Quando a pandemia terminar, teremos um mundo diferente. Novos cenários se apresentarão na gestão da saúde, da educação, e na relação das pessoas com os espaços públicos. A NSC entrevistou os prefeitos dos maiores municípios do Estado para saber que cidades nascerão após a crise.
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Quem estreia esta série de entrevistas é o prefeito de Itajaí, Volnei Morastoni. Ele fala sobre os desafios da pandemia e a nova cidade que surgirão depois deles. Confira:
Que Itajaí vai emergir após a pandemia?
Jamais imaginávamos que a pandemia seria tão prolongada e, com um ano, ainda estamos numa situação de muitas dúvidas. Neste momento, estamos dependentes de acessar a vacina massivamente. Somente depois que a vacina for compartilhada, no mínimo, por 80% da população, podemos pensar em ter a imunidade comunitária, de rebanho, que possa dar a volta por cima.
Como ainda estamos incertos sobre o ritmo, a periodicidade das vacinas, o quantitativo, isso nos mantém nessas incertezas. Precisamos reconhecer que a pandemia mostrou nossa pequenez em todos os níveis, local e mundial. Ainda estamos de joelhos, no mundo todo. Não tem uma saída universal, porque nenhum país é uma ilha isolada.
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Enquanto o Brasil hoje está na vanguarda das estatísticas negativas, o mundo todo fica abalado. Vamos sair melhores porque vamos ter que refletir, tirar ensinamentos, acima de tudo o da solidariedade, da compaixão, para que o mundo seja melhor. Mostrando que, às vezes, só o lado econômico não é o suficiente.
Acredita que seja possível municipalizar a vacina?
O ideal seria que fosse coordenado pelo Plano Nacional de Imunização. O Brasil fez um trabalho muito bom nessa área, tem sido referência internacional. Em Itajaí temos mais de 90 vacinadores habilitados, 34 pontos de vacinação rotineira, e isso é reflexo do Brasil sempre ter sido muito bem conduzido nessa parte da imunização.
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Algumas providências deveriam ter sido tomadas com antecedência. Até ter os insumos, a vacina, tem um longo caminho a ser percorrido. Perdemos muito tempo e por isso estamos com dificuldades.
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As farmacêuticas não vão dar conta de atender a humanidade, todos os países do mundo. Os municípios estão fazendo essa movimentação, e acredito que o Estado deveria estar irmanado nisso. Em Itajaí estamos inscritos, via Amfri, nosso consórcio intermunicipal, junto com a Fecam. Estamos inscritos também no consórcio da Frente Nacional dos Prefeitos, nos inscrevemos particularmente também para várias vacinas, como a AstraZeneca, a da Pfizer, Sputnik. Temos interlocutores nacionais e internacionais vendo a tramitação burocrática, de documentos.
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Estamos participando, porque acho que esse trabalho tem que ser feito. Mas o governo federal está no primeiro plano, fazendo a sua parte. É preciso despolitizar tudo o que se discute em termos de Covid, do científico ao humanitário.
A atividade portuária teve um ano muito positivo, apesar da crise e diferente de outras regiões no país. Isso traz mais fôlego para a cidade?
O complexo portuário continua registrando boa movimentação de cargas. No ano passado foram mais de 15 milhões de toneladas. Registramos mais de 300 manobras na nova bacia de evolução em um ano. Em janeiro, tivemos um aumento na movimentação de cargas, só no Porto de Itajaí, de 6%. Se a atividade portuária tivesse sido afetada, paralisada, a situação seria muito mais dramática.
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Além do porto temos a atividade pesqueira, a construção naval, que está andando com o megaprojeto de construção das fragatas para a Marinha do Brasil. Nosso estaleiro Oceana (onde serão construídas as fragatas) foi comprado pelo estaleiro de Hamburgo. Tivemos a instalação da Emgepron em Itajaí, que é o escritório de negócios da Marinha brasileira, e eles têm trabalhado. Temos ainda muitas obras do nosso investimento internacional do Fonplata. São R$ 80 milhões (investidos) em obras em andamento.
Qual a perspectiva para início da construção das fragatas?
