A foto do tenista Guga em início de carreira, um time de vôlei com Giba e Giovani, uma réplica de um carro de Fórmula Indy e um quadro que foram presentes de Christian Fittipaldi, quadro do time da Portuguesa vice-campeão brasileiro de 1996 e várias fotos da Chapecoense.

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Estes são alguns objetos do escritório de Plínio Arlindo De Nês Filho, catarinense de Faxinal dos Guedes e que foi eleito presidente do Conselho Deliberativo da Chapecoense para o biênio 2015/2016. Mas mesmo antes de ele ser o presidente, foi no seu escritório se decidiu muito sobre a Chapecoense. Lá foram definidas contratações, demissões e os rumos do clube que está virando exemplo de administração para o futebol nacional.

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“Maninho”, como é carinhosamente chamado pelos mais próximos, é a voz serena da experiência no comando do time. Afinal ele viu seu pai criar o Atlético Clube Chapecó, que depois viria a ser substituído pela Chapecoense. Foi o vice-presidente de futebol no primeiro Campeonato Brasileiro do Verdão, em 1978.

Bancou a formação de um dos melhores times de vôlei do país nas década de 90, campeão Sul-Americano, com jogadores como Giba, Giovani, Carlão, Weber e Milinkovic. Viu no esporte uma forma do Frigorífico Chapecó fortalecer a sua marca e levar o nome da cidade onde morou a partir dos seis anos e onde mora até hoje.

Viveu momentos de crise como a falência do Frigorífico Chapecó, empresa de sua família e onde foi diretor, vice-presidente e presidente. A crise na indústria coincidiu com a crise da Chapecoense, que ficou 11 anos sem conquistar um título nacional. Voltou a participar da vida do clube em 2009, ainda nos bastidores, no ano que a Chapecoense subiu da Série D para a Série C.

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A partir de então Plínio David de Nês Filho foi se envolvendo cada vez mais até dedicar a maior parte de seu tempo para resolver questões do clube. A mesa maior de seu escritório serve para as reuniões. Já na mesa menor, onde estão duas telas de computador, ele acompanha as oscilações da bolsa de valores. De Nês não é mais um grande investidor, mas o mercado faz parte de sua vida, assim como a Chapecoense.

Nas costas dos computadores, desenhos infantis dão conta de que “Seu Plínio” também valoriza a família. São desenhos de Martina, uma das duas netas da filha Fernanda, que mora em Chapecó. O outro filho, João, reside em Florianópolis, mas nesse período de férias está visitando o pai e a mãe, Elisabeth de Nês.

É com a experiência deste senhor de fino trato, que valoriza a família e que está de olho no mercado mundial que a Chapecoense conta para se consolidar entre os principais times do país. Como ele mesmo gosta de falar, com mais informação, se erra menos.

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Confira a seguir os tópicos de uma entrevista exclusiva que ele concedeu ao Diário Catarinense, em seu escritório, após uma reunião com a diretoria da Chapecoense.

GOSTO PELO ESPORTE É DE FAMÍLIA

“Esse gosto pelo esporte nasceu com a família. Meus avós jogavam bocha e bolão. Meu pai jogava futebol em Encantado, mas não era profissional, era peladeiro. Quando eu cheguei em Chapecó, com seis anos, a cidade tinha umas 4,5 mil pessoas. Como todo menino eu jogava bola com os amigos. Cresci sempre gostando de esporte, futebol, tênis, basquete, futsal. No Ginásio São Francisco fazia parte de um grupo de alunos ajudou a buscar os tijolos para fazer a primeira quadra. Também ajudamos a colocar grama no primeiro campo. Íamos jogar tênis no Atlético Clube Chapecó numa quadra de cimento.”

O PRIMEIRO TIME

“No final dos anos 50 e início dos anos 60 ao Frigorífico Chapecó Fundou o Clube Atlético Chapecó. Foi o primeiro passo que a empresa deu o setor do esporte. A rivalidade maior era com o Independente, um clube mais do comércio que era liderado pelo Heitor Pasqualoto. A terceira força era o Industrial, com jogadores que atuavam no ramo de marcenaria.

