Títulos, casa de times de Joinville, lembranças apaixonantes e até palco para Pelé jogar. Inaugurado em 16 de abril de 1933, o estádio Ernesto Schlemm Sobrinho, conhecido como Ernestão, completa 90 anos neste domingo. Apesar das arquibancadas desgastadas e o silêncio predominante no gramado, o local é um símbolo da cidade e está na memória dos torcedores do Caxias e JEC.
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Para o historiador e coordenador do Arquivo Histórico de Joinville, Dilney Cunha, o Ernestão é um marco para a cidade, já que foi o primeiro estádio “oficial” da cidade. Antes dele, o Caxias jogava em um campo localizado na Rua Henrique Meyer, onde hoje é o hotel Tannenhof. No fim da década de 1920, porém, Ernesto Schlemm Sobrinho, sócio do clube, cede o terreno na Rua Coronel Francisco Gomes ao clube por 15 anos.
— A população recebeu o estádio de forma positiva, o público sempre prestigiou. Os clássicos contra o América sempre levavam muita gente ao estádio — destaca.
Nas partidas de inauguração, vitórias do Caxias sobre o Coritiba, por 3 a 1 e 6 a 0, nos dias 16 e 17 de abril de 1923, respectivamente. O Ernestão também foi palco de campanhas gloriosas do gualicho, em destaque para os títulos estaduais de 1954 e 1955, além de receber Pelé, em 1957, para uma partida entre América e Santos.
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— O Pelé pisou no Ernestão. Segundo consta, foi a primeira vez que ele jogou fora de São Paulo. O Santos venceu. No ano seguinte, Pelé foi campeão da Copa do Mundo, dando início à lenda e ao mito — comenta.

Outro momento marcante no local citado por Dilney é a primeira partida do Joinville, em 1976, realizada contra o Vasco, atraindo centenas de torcedores do clube que havia sido recém-fundado.
— Uma lotação absurda, tinha gente no muro, nas grades, refletores, só faltou ter gente na torre do Santuário Sagrado Coração de Jesus Sagrado Coração — brinca o historiador.
O duelo terminou empatado em 1 a 1, com gols de Tonho e Roberto Dinamite.

Apesar de dar nome ao estádio, Dilney conta que há poucos registros sobre quem foi Ernesto Schlemm Sobrinho.
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— Ele era filho de família do setor industrial, uma família tradicional da cidade, mas é difícil saber coisas sobre ele. Procurei no Arquivo e não encontrei referências — conclui.
“Memórias não se apagam”, crava Nardela
Em Joinville desde os 22 anos, Nardela, maior ídolo do JEC e um dos atletas que fez história no Ernestão, chegou a morar no alojamento que ficava nas dependências do estádio em 1980. O ex-jogador atuou por 12 anos no estádio e se emociona ao lembrar das conquistas.
Nardela conta que sua história com o Joinville se fez no estádio e que lembra de todos os momentos vividos no local, incluindo os treinos, funcionários e até a amizade com vizinhos da “cancha” e moradores do bairro.
— Eram torcedores e tínhamos amizade. O seu Alírio, por exemplo, que tinha um restaurante e fazia uma costela muito boa. Mais a frente tinha um pessoal do bilhar. Viramos amigos dos vizinhos — lembra.
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Dentro de campo, duas lembranças marcam a memória do ídolo joinvilense. Uma delas é pelo placar: uma vitória de 4 a 1 contra o Criciúma e o título de campeão Catarinense. A outra, no início dos anos 1980, em uma partida contra o Corinthians, as condições climáticas e o extra-campo chamam a atenção.
— Tinha muita neblina e queimaram pneus ao redor do campo para dissipar ela. Não sei se funcionava. Um jogo bem diferente e ganhamos de 2 a 0. Nosso time era praticamente imbatível no Ernestão — celebra.
Nardela diz que já esperava que o estádio iria se transformar, principalmente após a construção da Arena Joinville, porém, as lembranças serão eternas para ele e a torcida.
— Embora fisicamente tenha mudado, as memórias não se apagam. Pode mudar tudo, mas quem conviveu com o Ernestão não terá a memória apagada. O Ernestão está marcado na história da cidade — reflete.
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Presidente do Caxias diz que Ernestão virou complexo esportivo
Com uma vida dedicada ao Caxias, Norberto Gottschalk, presidente do clube, diz que o Ernestão está há 90 anos servindo a comunidade joinvilense, além de ser um templo do futebol de Santa Catarina, destacando grandes jogadores que já pisaram no gramado do estádio, como Roberto Rivellino, Roberto Dinamite e Norberto Hoppe, maior ídolo da história do gualicho.

Além de abrir o Caxias, o Ernestão já foi e é utilizado pela Secretaria de Esportes (Sesporte) para realizar jogos escolares e o 62º Batalhão de Infantaria promove as olimpíadas e jogos militares.
No estádio, ele jogou pelo Caxias quando adolescente. Depois, foi treinador e, hoje, administra o clube. As lembranças são inúmeras. Entre elas, uma vitória contra o Avaí, em 1975, quando a equipe da capital era ampla favorita.

— Eles vieram achando que seria fácil e levaram 2 a 0. Uma festa tão grande que a torcida se recusava a sair do estádio — lembra.
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Depois, em 2003, o 2 a 1 sobre o Figueirense, na primeira partida da final do Campeonato Catarinense. Naquele ano, o Caxias ficou com o vice-campeonato.
Já no amador, a vitória de 2 a 1 sobre o América, na final da primeira divisão de Joinville, em 1996, também se destaca. Vencer o rival trouxe o título para a equipe da Zona Sul.
— São momentos que eu não esqueço — fala, emocionado.

Empreendimentos marcam nova fase do Ernestão
Após negociações e decisões administrativas, atualmente o Ernestão abriga diversas quadras esportivas, incluindo quadras de futebol society, vôlei de areia e salões de festas. Além disso, o local passa por diversas reformas, incluindo na cobertura da arquibancada.
Um dos empreendedores é Henrique Bueno. Sócio das quadras de futebol, ele conta que realizou um acordo para administrar o espaço por 15 anos. O patrimônio é do Caxias e o contrato pode ser renovado após o término previsto para duas décadas e meia.
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O objetivo, conforme ele, é promover vida social ao estádio, realizando a locação das quadras, escolinhas e festas. Henrique afirma que a “marca” Ernestão é fundamental para o sucesso do local.
— Estamos na região central, em um ponto histórico da cidade. Promovemos o clube e é um orgulho para a zona Sul da cidade. Há moradores que vêm nas quadras e dizem que o Caxias está respirando novamente — destaca.

Para o futuro, ele explica que a proposta é, entre dois e cinco anos, instalar iluminação no campo principal e promover mais funções ao estádio.
— Pessoas vêm aqui com várias receitas de bolo, mas estamos sendo reconhecidos no ‘boca a boca’. A ideia é crescer cada vez mais — finaliza.
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