A sala de debates do 40º Festival de Gramado ficou pequena diante da grande quantidade de jornalistas, críticos e curiosos dispostos a ouvir Fernando Meirelles e Maria Flor, no início da tarde deste sábado. Atrasado devido ao jogo entre Brasil e México, o primeiro debate desta edição do evento teve revelações e curiosidades sobre 360, produção internacional dirigida por Meirelles que estreia no circuito comercial na próxima semana.

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_ Adoro Robert Altman e seus filmes corais (Short Cuts entre eles), então sempre pensei em fazer um _ explicou Meirelles. _ Mas é algo que não farei de novo. Essa coisa de várias histórias paralelas amarradas é interessante, mas é difícil aprofundá-las. A gente fica querendo falar mais de cada personagem, mas não tem tempo.

O diretor disse estar satisfeito com o longa, mas afirmou considerar o roteirista Peter Morgan (de Frost/Nixon) “mais autor” do filme do que ele próprio:

_ Não interferi em nada do roteiro, a não ser nas imagens que registram as passagens entre uma história e outra. O Peter participou muito até das escolhas dos atores e da montagem. No meu próximo filme, Nêmesis (sobre o armador grego Onassis e suas relações conturbadas com a família Kennedy), construí todo o roteiro juntamente com o Bráulio Mantovani. Estava sentindo muita falta disso, ainda mais do que voltar a filmar no Brasil.

Sobre a polêmica envolvendo Xingu, filme de Cao Haburger do qual Meirelles é produtor, o diretor de Cidade de Deus afirmou não estar mais tão decepcionado com seu resultado de bilheteria _ mas segue dizendo que a carreira do longa de temática indígena nos cinemas o demoveu da ideia de adaptar Grande Sertão: Veredas:

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_ Xingu já chegou a quase 400 mil espectadores, o que não é ruim, né? Ele só estreou mal, depois foi se recuperando. Mas não me parece que o público brasileiro queira ver filme de jagunço.

Um dos melhores momentos da discussão foi quando Meirelles e Maria Flor contaram sua experiência de trabalhar com Anthony Hopkins, um dos atores do longa ao lado de Ben Foster, Moritz Bleibtreu, Rachel Weisz e Jude Law.

_ Ele nos disse: quero fazer não o personagem do filme, mas eu mesmo _ contou Maria Flor, revelando que, assim como o seu personagem, Hokins é um ex-alcoólatra. _ Pode revelar isso, gente? Acho que sim, né, está na internet. Ele é muito fofo, e a experiência de trabalhar com ele é única, mas é bem mais difícil do que contracenar com o Ben Foster (de O Mensageiro), por exemplo. Ele é tão técnico, tão focado em sua performance que é difícil acompanhar, a gente não constrói nada juntos, diferentemente do Ben, com quem a cena vai se fazendo a partir dos dois atores. Falei: tenho de ir junto, apenas tentar acompanhá-lo. A sequência dos Alcoólicos Anônimos (em que o personagem de Hopkins conta sua história de maneira comovente) resume muito isso tudo: aquilo ali é ele, mais do que o personagem, e para encontrar o tom ele se fecha de maneira incrível em si mesmo. É tão econômico. Foi emocionante.

Quando terminou o divertido debate do segundo filme da noite anterior, a comédia romântica jovem Eu Não Tenho a Menor Ideia do que Tô Fazendo com a Minha Vida, de Matheus Souza (o diretor de Apenas o Fim), já era perto de 15h. A partir deste domingo, as discussões sobre os filmes projetados no Palácio dos Festivais começam às 11h, na Sociedade Recreio Gramadense.

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