O investimento (nas fragatas) é de mais de R$ 9 bilhões, mas isso é apenas uma sinalização, uma perspectiva. O que nos deixa muito mais animados é que isso vai transformar a região de Itajaí, a partir desse megaprojeto, num polo da construção naval militar no Hemisfério Sul. As perspectivas são promissoras, com milhares de empregos, fornecedores, prestadores de serviço. Isso tudo está num planejamento silencioso, mas até o final deste ano, para o início do ano que vem, será deflagrado o início da construção das fragatas.
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Itajaí é o segundo maior PIB de SC, por isso é um termômetro no Estado. De forma geral, a economia sai saudável dessa crise?
Apesar de todo o impacto da pandemia, das dificuldades que nos causou, estamos indo bem. A cidade está sobrevivendo. O que ocorre com Itajaí deve estar ocorrendo com outras cidades também, a compatibilidade entre economia e saúde. É um drama continuado, mas que mostra a pujança da economia que temos. Itajaí tem a economia do mar muito forte. No ano passado, tivemos mais de 4 mil novos empregos de carteira assinada.
De quais setores vieram os novos empregos?
Dos nossos três pilares: porto, pesca e construção naval. Depois vêm a construção civil, o comércio, que gravitam em volta. São os serviços decorrentes dos três principais pilares da economia. Foram abertas 8.354 ovas empresas abertas em Itajaí em 2020. Neste ano de 2021, até 11 de março, já tínhamos 1.370 novas empresas. Isso mostra que a economia está respirando, está vivendo.
O que mudará na saúde depois da pandemia?
A pandemia veio mostrar que vários setores da população são mais vulneráveis. Estamos assistindo um drama maior, de maior mortalidade, entre pessoas de mais idade, com comorbidades. A população que mais cresce é a idosa. Também veio mostrar que pacientes de câncer, diabetes, doenças cardiovasculares, precisam ter uma atenção muito maior na atenção básica. Mas vamos herdar os investimentos feitos.
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Só no ano passado, se somarmos investimentos na área da saúde, foram quase R$ 80 milhões, muito aplicados em infraestrutura como mais leitos de UTI, de enfermaria. Ficará como herança para as novas etapas que teremos pós-Covid.
A educação também teve um ano com muitas dificuldades, e estamos com o retorno em meio ao período de agravamento da pandemia. Que educação teremos quando isso passar?
Assim como a saúde, a educação está sendo passada a limpo. É como se fosse um tempo de guerra, e temos que tirar lições importantes. Como a importância da educação à distância, além do ensino presencial. Nos últimos quatro anos, investimos R$ 1,3 bilhão na área de educação. Setenta e sete unidades escolares passaram por reformas, por ampliação. Esses investimentos não pararam, apesar da pandemia.
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Ainda estamos vivendo situação dramática porque, por um lado, precisamos que a educação, como atividade essencial, esteja em atividade. Por outro, há todos os fatores da própria pandemia, que nos impedem de tomar decisões de suspensão das atividades. É importante achar esse equilíbrio.
Teremos um momento em que as pessoas vão voltar às ruas. O que muda na dinâmica da cidade, e como Itajaí estará preparada para essa mudança?
A lição que tiramos dessa vivência toda é que as pessoas precisam dos espaços públicos. Têm uma necessidade de estar nas praças, nos calçadões, nas praias. A cidade precisa, além de todas as obras de infraestrutura, mobilidade, espaços de educação, saúde, moradia, trabalho, cada vez mais avançar nos espaços públicos de convivência. Espero que (após a pandemia Itajaí) seja uma cidade mais humana, mais compartilhada. Temos que ter essa dimensão com espaços públicos mais amplos e melhores condições de convivência.
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Qual o maior desafio para um prefeito frente à pandemia?
Preservar a vida, garantir a vida das pessoas. Estamos em uma outra onda, agora mais grave, mais virulenta, atingindo pessoas mais jovens com mais gravidade. Começam a morrer pessoas sem comorbidades. Essa é a angustia principal, o ingrediente mais desafiador da pandemia.
Que a cidade não pare, que continue seu cotidiano, as obras, o transporte coletivo, as escolas, dar conta da atenção básica na saúde, porque as pessoas continuam com as doenças normais, cotidianas, mas lembrar da questão da vida. Esse pra mim tem sido o ponto mais crítico, mais grave, mais desafiador. Cuidar da economia sim, mas a vida é preponderante. É o que nos tira o sono.
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