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Primeiro disputamos campeonatos municipais, depois regionais, contra times de São Miguel do Oeste, Xaxim, Xanxerê, Joaçaba, Erval Velho e Concórdia. Nesse período foi construído o Estádio Índio Condá. Então começamos a contratar jogadores de fora e a base do time vinha de Erechim. Eu era moleque e ia junto buscar os jogadores. Veio o Arthur Badalotti, Chicão, Amaro e o Zé Amaro.

O EMBRIÃO DA CHAPECOENSE

“Tinha uma rivalidade grande do Clube Atlético Chapecó e do Independente com os times de Joaçaba, o Comercial e o Ervalense. Essas disputas regionais se acirraram até que os dois clubes de Chapecó fizeram uma fusão para criar a Associação Chapecoense de Futebol. O Plínio pai e o Heitor Pasqualoto não estavam na primeira diretoria, mas estavam entre os mentores da criação do novo clube. Só que as dificuldades eram imensas pois estávamos a quase 700 quilômetros de Criciúma, 650 de Florianópolis, mais de 500 de Joinville, mais de 400 de Blumenau. Viajávamos de ônibus e dormíamos em Lages para descansar. Tinha o Inter de Lages, que está voltando, que era o mais próximo. Nós viajamos 10 vezes distâncias longas e, os demais times, apenas vinham uma vez para cá. Por isso tínhamos que ter um plantel maior do que os demais.

O PRIMEIRO TÍTULO

“Desde o início da Chapecoense estive colaborando. O Frigorífico Chapecó também ajudou a sustentar o clube no início. Em 1976 o senhor Arthur Badalotti assumiu o clube e, em 1977, conquistamos o primeiro campeonato, o que nos credenciou para o Campeonato Brasileiro. Não tínhamos estádio e nem tinha voos regulares para cá. O prefeito da época, Milton Sander, junto com as lideranças políticas do município, construíram as arquibancadas do Estádio Índio Condá em tempo recorde. Era um estádio misto com pista de atletismo, também para sediar os Jogos Abertos. Meu pai era secretário do Oeste e conseguimos além do estádio o Ginásio Ivo Silveira.”

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COMO JANGA CHEGOU EM CHAPECÓ

“Eu fui buscar o Janga, campeão em 1977, com o meu Fiat, em Estrela. O Lotário Immich foi junto. A mãe dele disse que não queria liberá-lo, pois era quem sustentava a casa. Depois de muita conversa ela me disse que só iria liberar ele se eu fosse como o pai dele em Chapecó.”

VICE-PRESIDENTE DE FUTEBOL NO PRIMEIRO BRASILEIRO

“Em 1978, na disputa do primeiro Campeonato Brasileiro, com mais de 60 clubes, e eu era o vice-presidente de futebol. Já estavam na equipe o Janga, o Cosme, Luís Carlos, Sérgio Santos e o Zé Carlos. Contratamos jogadores do Atlético-PR, do Guarani de Campinas e do Londrina. Trouxe o ponteiro direito Britinho, do Carlos Renaux. Tínhamos 32 jogadores. Na nossa chave tinham times como Grêmio, Inter, Figueirense, Joinville, Coritiba, Atlético-PR, Colorado e Londrina.

Nosso primeiro jogo foi contra o Atlético-PR, à noite, e vencemos. Foi uma explosão. Depois saímos para jogar com o Figueirense e perdemos. Jogamos com o Inter no Beira Rio e perdemos por 2 a 1 e perdemos um pênalti. Neste jogo o Falcão fez o gol que considera mais bonito de sua vida, numa bicicleta faltosa no nosso zagueiro. O primeiro técnico foi o Áureo Maliverne, ex-jogadores do Grêmio e Avaí. Depois de vitórias e derrotas acabamos trocando de técnico e veio o Lori Sandri.”

