A pouco mais de um ano do fim do mandato, a política e a economia permeiam mais do que nunca o governo de Carlos Moisés da Silva (sem partido), chefe do Executivo de Santa Catarina. A economia porque há um saldo e uma reviravolta de rubricas no arrefecimento da pandemia. A política porque o próprio governador, eleito na onda Bolsonaro, se revolucionou nos últimos anos para se manter no cargo.
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Por isso, a NSC traz uma entrevista exclusiva das jornalistas referências na economia e na política, Estela Benetti e Dagmara Spautz com Moisés para um aprofundamento do momento atual e do que vem pela frente.
Prestes a entrar no último ano de mandato, o governador Carlos Moisés diz que ainda é um estranho no ninho no mundo da política. Mas a postura, o tom de voz e a certeza de que vai disputar a reeleição – está “condenado” a isso, segundo ele – sinalizam que talvez esteja mais à vontade do que gostaria de admitir na cadeira que nunca almejou. Em uma conversa com foco em economia e política, o governador pontuou que ainda se sente mais à vontade falando de administração pública, arrecadação e projetos, do que da política partidária.
Mesmo assim, não se furtou a falar sobre assuntos como a relação com o presidente Jair Bolsonaro – e, pela primeira vez em uma entrevista, revelou que a candidatura em Santa Catarina sofreu resistência interna e contrariou os planos do próprio PSL, partido pelo qual se elegeu. Confira a entrevista a seguir:
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Dagmara – Estamos caminhando para uma eleição polarizada, que desde já tem um perfil mais combativo. Está preparado para essa eleição?
Quando participei pela primeira vez na minha vida de uma eleição, em 2018, teve os debates nas TVs, nas rádios, e lembro de uma sensação muito clara de que manter o equilíbrio foi algo que chamou atenção de muitas pessoas que não gostam do teatro político, do sujeito se exaltar e se indignar publicamente para demonstrar força política. Acho que isso nos levou para o segundo turno. O PSL tinha na época 12 ou 13 candidatos a governo de Estado. Três puros, que eram Roraima, Rondônia e Santa Catarina, e outros coligados. Eram 13 candidatos, e só três entraram. É uma onda que, de 13, só colocou três.
Dagmara – O senhor acha então que a onda não foi um tsunami?
Acho que foi uma onda importante, mas a sociedade catarinense viu algum valor no seu candidato. Essa é a impressão que eu tive à época. Me lembro que muitos me procuravam para dizer assim: eu votei no senhor quando vi o debate do programa tal, no final do primeiro turno. Se pensarmos, não foi tão folgado assim.
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Eu entrei (no segundo turno) com menos votos do que o primeiro colocado no primeiro turno. Pelo percentual de votos não dá nem para configurar como onda, porque direita e esquerda votaram em mim. Se tirar brancos, nulos, muita gente que não tinha o mesmo viés ideológico acabou votando. Inegavelmente, a onda movimentou para que a gente chegasse onde chegou. Não foi só uma onda do presidente da República, que era extremamente importante, mas ao mesmo tempo uma onda de combate à corrupção.
O Brasil, Santa Catarina, não queriam mais ver o que a gente assistiu com a exposição que a Operação Lava Jato fez. Questionem ou não os modos como foi feita, ela expôs uma ferida que o Brasil não quer ver de novo. Tem vários ingredientes nessa equação.
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Dagmara – Naquela primeira eleição o senhor tinha duas questões importantes. Uma delas era vir com o número do presidente da República.
Claro, teve um peso.
Dagmara – E a outra era a pauta da antipolítica. O senhor vinha de fora da política, era um comandante do Corpo de Bombeiros. Essas duas questões não existem mais, porque hoje o senhor está dentro da política, está na cadeira de governador. Sem esses elementos, como pretende se apresentar para o eleitor?
Apesar de estar na política, não sou aquela figura que goza de conforto dentro da política. Eu preciso de esforço para fazer a equação política funcionar bem, não tenho um viés de cultura partidária. Nossa base na Assembleia (Legislativa) é muito eclética, tem vários partidos, basta ver como foi a solução dos votos nos processos de impeachment. O que me manda um recado muito claro de como a sociedade me vê hoje, politicamente, é a posição dos prefeitos.
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Quando vou às regiões, tenho visto prefeitos do PT, PSDB, PSD, PSL, MDB, PP, apoiando o movimento que estamos fazendo, municipalista. É uma marca do nosso governo, investir nos municípios.
Dagmara – Mas o senhor acha que a distribuição de recursos para os prefeitos se transforma em voto?
Eu não sei se transforma em voto, porque essa é uma decisão da população. Mas tem se transformado em apoio. Acaba transformando em voto quando o cidadão percebe que a cidade está sendo impactada por melhorias na infraestrutura, na educação, na saúde, e que o resultado do governo tem sido bom. Nosso governo não pode ser avaliado com a mesma régua com que todos os outros governos foram avaliados até aqui. Não seria justo. Nenhum governo na história de SC foi afastado duas vezes, e nenhum governo na história recente da humanidade passou pelo que os nossos governos estaduais, municipais, passaram. Todos os nossos avanços, os investimentos com recursos próprios, uma parte deles, é uma virada de chave, um choque de gestão.
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Dagmara – Existe alguma chance de o senhor não concorrer à reeleição?
