Para uns, ele é o “salvador da Turquia”, para outros, um ditador. Apesar de ser um líder indiscutível do país há 13 anos, Recep Tayyip Erdogan é um político cada vez mais questionado.
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Seu sonho de instaurar uma “superpresidência” fracassou nas eleições legislativas de junho passado. Apesar de envolver-se pessoalmente na campanha, seu Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) perdeu a maioria absoluta no parlamento.
Longe de se deixar amedrontar, Erdogan, apelidado de “o sultão”, insistiu.
Durante semanas, deixou que as negociações estagnassem para a formação de um governo de coalizão e, ao constatar seu fracasso, convocou novas eleições, pela quarta vez em dois anos, convencido de que poderia se recuperar.
Mais discreto do que em junho, continuou fazendo campanha por “um governo de um só partido”.
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“Não cheguei a esse posto caindo do céu”, afirmou, lembrando que foi eleito com 52% dos votos em agosto de 2014.
Com 61 anos, Erdogan continua sendo o chefe político mais popular e carismático de seu país desde Mustafá Kemal Ataturk, o emblemático pai da República laica.
Ele virou chefe de governo em 2003 durante uma grave crise financ
eira. Para seus partidários, é o homem do milagre econômico e das reformas que liberaram a maioria religiosa e conservadora do país do jugo da elite laica.
Mas também se converteu nos últimos anos na figura mais criticada na Turquia, denunciado por sua tendência autocrática e islamita.
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A operação lançada contra duas redes de televisão ligadas à oposição só fizeram reforçar a preocupação de quem – como o chefe da oposição, Kemal Kiliçdaroglu -, o acusa de querer “restabelecer o sultanato”.
Luxuoso, gigantesco e extravagante, o palácio de 500 milhões de euros no qual se instalou há um ano na periferia de Ancara se converteu em símbolo de seu “delírio de grandeza”.
De vendedor ambulante a presidente
Filho de um oficial da guarda costeira, Erdogan se orgulha de ter origem simples.
Ele cresceu em um bairro popular de Kasimpasa em Istambul, onde foi educado em um colégio religioso e mais tarde foi vendedor ambulante. Durante um tempo, sonhou em ser jogador de futebol, mas acabou se lançando na política, dentro do movimento islamita.
Eleito prefeito de Istambul em 1994, triunfou em 2002, quando seu partido AKP ganhou as eleições legislativas. Ele se transformou em primeiro-ministro um ano depois, já anistiado de uma pena de prisão por ter recitado um poema religioso em público.
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Durante anos, seu modelo de democracia conservadora, aliando capitalismo liberal e islamismo moderado, logrou êxitos, graças ao crescimento econômico e a seus planos de entrar na UE.
Reeleito em 2007 e 2011, ambicionou se manter no poder até 2023 para celebrar o centenário da República turca.
O cenário, entretanto, complicou-se em meados de 2013, quando durante três semanas mais de três milhões e meio de pessoas saíram às ruas para pedir sua renúncia, em um sinal de reprovação à sua mão de ferro e à sua política cada vez mais islamita.
Erdogan respondeu aos protestos com uma dura repressão. Seis meses depois, um escândalo de corrupção fez tremer as bases de seu governo.
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Sua posição ficou ainda mais frágil nos últimos meses. Seus rivais o acusam de ter reavivado o conflito curdo e seus discursos provocadores inquietam cada vez mais. Uma pesquisa recente revela que 64,8% dos turcos o temem.
Erdogan ri de quem o chama de “ditador”, mas persegue por “insulto” todos os seus rivais, jornalistas ou cidadãos mais questionadores.
Embora tenha prometido respeitar o veredito das urnas neste domingo, alguns duvidam que Erdogan acabe aceitando dividir o poder.
* AFP