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GAROTO DE ERECHIM ARREBENTA NOS TESTES

“Quando era vice-presidente o Nelson Galina veio me falar que tinha um menino de Erechim que era um jogador fantástico. Falei pro Áureo que vinha todos os dias na minha casa e ele acho que já tínhamos 32 jogadores. Mas sugeriu que chamasse para um teste e depois liberasse. Depois do teste ele veio e me disse: “É o melhor dos 33 que temos”. Era o Barbieri, que depois foi para o Internacional, Joinville e Corinthians. Eu o indiquei para o Vicente Mateus, presidente do Corinthians”

GOL DE MÃO, DECEPÇÃO E AFASTAMENTO

“Naquele Brasileiro de 1978 fizemos uma campanha boa. Mas num jogo contra o Coritiba, eles saíram vencendo, nós empatamos, aí o atacante deles, o Mug, fez um gol com a mão. Eu estava no banco de reservas, me levantei e deu um quiproquó. Veio a polícia e deu uma confusão. Eu não imaginava que aquilo poderia ser validado. Um gol de mão nos tirou a classificação. Naquela época os caras passavam a mão. Eu não aceitava isso. Aí pensei, se continuar, vou enfartar. Então decidi deixar de ser dirigente e ser apenas colaborador.”

O DREAM TEM DO VÔLEI

“No início dos anos 80 o Benhur (Sperotto) veio falar comigo sobre vôlei. Eu não era tão ligado ao vôlei, mas pensei, esse negócio tem a possibilidade de ter sucesso. Aí o Frigorífico Chapecó passou a apoiar o vôlei. Na disputa dos Jasc nós rivalizávamos com Concórdia (patrocinado pela Sadia). A expressão Clássico da Linguiça veio do vôlei. Eram partidas fantásticas que duravam até 4h30min. Aí começamos um processo semiprofissional do vôlei. Começamos a fazer peneiras com 500 crianças de Porto Alegre, Curitiba, entre outros. Nessa expansão criamos um time itinerante, que jogava no Rio de Janeiro, depois São Paulo, e Santo André. Fomos vice-campeões da Universidade, na Iugoslávia.

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Nos anos 90 começamos uma análise fisiológica dos atletas, com um médico do Rio de Janeiro, que fazia análise óssea e sanguínea. Criamos um vôlei força, com preparação individualizada. Tínhamos um ginásio para treinamento e meio ginásio para musculação. Contratamos o Renan de técnico e jogadores que foram da Seleção Brasileira como Carlão, Giovani, Giba, e da seleção argentina, o Milinkovic, Pereira e Weber. Ganhamos o Sul-Americano (1996) e fomos vice-campeões brasileiros (Superliga 1997).

AUTOMOBILISMO

“Patrocinamos o Christian Fittipaldi na Fórmula 1 e na Fórmula Indy, quando ele ficou em segundo lugar nas 500 milhas de Indianápolis. Também o patrocinávamos quando venceu as 24 horas de Interlagos. Ele veio para a inauguração do kartódromo, em Xanxerê. O Plínio pai, com a o apoio da família Cella, construiu o primeiro kartódromo em Chapecó”.

Miniatura do carro de Fittipaldi na Indy

Foto: Cleberson Silva, Especial

PROJEÇÃO GLOBAL

“O Frigorífico Chapecó foi uma das primeiras empresas do ramo a aliar seu nome ao esporte e foi a que fez isso de forma mais ampla, com futebol, vôlei, automobilismo e tênis. O nosso pessoal do marketing só pensava na dona de casa, mas o homem também faz compras e a mulher também gosta de esporte. Tivemos um retorno fantástico. Chegamos a ter seis a oito horas por semana de televisão. O retorno era extraordinário. A cidade de Chapecó divulgou sua imagem no Brasil todo. E quando viajava para fora o que mais me orgulhava era ver uma camisa com a marca Chapecó. A marca do frigorífico levava o nome da cidade. E Chapecó nasceu com o esporte no seu coração”.

