A diversidade cultural e étnica de Florianópolis, muitas vezes invisibilizada na dinâmica cotidiana, passa a ocupar mais um espaço no Centro da cidade. Nesta terça-feira, 11, foi inaugurada a Feira Afro-Artesanal, que acontecerá todas as terças, das 10h às 17h, nos pés da Escadaria do Rosário.
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A feira conta com barracas onde são comercializadas bonecas, roupas, acessórios, almofadas e obras de arte, entre outros produtos, além de comidas associadas à matriz africana. A escolha do local não foi à toa: a Escadaria do Rosário representa o território negro no centro de Florianópolis.
— A escolha do lugar é emblemática. É a recuperação da nossa memória. A história do Rosário, assim como o pertencimento dos negros à cidade, foi se perdendo ao longo do tempo. Esse processo se encaixa no desejo de recuperação da nossa história — diz o professor Márcio de Souza, cerimonialista da inauguração da feira.
A data de inauguração da Feira Afro-Artesanal também não foi à toa. O dia 11 de julho marca o aniversário da primeira mulher mulher negra a assumir um mandato popular no parlamento catarinense e brasileira, a professora Antonieta de Barros, que se estivesse viva completaria 116 anos. Para marcar a ocasião, uma atriz e um ator interpretaram um diálogo entre Antonieta e o poeta Cruz e Sousa, outro símbolo da luta negra no Estado.
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— O racismo é muito forte em Santa Catarina. Esse espaço é importante para a inclusão e valorização do povo negro, que teve papel fundamental na construção do nosso país – comenta a baiana Milene Sousa, de 37 anos, que veio há quase dois anos para Florianópolis e trabalha com a venda de acarajés.
O secretário de Cultura, Esporte e Juventude representou a prefeitura municipal na inauguração da feira e celebrou a integração e inclusão dos povos por meio da cultura.
— Queremos que esse espaço seja ocupado por todos. Não é só uma feira “afro”, é uma feira de toda a cidade. Queremos fortalecer a raiz negra da cultura florianopolitana.
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Além da Feira Afro-Artesanal, na primeira terça-feira de todos os meses, exceto em caso de chuva, acontece o projeto Samba de Terreiro, com música ao vivo. A Escadaria do Rosário ganhou mais uma atividade e, a partir desta semana, todas as sexta-feiras serão dia de samba com a velha guarda da Escola de Samba Dascuia, das 18h30 às 21h.
Representatividade
Entre os objetos comercializados na Feira Afro-Artesanal, estão bonecas de pano com a pele negra. Quem as confecciona é Maria da Conceição, de 52 anos, que viu neste trabalho lúdico a saída para um princípio de depressão. Além de elevar sua autoestima, a manufatura das bonecas é um marco para a representatividade da população negra.
— Quando fazia bonecas de plástico, cansei de ter que comprar cabecinhas brancas. As bonecas em lojas de brinquedo são quase todas brancas. Sempre que perguntava se tinha negras, me diziam que estavam em extinção. Assim, decidi começar a fazer bonecas negras — conta, feliz da vida por ter comercializado alguns exemplares logo na primeira hora de feira.
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O artista plástico Bruno Barbi também levou seus trabalhos à feira. Branco de pele, Bruno expõe uma série de pinturas que mostram figuras públicas brancas com a pele negra e acessórios típicos da cultura africana. Entre os retratos, estão Frida Kahlo, Rita Lee, Vinícius de Moraes, Madre Teresa de Calcutá e John Lennon.
— É um sinal de respeito, reverência e homenagem. No meu lugar de homem branco, quero fazer o oposto do que a História sempre fez. A História embranquece o Machado de Assis, o Cruz e Sousa. Eu pego personalidades brancas que contribuíram positivamente para a História e pinto eles com a pele negra — comenta.