O presidente islamita conservador turco, Recep Tayyip Erdogan, anunciou nesta terça-feira uma investigação interna sobre os atentados de sábado passado em Ancara que deixaram 97 mortos, e que provocaram uma enxurrada de protestos contra o regime a duas semanas das eleições.
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Em sua primeira aparição pública desde o pior atentado na história do país, Erdogan informou que pediu esta investigação ao Conselho de Inspeção do Estado (DDK) “para fornecer uma perspectiva diferente”.
“Sem dúvida houve um erro, uma falha em algum momento. De que dimensão? Isso sairá após a investigação”, afirmou.
Erdogan disse que, “segundo os relatórios recebidos” pela Turquia, “este ataque terrorista teve suas origens na Síria”.
O DDK é o organismo encarregado de verificar o bom funcionamento dos mecanismos do Estado, e recentemente investigou as circunstâncias em torno da morte do ex-presidente Turgut Ozal, que faleceu em 1993 em circunstâncias controversas.
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Há três dias Erdogan é alvo de duras críticas por parte de seus adversários, em particular a oposição pró-curda, que o acusa de ser responsável pelo massacre de sábado.
O chefe do Partido Democrático dos Povos (HDP), Selahattin Demirtas, declarou que Erdogan menosprezou deliberadamente a segurança dos partidários da causa curda em Ancara, quando se preparavam para se manifestar pela paz, momento em que as bombas explodiram.
Demirtas também acusou Erdogan de manter vínculos com os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI).
Durante uma entrevista concedida na segunda-feira à rede de informação CNN-Turk, Demirtas opinou que “o Estado Islâmico não pode ter cometido um atentado deste tipo sem o apoio do Estado turco”.
Davutoglu designou na segunda-feira o EI como “suspeito número um” do atentado.
O vice-primeiro-ministro Numan Kurtulmus, porta-voz do governo, indicou que ocorreram várias detenções após o atentado de Ancara. Kurmultus disse que este ataque apresentava similaridades com o que deixou 34 mortos em 20 de janeiro em Suruç, perto da fronteira síria.
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Segundo o jornal Hurriyet, o DNA de um dos supostos suicidas de Ancara indicaria que se trata de um jihadista conhecido por ter combatido na Síria.
A Turquia foi acusada durante muito tempo de ser complacente com os jihadistas do EI na Síria. Mas após o atentado de Suruç o governo islamita-conservador de Erdogan lançou uma série de ataques aéreos contra os jihadistas, e paralelamente contra os curdos na Síria.
Manifestações
Desde as eleições de 7 de junho, a tensão entre o chefe de Estado e o HDP, o terceiro partido no Parlamento, está em seu nível máximo. Com 13% dos votos e 80 assentos, o HDP contribuiu amplamente para fazer o partido de Erdogan perder a maioria absoluta.
Por sua vez, o poder acusa o HDP de cumplicidade com os terroristas do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), com a esperança de atrair o eleitorado nacionalista.
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Desde sábado, as manifestações se sucedem em todo o país ao grito de “Tayyip assassino”.
Nesta terça-feira a polícia dispersou violentamente uma concentração em homenagem às vítimas no distrito de Kadikoy, em Istambul, e deteve quatro pessoas. Outros protestos foram registrados no centro de Ancara, constatou um fotógrafo da AFP.
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