Nesta quinta-feira (18), às 9 horas, começa a pesquisa internacional no Sambaqui Morro do Ouro, situado ao lado da Ponte do Trabalhador, no bairro Guanabara em Joinville. O trabalho vai envolver dez arqueólogos e vinte estudantes voluntários que vão trabalhar durante três semanas, em uma trincheira de 20 metros quadrados no alto do sambaqui.

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A pesquisa será encerrada em 10 de agosto. O espaço será aberto para visitação do público, com monitoramento da segunda-feira (22). Segundo pesquisa, além de coletores e consumidores de peixes e frutos do mar, os homens dos sambaquis – que viviam na Mata Atlântica há mais de cinco mil anos – também manejavam e cultivavam vegetais como milho, cará, batata doce e outros tubérculos.

A tese está sendo desenvolvida por pesquisadores internacionais da Inglaterra e do Brasil e podem colocar Joinville no centro das atenções do campo arqueológico nos próximos dias. Até então, a arqueologia considerava que os sambaquianos eram apenas coletores.

Os trabalhos são comandados pelo doutor em arqueologia André Carlo Colonese pela Universidade de York, na Inglaterra, com participação de estudiosos da Univille, Museu Nacional do Rio de Janeiro e Museu de Sambaqui de Joinville.

Local aberto ao público

A partir de 22 de julho, interessados em acompanhar as escavações podem comparecer ao local, das 10h às 16h. A visitação estará aberta somente após decorrido quatro dias de escavação para permitir melhor visualização.

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Os 20 estudantes voluntários da escavação são da Univille, Bom Jesus Ielusc e Universidade Federal do Paraná das áreas de biologia, história, artes visuais e comunicação. Esta semana eles foram capacitados no Museu de Sambaqui para saber das atribuições que terão durante as escavações.

Segundo a coordenadora do Museu de Sambaqui, Roberta Meyer, além de peixes e frutos do mar, o consumo de outros alimentos era mera suposição, sem comprovação. Em 2007, a pesquisadora Verônica Wesolowski, da Universidade de São Paulo, descobriu por meio de análises no Sambaqui Morro do Ouro que esses povos também se alimentavam de amido e tubérculos como milho e cará.

Em 2016, a comprovação veio com investigação pelo arqueólogo André Carlo Colonese pela Universidade de York. Ao analisar fragmentos de ossos de costela comprovou o consumo de vegetais. Agora, a partir da próxima semana, o trabalho será aprofundado e poderá colocar Joinville como referência em nova conceituação sobre os usos e costumes alimentares dos homens dos sambaquis.

Os trabalhos comandados por Colonese consistirão em escavações, coleta e bateria de análises de fragmentos, inclusive de DNA, para comprovação e identificação dos vegetais consumidos pelos sambaquianos da Mata Atlântica.

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Os sambaquis

Joinville, por sua localização próxima ao mar, é um dos municípios de Santa Catarina que concentram número expressivo de sítios formados por sambaquis. São 41 sítios arqueológicos em forma de montes, alguns com mais de 25 metros de altura, que contém, entre outros objetos, conchas, esqueletos humanos, pedras e ossos de animais e cerâmicas.

Por serem encontrados muitos esqueletos, supõe-se tratar-se de depósito (cemitério) dos mortos. Eram pescadores, coletores e caçadores que habitavam as praias e mangues e comiam peixe, principalmente.

Durante o período de urbanização, muitos sambaquis foram destruídos. O material retirado dos sítios era utilizado para a fabricação de cal e para o calçamento de ruas. Somente em 1961 tais sítios arqueológicos foram tombados pela União, passando a ser considerados patrimônios históricos e culturais brasileiros.