De volta a Ancara pela primeira vez desde a tentativa de golpe de Estado no país, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, presidiu nesta quarta-feira (20) uma reunião do Conselho de Segurança Nacional de quase cinco horas, em meio ao embate com a oposição.

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A seus simpatizantes em Istambul, Erdogan informou que, após a reunião, fará um anúncio “importante”, nesse momento de instabilidade no país.

“Quase diariamente são tomadas novas medidas que são contrárias a um modo de atuação respeitoso com o Estado de Direito”, declarou à imprensa Steffen Seibert, porta-voz da chanceler alemã, Angela Merkel, referindo-se às represálias de Erdogan.

Cinco dias depois da tentativa de golpe, cerca de 55.000 pessoas, principalmente policiais e professores, foram suspensos de suas funções, ou demitidos, de acordo com balanço da AFP com base em números oficiais e da imprensa turca.

Mais de 9.000 suspeitos foram presos, ou detidos de forma provisória, embora não esteja claro se eles estão incluídos nos 55.000 citados anterioremente.

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No Palácio presidencial, o homem forte da Turquia dirigiu um Conselho de Segurança Nacional que durou quase cinco horas, antes de presidir o conselho de ministros. Segundo a agência de notícias pró-governo Anadolu, espera-se a divulgação de um comunicado após essas reuniões.

Erdogan, fortalecido

A capital viveu intensamente a tentativa de golpe militar, com helicópteros e caças voando baixo e bombardeando partes do Parlamento e da sede de Polícia. Também se atacou os arredores do Palácio Presidencial, local de ambas as reuniões.

Um novo balanço oficial eleva para 312 o número de mortos na revolta, civis em sua maioria.

Ambas as reuniões aconteciam, no momento em que o governo estende seu processo de depuração em massa ao Exército, à Polícia, ao Poder Judiciário e à educação.

Nesta quarta de manhã, o Conselho de Ensino Superior (YÖK) turco proibiu os professores universitários de fazer qualquer viagem de trabalho ao exterior. Determinou ainda que as universidades com professores fora da Turquia voltem ao país o quanto antes, salvo em caso de “necessidade imperiosa”.

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Hoje, o Exército voltou a bombardear posições dos rebeldes curdos do PKK no Iraque, para deixar claro seu controle absoluto sobre a Força Aérea e sobre o restante das Forças Armadas.

Embora a identidade dos responsáveis pelo golpe continue sendo incerta, o suspeito de ser seu principal executor é o general Akin Oztürk, autoridade máxima da Força Aérea. Ele está preso, enquanto espera por seu julgamento.

No momento da tentativa de golpe, Erdogan se encontrava na estação balneária de Marmaris, no sudoeste do país, e voltou às pressas para Istambul, onde permanecia desde então.

Os acontecimentos fortaleceram sua imagem em seu reduto político, Istambul, onde conseguiu levar a população em massa às ruas para apoiá-lo, como também aconteceu em outras cidades, como Ancara, ou Izmir (oeste).

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Uma autoridade turca disse à AFP que o presidente chegou a Ancara na terça à noite. Lá, pela primeira vez desde a tentativa de golpe, Erdogan recebeu um líder estrangeiro para uma reunião bilateral: o primeiro-ministro georgiano, Guiorgui Kvirikashvili, simbolizando a volta à normalidade institucional.

Na terça-feira, as autoridades pediram a renúncia de mais de 1.500 decanos do setor universitário, além de suspender 15.200 funcionários do Ministério da Educação. Esses funcionários são suspeitos de terem ligação com o pregador Fethullah Gülen, acusado pelo governo de promover o golpe a distância. Gülen rejeitou as acusações.

O Alto Conselho de Rádio e Televisão turco (RTÜK) anunciou a retirada de concessões de cerca de 20 emissoras de televisão e de rádio vinculadas a Gülen, ou seja, os veículos ligados ao FETÖ/PDY, acrônimos do movimento do clérigo.

Levando em consideração o quadro atual, a agência de classificação financeira SP Global Ratings anunciou hoje a redução da nota soberana da Turquia, que passou de BB+ para BB.

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Também nesta quarta, as autoridades turcas bloquearam o acesso à plataforma WikiLeaks, depois do vazamento de quase 300.000 e-mails de lideranças do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), que está no poder na Turquia.

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