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FELIPÃO EM CHAPECÓ E VICE-CAMPEÃO COM A PORTUGUESA

“Nós começamos a patrocinar a Portuguesa e em 1995, pedimos para fazer um jogo em Chapecó, contra um dos times da dupla Grenal, preferencialmente o Grêmio, que eu também era torcedor. O Grêmio ficou louco pro ter que jogar em Chapecó. Tinha umas 16 mil pessoas e destas 15.990 eram do Grêmio. Eu fui com a camisa da Portuguesa. E a Portuguesa venceu (3 a 2). No final o Felipão foi falar com o técnico da Portuguesa, o Lori Sandri, e disse que era coisa de português ter estádio e mandar o jogo para Chapecó. O Lori respondeu que era coisa de filho de gaúcho que torcia para o Grêmio e patrocinava o time. Em 1996 decidimos formar um time para ser campeão brasileiro. Tínhamos Clemer, Capitão, Zinho, Rodrigo Fabri, Zé Roberto, Zé Maria e Caio. Fomos vice-campeões brasileiros, perdendo a final para o Grêmio”.

APOIO A GUGA NO INÍCIO DE CARREIRA

“Eu estava em Joinville para receber o troféu “O Jornaleiro”, do Maceió. Estavam lá o Zico e também a mãe do Guga, que veio falar comigo e eu disse que tentaria viabilizar o que ela pedia. No tênis nós patrocinávamos o Ricardo Schlachter, que era de Joinville. Ele me disse que tinha um menino que não poderia parar, que era o melhor de todos, que era o Guga. Eu falei para ele que a nossa verba estava empenhada para o patrocínio dele. Aí ele disse: “Eu abro mão de uma parte dela para dar para o Guga”. Eu disse que estava bom. Aí vieram o Guga, o Larri, o Ricardo e explicaram que seria necessário participar de alguns torneios ou então teria que desistir da carreira. Disse que iríamos seguir em frente. O primeiro que disputou foi em Hong Kong e depois foi campeão juvenil em Roland Garros com a nossa marca e a da Diadora. Logo ele criou corpo e conseguiu o patrocínio do Banco Real. Ele é uma pessoa sensacional. Fico feliz por ter colaborado num momento da vida dele. E ele me homenageou com uma citação no livro dele. Fiquei muito feliz.”

PLÍNIO PAI

“O Plínio pai (Plínio Arlindo De Nês) era um apaixonado pela Chapecoense. Por recomendação médica ele não podia ir no jogo, pois era cardíaco e tudo. Um dia estava muito frio e o jogo não valia muita coisa. Eu pedi para ele ficar, mas ele insistiu e passou mal durante o jogo. Mas foi socorrido a tempo. Às vezes ele saía do frigorífico e ia conversar com o pessoal da Chapecoense. Um dia ele me pediu para que se eu pudesse que não deixasse de ajudar o clube.”

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CRISE E RETORNO

“A Chapecoense teve muitas dificuldades a partir de 1996. A administração pública, com os prefeitos João Rodrigues, Élio Cella e José Caramori foram muito importantes nessa reestruturação da Chapecoense e na reforma da Arena Condá. Depois de um tempo afastado eu retornei em 2009, quando o Jandir Bordignon (diretor de futebol) e o Nei Maidana (presidente), vieram me pedir algumas coisas. Em 2010, quando o Cadu parou de jogar o colocamos como gerente de Futebol. Contratamos o Éder Popiolski e começamos a implantar os primeiros fundamentos de um fluxo de caixa. Antes havia um descontrole. Mais adiante o Gilson Vivian assumiu a presidência do Conselho Deliberativo e passei a colaborar com o conselho. O primeiro ordenamento efetivo da Chapecoense se deu com o presidente Cleimar Spessato. O Sandro (Pallaoro) assumiu e aí passamos a implantar uma gestão no sentido de manter as contas em dia e conquistar o respeito dos atletas, da comunidade, de Santa Catarina e do Brasil. Não vamos fugir daquilo que é a nossa característica de ser um clube simpático em Santa Catarina, um equipe de luta, de garra e determinação e com as contas em dia.

PROJETOS

O que me levou a assumir o Conselho foram os pedidos de muitas pessoas. Os projetos são muitos. Mas entre eles, junto com o Sandro, pretendemos nesse biênio buscar algumas coisas que faltam na Chapecoense, como um software muito bom de gestão, instalações adequadas de todas as áreas num espaço único, aquilo que nós todos sonhamos para a Chapecoense. Vamos buscar uma integração com as equipes das Séries A, B e C. Queremos que em cinco anos a Chapecoense esteja entre os cinco maiores clubes do Sul.”