Na semana em que o Hospital Santo Antônio, em Blumenau, anunciou o fechamento parcial do pronto-socorro, o Santa conversou com o novo presidente do Conselho Curador da unidade. Sócio-fundador de uma das empresas mais bem conceituadas do ramo de software, Jorge Cenci assumiu o cargo no dia 31 de março com a missão de determinar os rumos da fundação pelos próximos dois anos.
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Ele está em viagem pelo exterior, mas atendeu à reportagem do Santa por e-mail. Na entrevista, abordou a situação enfrentada pelo hospital para que chegasse ao ponto de precisar manter o atendimento apenas de urgência e emergência. Pontuou ainda os desafios financeiros e estruturais, bem como os planos para o futuro da unidade de saúde.
Confira na entrevista a seguir:
– O que motivou o senhor a se dispor para assumir o Conselho Curador do Santo Antônio?
Tenho comigo que nos cabe, como cidadãos, (dedicar) uma parcela do nosso trabalho a uma causa desta natureza. Ou seja, trabalharmos em prol da sociedade, aplicando nosso conhecimento e experiência adquiridos.
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– Como a experiência no comando da Senior pode ajudar na gestão do hospital?
Penso que a experiência acumulada é algo que posso aplicar na gestão do Hospital Santo Antônio. Mesmo sendo diferente do dia a dia na gestão de uma atividade privada, acho que é possível contribuir para uma causa como esta. Sei que os desafios são tantos e diferentes. Precisamos em especial pensar num planejamento estratégico. Mesmo sendo uma atividade de prestação de serviços na área da saúde, o planejamento se faz necessário. Só assim saberemos onde queremos chegar a curto, médio e longo prazo.
– Qual o cenário que o senhor encontrou no Hospital Santo Antônio?
Entendo que o Hospital Santo Antônio está bem alinhado com os princípios de gestão quando comparado a outros hospitais. Contudo, os desafios são muitos, desde a questão relacionada à área financeira e outras questões que demandarão ações, como é o caso da melhoria das acomodações, ampliação de algumas áreas de serviço e na busca incansável na melhoria do atendimento, com equipes treinadas e com equipamentos tecnologicamente atualizados, gerando menos custos e maior eficiência e segurança no atendimento.
– Qual é a situação das contas do hospital?
Estamos um pouco aquém do ideal. Necessitamos trabalhar para buscar eficiência operacional em todos os serviços prestados. Além de ampliar a oferta para convênios e particular, e novas habilitações em alta complexidade para o Sistema Único de Saúde (SUS).
– O maior credor do hospital hoje é governo? De quanto é esse débito e como a unidade trabalha para cobrar?
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Grande parcela da geração de recursos (faturamento) é por meio do SUS, cuja tabela não sofre atualização há 20 anos. Outro agravante é o chamado “extra teto”, que são valores que vêm acumulando ano a ano, fazendo falta ao fluxo de caixa do hospital, já que estes valores se referem a serviços prestados além do contratado e não recebidos. Outros valores de menor expressão também estão pendentes por parte do governo municipal e estadual. Quanto à cobrança, estamos em contato permanente com as partes. Esperamos ter sucesso nesta tarefa. O valor total dos créditos (em favor do hospital) gira em torno de R$ 10 milhões.
– O senhor está ciente da situação que comprometeu o atendimento do pronto-socorro nesta semana?
Estou neste período em viagem pelo exterior, mesmo assim estou sendo atualizado o tempo todo. Mas neste momento a equipe médica e gerencial está procurando fazer o melhor, já que houve uma demanda acima do normal na área da pediatria com doenças respiratórias, demandas de acidentes que ocorreram, entre outros.
– Algo pode ser feito pelas autoridades de saúde para reverter ou é uma situação que depende do comportamento da população?
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Penso que são as duas coisas. Já é de conhecimento que há uma procura muito grande para atendimento no pronto-socorro do hospital, sendo que grande parte destes deveriam procurar a atenção primária (estimado em 67%). Por outro lado, entendo que cabem, sim, ações por parte das áreas públicas da saúde.
– Mais profissionais atendendo no pronto-socorro resolveria a situação ou a estrutura não comporta a demanda e exige outras medidas?
No momento em que há uma demanda mais acentuada, naturalmente toda a estrutura pode ficar subdimensionada. Por exemplo, nos dias normais o índice de ocupação dos leitos fica sempre próximo a 100%. Vale frisar que o Hospital Santo Antônio não atende somente ao público de Blumenau, mas também os municípios para os quais somos referência.
– O hospital é sustentável no seu entendimento?
Atualmente não se apresenta sustentável. Precisamos, como dito anteriormente, buscar soluções de eficiência operacional e aumento de receita.
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– O que o senhor projeta para a sua gestão?
Melhoria das instalações de uma forma geral e, por consequência, aumentarmos a oferta de serviços.
– Quais investimentos o senhor tem como prioritários para os próximos dois anos?
Precisamos pensar num projeto de ampliação da área construída. A fundação finalizou através do serviço de engenharia o seu Plano Diretor, que contempla todas as mudanças e construções futuras, rumo ao crescimento físico do hospital.
– Prevê a compra de novos equipamentos e ampliações?
Sim. O hospital tem como prioridade neste momento a nova central de material e esterilização, onde se fará necessária a compra de equipamentos específicos de alto valor. Também objetivamos a instalação de um aparelho de ressonância magnética e outros equipamentos menores de uso contínuo para o funcionamento do hospital.