Poucas pessoas sabem, mas um catarinense de Seara, no Oeste, tem uma participação importante na inédita conquista da medalha de ouro pela seleção olímpica na Rio 2016. Erasmo Damiani é o atual coordenador das categorias de base da Confederação Brasileira da Futebol (CBF) e um dos homens que trabalha na reformulação do futebol do país.
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Ao contrário do que se possa imaginar, a história dele no esporte começou com o atletismo. Damiani era corredor de 400m, mas sempre nutriu uma grande paixão com o futebol. A admiração pelo esporte cresceu quando foi treinar atletismo no Rio de Janeiro, ainda jovem, com o preparador físico Carlos Alberto Lanceta, que foi do Botafogo, do Flamengo e da Seleção Brasileira.
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– Eu disse ao Lanceta que quando parasse de correr queria entrar no futebol. Quando retornei a Florianópolis, onde minha família morava, fiz estágio como preparador físico no Figueirense e cheguei a trabalhar com futsal na Elase. Depois voltei ao Figueirense como preparador físico e passei pelo Avaí, Joinville e Tubarão – lembra Damiani.
A coordenação das categorias de base da CBF veio em março do ano passado e foi resultado de muito trabalho e experiência de 12 anos no trato com jovens atletas. Em Santa Catarina, Damiani foi o responsável pela transformação da base do Figueirense, retornou ao clube em 2004 e ficou até 2010. Foi no Furacão que conheceu seu parceiro na conquista olímpica, o treinador Rogério Micale.
Em 2005 foi assistir a um jogo entre Atlético-PR e Londrina, time que era comandado por Micale. Explica que gostou muito do que viu, era uma equipe bem postada em campo e decidiu trazer o treinador para compor o trabalho de base no Alvinegro. Juntos, eles conquistaram o título da Copa São Paulo de Futebol Júnior, em 2008, um grande feito para o futebol de base de Santa Catarina.
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– Coincidência ou não, fomos campeões da Copa São Paulo com a defesa menos vazada. E agora, somos campeões olímpicos também com a melhor defesa da competição – destaca orgulhoso Damiani.
Como foi a sua chegada a CBF?
Quando eu assumi tive liberdade para montar, juntamente com a equipe, a estrutura que imaginávamos ser a ideal. Fizemos uma coisa que não se fazia no Brasil, buscamos treinadores que trabalham com a respectiva categoria há muito tempo e a mudança se refletiu na sub-15, sub-17 e sub-20. Com a saída do Micale do Atlético-MG e a chegada dele na CBF em 2015. Nossa primeira conquista importante foi o vice-mundial sub-20.
O que tem sido feito para transformar o futebol de base na seleção?
Tentamos resgatar o nosso futebol, o estilo de jogo do brasileiro e aliar a algumas coisas que o resto do mundo trabalha, como organização, participação de todos, empenho dos jogadores e fazer os atletas entenderem o que está sendo trabalhado. Essa foi uma linha que começamos a traçar desde a sub-15 até a sub-20. Hoje os três treinadores têm uma metodologia muito parecida de trabalho. Isso facilita para o atleta, que vai subindo de categoria e sabe o que está sendo feito.
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O segundo passo, que não se fazia no Brasil e passamos a fazer era convocar os nascidos em anos ímpares. As grandes competições como o Mundial Sub-20 e a Olimpíada incluem os nascidos em anos ímpares, então começamos a convocar esses atletas e já os preparamos para as competições do Sul-Americano e do Mundial no ano que vem. E os nascidos em 1999 já são preparados porque são eles que podem nos classificar para a Olimpíada de Tóquio, em 2020.
Como será o trabalho de agora em diante?
Depois da nossa conquista precisamos ver se a CBF vai levar o projeto da seleção olímpica adiante. Esses dois anos de preparação foram importantes, imagina se fizermos quatro anos de preparação para a próxima Olimpíada. Para isso, precisamos saber o que a instituição pensa e se vai manter o mesmo grupo de trabalho. Sabemos que o Micale entra no mercado da bola e deve ter propostas de outros clubes agora.
Dois jogadores de clubes catarinenses foram convocados para a seleção Sub-20, Gabriel, do Avaí e Marlon, do Criciúma. Como você vê o trabalho de base em SC?
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O trabalho de base no Estado é importante. Se olhar há 10 anos Santa Catarina não estava no cenário nacional. Com a nossa chegada na CBF começamos a olhar o mercado que estava esquecido. Antes, olhava-se muito os grandes centros como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e, às vezes, a Bahia. Agora olhamos o mercado todo. A convocação do Gabriel e do Marlon mostra que Santa Catarina tem atletas bons e prontos para representar a seleção brasileira.
Que conselho daria para os clubes com relação a base?
Acho que os clubes precisam olhar mais para as categorias de base e fortalecê-las porque é o que dá retorno e na hora que precisa terá que procurar na base para recompor o grupo ou fazer uma venda futura.
Passados três dias da conquista do ouro, qual a sensação?
A ficha ainda não caiu direito. Foram 64 dias bem agitados, desde a convocação dos atletas. Tive que organizar os horários para conseguir falar com os jogadores. O Renato Augusto, por exemplo, estava na China, conversava com ele quando aqui era de madrugada. Dormia um pouco e fazia contato com os atletas da Europa. Foi cansativo, mas valeu a pena, com certeza.
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