Aos cinco anos a pequena Bruna Georgi estreou no palco do Teatro Carlos Gomes. No ano de 1987, a bailarina de collant e tutu amarelos – a menor de todas no palco – não poderia imaginar que realizaria o sonho da mãe ao se tornar professora de dança, seria ainda uma das coordenadoras do Pró-Dança e remontaria o espetáculo comemorativo dos 30 anos da escola.

Continua depois da publicidade

— Poder remontar o primeiro espetáculo foi muito legal e mera coincidência, nada premeditado. Estávamos discutindo sobre o fim do ano e o nosso figurinista olhou para o lado, viu o nosso cronograma de espetáculos colado na parede, e questionou porque não fazíamos O Livro Dourado. Só mais tarde me dei conta que essa também foi minha primeira apresentação. Até hoje lembro dos ensaios e até da minha pose final da coreografia — conta Bruna, hoje com 34 anos e professora de danças urbanas.

O Livro Dourado não foi apenas a grande estreia de Bruna, mas também do Pró-Dança. O espetáculo foi dirigido pela então diretora da Maria Beatriz Niemeyer – que durante 29 anos esteve à frente da escola – e voltará aos palcos em dezembro deste ano para celebrar as três décadas da escola do Teatro Carlos Gomes.

Não foram só os primeiros pliés, passés e allongés de Bruna que foram dados ali, a diretora Michelle Silveira Nicoletti, 38 anos, também estreou no sapateado e na vida profissional dentro da estrutura do teatro.

— Em 1995 comecei a dar aula, com 16 anos, substituí a turma da minha professora, que foi para o Rio de Janeiro. Eu e minha colega assumimos a missão, mas ela acabou desistindo e continuei até hoje. O começo não foi fácil, mas sempre sonhei com isso. Com o tempo me aperfeiçoei e ganhei o reconhecimento dos alunos — menciona Michelle.

Continua depois da publicidade

No ano passado a dupla assumiu definitivamente o desafio de coordenar a escola, substituindo a diretora artística Maria Beatriz e o diretor administrativo e financeiro Charles Bretzke, que ficou 15 anos no cargo. As duas toparam o desafio, passaram por um processo de transição e em setembro deste ano celebram juntas os 30 anos da escola, que se adaptou às mudanças, incluiu novas modalidades no currículo e hoje coleciona prêmios e participações em festivais, tendo reconhecimento internacional.

Três décadas, três histórias e três vidas interligadas pela dança. Beatriz, Bruna e Michelle não se conheceriam se o coração delas não batesse em outro compasso quando o assunto é o amor pela arte da dança. Provavelmente o trio traçaria caminhos diferentes se não fosse o encontro, por acaso, dentro do Pró-Dança. Beatriz diz ainda lembrar do rostinho de Bruna e Michelle quando pequenas e fala com orgulho sobre a nova gestão:

— Elas foram as minhas alunas pequenininhas, começaram na escola pequenas e fizeram exame de ballet comigo. A Michelle foi a minha aluna durante muitos anos, já a Bruna buscou outros caminhos fora do Pró-Dança, mas vi elas crescendo, evoluindo e se tornando profissionais. É importante criar, formar, oferecer oportunidades e ver as alunas evoluir. É realmente um ciclo.

As ex-alunas também são fãs de Beatriz e admiram a trajetória de sucesso do Pró-Dança e por isso sabem bem a responsabilidade que têm em mãos. Mas afirmam estar preparadas para os próximos desafios da escola:

Continua depois da publicidade

— É difícil ver no Brasil uma escola com tantos anos, com tanta tradição. A Beatriz sempre soube se moldar, ela escutava os professores, sempre acatou muito a ideia e a opinião dos mais novos. Foi sempre aberta a essas mudanças e isso a gente leva para essa nova gestão, de escutar os professores e continuar se aperfeiçoando – cita Michelle, ao ressaltar a importância de estar sempre atualizada, discurso seguido perpetuado pela ex-diretora da escola.

Maria Beatriz relembra com carinho dos anos em que esteve na direção do Pró-Dança e conta ter produzido todos os espetáculos que idealizou. Em 2016 a ex-diretora se despediu satisfeita pelos capítulos escritos e o histórico de atualização e formação continuada estimulada entre os professores da escola. Ela afirma ter a sensação de missão cumprida ao falar sobre os anos que passou dentro do Teatro Carlos Gomes e assume: em breve vai sentir falta da produção e da correria dos espetáculos de fim de ano.