O envelhecimento populacional brasileiro vem crescendo consideravelmente nos últimos anos. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em agosto de 2024, o número de idosos quase triplicou entre 2000 e 2023. Comparado aos números de 2010, em duas décadas, a população brasileira com 60 anos ou mais passou de 15,2 milhões para 33 milhões de pessoas. Ainda segundo o IBGE, 38% da população brasileira terá mais de 60 anos em 2070. A aceleração do envelhecimento populacional acende um alerta para a saúde mental das pessoas idosas, principalmente em relação a autonomia.
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Pesquisas apontam que esta aceleração implica, inclusive, na mudança de perfil de adoecimento e traz repercussão para a saúde e políticas públicas que enfatizam a promoção de saúde mental, incluindo a manutenção da autonomia e valorização das redes de suporte para essa faixa da população.
A saúde mental não se caracteriza pela ausência de transtornos mentais, mas sim pela presença de “um estado de bem-estar no qual a pessoa consegue utilizar os seus potenciais, consegue lidar com o estresse normal da vida, trabalha de modo produtivo e contribui para sua a comunidade”, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O pesquisador Alfredo Cataldo Neto coordena o Grupo de Pesquisa Envelhecimento e Saúde Mental (GEPSM), na PUCRS, que se propõe a estimar a prevalência e a incidência de transtornos mentais, identificando manifestações clínicas, psicológicas, de personalidade e comportamentais, que integram fatores preditores e manifestações precoces desses transtornos.
Segundo o pesquisador, na terceira idade, acontecem diversas mudanças na vida pessoal e profissional das pessoas, além de sintomas físicos e psíquicos. Por mais que esse processo seja natural, essas mudanças na vida e no âmbito social podem afetar a saúde mental dos idosos. A mesma visão é compartilhada pela psicóloga Taynara Gonçalves.
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— Entre as coisas que influenciam na saúde mental estão aquelas que deixam eles incapazes, precisam de ajuda para isso ou aquilo, mas existem abordagens que podem ser realizadas por canais diferentes. Você precisa ir fazendo testes, ver o que funciona, para conseguir entender o que tá acontecendo com aquele idoso — explica.
Depressão e ansiedade são os principais diagnósticos
De acordo com a pesquisa Panorama da Saúde Mental, co-idealizada pelo Instituto Cactus e AtlasIntel, apenas 2% dos idosos (pessoas com 60 anos ou mais) relatam fazer psicoterapia. Isso representa menos de um terço da população nessa faixa etária no Brasil, sendo a menor taxa entre todos os públicos.
Um estudo multiprofissional, realizado pela PUCRS em diferentes áreas de saúde com uma amostra de idosos de Porto Alegre, investigou as principais patologias neuropsiquiátricas desta faixa etária. Foram constatado altos índices de depressão (30%), ansiedade (9%), alcoolismo (6,5%) e risco de suicídio (15%) entre o grupo. Ao todo, foram ouvidos 578 indivíduos de 60 anos ou mais, participantes do programa Estratégia Saúde da Família (ESF).
A psicóloga Taynara associa esse estigma à perda de identidade que os idosos enfrentam quando começam a depender de outras pessoas. Segundo ela, é necessário buscar a “virada de chave” que fez o idoso perceber que não tinha mais autonomia para realizar atividades do cotidiano, como tomar banho, fazer compras ou lembrar dos horários certos de tomar remédio.
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Isso, muitas vezes, só é possível com a ajuda de um profissional. A importância de acompanhamento psíquico para idosos é multifacetada e abrange vários aspectos do bem-estar e qualidade de vida. De acordo com psicóloga Luiza Oliveira dos Santos, esse trabalho pode ajudar a evitar diversos problemas que são comuns nessa faixa, como depressão, ansiedade, isolamento social, estresse, adaptação a mudanças, problemas de relacionamento, declínio cognitivo e outros problemas de saúde metal.
Ainda de acordo com os especialistas, contar com uma rede de apoio acolhedora é importante em momentos de dificuldade ou sofrimento. Também é ideal reconhecer que o suporte profissional pode ser necessário, principalmente quando estratégias não são suficientes ou resolutivas.
*Sob supervisão de Luana Amorim
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