetas, também definidos em aníbals, não são baixos.
— O aníbal é superfaturado, porque é o peso da responsabilidade. Precisa ser merecido — afirma Elenice.
De olho nas maquiagens e, claro, em passar de ano, Laíse Couto viu no projeto a oportunidade de alavancar as notas para não reprovar e conseguir os produtos que deseja. De quebra, aprendeu como funciona de fato ter uma conta bancária, o que é um novidade para ela, que tem apenas 13 anos. A adolescente garante que a estratégia da escola deu certo:
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— Alguns dos meus aníbals eu consegui com as minhas notas do boletim, que melhoraram bastante, e outros com os trabalhos que eu entreguei em sala. Tipo: de uma nota 5 eu passei para 9, e aí foi aumentando — conta a aluna do 8º ano.
A diretora, uma entusiasta do projeto desenvolvido junto com o professor de Educação Financeira Romero Avelino Marcos, enxerga no trabalho também uma possibilidade de facilitar o acesso de alunos a produtos que nem sempre as famílias poderiam comprar para eles.
— Tem crianças aqui que não vão poder comprar um relógio digital, mas ela se saindo bem em sala de aula, consegue adquirir, e isso vai motivando — pontua Elenice.

De olho no futuro
Se alguns estão focados no “dinheiro”, tem que está pensando no futuro. Mariangel Kaluzinski, de 14 anos, conseguiu uma “vaga” de atendente da Aníbal Cred no contraturno escolar mirando mais uma oportunidade no mercado de trabalho. Hoje ela dedica alguns dias do mês ao “emprego” na agência do colégio. Ali controla depósitos e saques através de planilhas e ainda anota no caderno de caixa.
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Logo, com uma parceria que a escola vai firmar com uma cooperativa de crédito, poderá fazer tudo em um sistema igual ao usado nas agências reais. É em uma delas, inclusive, que planeja trabalhar.
— Eu quero trabalhar com isso, então estou aproveitando para ter essa experiência e aprender sobre as rotinas, como se comportar no local de trabalho — conta.

Aquece o comércio local
A criação da Aníbal Cred refletiu também no comércio do bairro São Vicente, onde fica a escola.
Além da parceria com a doação de produtos para a lojinha onde os alunos podem comprar com os aníbals, comerciantes decidiram dar descontos para quem for comprar e apresentar o cartão da cooperativa de crédito escolar. Em alguns estabelecimentos, os alunos e as famílias podem adquirir produtos com até 20% de desconto.
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— Esse é um trabalho inédito e bastante inovador, porque prepara os alunos para enfrentar os desafios financeiros do mundo real, capacitando-os a tomar decisões responsáveis e a entender o valor do dinheiro — pontua a diretora da escola Aníbal César.