Costumo dizer que nossa agenda administrativa está tão boa que não devemos falar muito de política. A política interessa para o ano que vem, 2022. Eu me sinto confortável para dizer que quero concorrer sim. Acho que é legitimo o governador, que vai terminar seu mandato no ano que vem, fazer uma escolha de para onde ele vai. Esses dias, estava reunido com um grupo de políticos mais antigos, como usamos no jargão militar. Mais experientes, alguns que já não estão mais na política. Eles brincaram comigo, com duas coisas que achei relevantes.
A política interessa para o ano que vem, 2022. Eu me sinto confortável para dizer que quero concorrer sim”.
A primeira é que o que foi feito em SC, em (termos de) redução da máquina pública, redução dos comissionados, das funções gratificadas, das Secretarias de Desenvolvimento Regional, cortes na revisão dos contratos, que acabaram gerando economicidade, só tinha uma pessoa que poderia fazer: uma pessoa sem vínculos políticos, que foi a forma como eu cheguei (ao governo).
Esses políticos mais velhos, mais experientes, disseram – nenhum de nós teria gordura política para os cortes e mudanças profundas que foram feitas no nosso Estado, se não fosse – e eles chegaram a usar essa expressão – você cai na gestão. Essa condição nenhum político com amálgama, ligações, elos, teria condição de fazer.
O segundo, é que eles me disseram – você está condenado a concorrer à reeleição. Não entendi muito, talvez um dia eu vá entender (risos).
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Estela – Acha que no começo ficou muito fechado? Os empresários reclamavam que não conseguiam falar com o senhor. O senhor faria tudo de novo?
Não foram muito justos com nossa administração no começo, porque foi um choque de ideias. A crítica se acirrou de todos os lados. Mas não é tão real assim dizer que a gente se isolou. O fato é que, num primeiro momento, primeiro ano de governo, (é para) arrumar a casa, cortar gastos, isso fere o interesse de muitas pessoas
No primeiro ano estávamos muito bem, era uma boa relação com o Parlamento, mesmo fazendo a reforma administrativa, secando mais de 2 mil cargos em funções gratificadas e extinguindo secretarias. Algo que quase feriu de morte o governo foi a pandemia, quando a gente fecha o Estado e não consegue se comunicar, mesmo que a gente quisesse. As pessoas ficaram em casa, fechamos atividades e o próprio Parlamento não se reunia mais presencialmente. Em todas as áreas houve um chacoalhar que deu um desequilíbrio político. Isso aconteceu em vários estados.
Sobre os empresários que querem conversar com o governador, até hoje tenho uma fila de agendas que não permite, não consigo conversar com todos. Mas para isso o governo é receptivo, (temos) os secretários. E temos discutido com os setores. Ou quando é uma grande empresa, um grande investimento. E aí tenho que fazer um mea culpa, porque é o meu estilo, o meu jeito. (Não fui) talhado para ser um político. Continuo sendo a mesma pessoa.
Gosto mais de estar focado na gestão, resolvendo os problemas, do que correndo o Estado e só participando de eventos, como se desse uma ideia de proximidade com a sociedade. Com foco na gestão, aí sim estamos próximos da sociedade.
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Dagmara – Como o senhor vai escolher o partido para concorrer?
Vou tentar fazer um esforço para manter os mesmos partidos que fazem parte da base do governo hoje conosco, sem rupturas. A vontade que tenho é estar no meu lugar, num partido um pouco mais neutro, respeitar os demais partidos com sua importância, suas bancadas na Assembleia, e que não venha a ferir um lado nem o outro.
Dagmara – O senhor se arrependeu de ter criticado o presidente Jair Bolsonaro no início do mandato? Acha que essa crítica interfere na relação do governo federal com SC?
Talvez eu nunca tenha dito isso em entrevistas, mas nós sempre nos esforçamos muito por estar próximos, não politicamente, mas alinhados com o governo para que o governo pudesse atender SC. O principal afastamento se dá porque, quando nos candidatamos ao governo de SC, no cenário nacional não havia interesse, naquela conjuntura do PSL, de que SC tivesse um candidato. Isso é uma verdade que poucas pessoas falam. Foi pedido que a gente não lançasse candidatos. E isso deu uma embaralhada na política de SC, porque acabamos eleitos. Mas me parece que já havia algumas estruturas de apoio sinalizadas para essa campanha, para essa eleição.
A minha candidatura contrariou posições previamente estabelecidas, partidárias. Já havia um alinhamento, talvez, com outro grupo partidário. Quando a gente permaneceu na disputa, e houve um movimento de (o presidente Jair Bolsonaro) não demonstrar apoio, o governo federal fica isento, aí houve uma reação muito forte, não só dos bolsonaristas, do PSL, mas de setores da sociedade catarinense. Porque, se há um candidato aqui, ele tem que ser apoiado. Essas circunstâncias acabaram produzindo tanto ruído que talvez tenham nos afastado.

Depois houve apoio (de Bolsonaro) aos candidatos do PSL, ele declarou apoio a SC, Roraima e Rondônia, que não tinham coligação, e as coisas foram caminhando. Penso que não era uma posição pessoal do presidente nem do partido em si, mas de grupos políticos que rejeitavam que a gente avançasse em SC com a candidatura. Grupos que talvez sejam possíveis de serem identificados hoje quando vemos que já temos pré-candidatos ao governo do Estado, que se dizem próximos do governo federal. Isso tudo vai trazendo um antagonismo criado não pelas figuras do governador e do presidente, mas no entorno.
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Eu me sinto um cisco no olho da política, porque não consigo entender muitos movimentos. Por exemplo, um prefeito, por mais que tenha um viés contrário, ou tenha vontade de ser governador um dia, tem que se aproximar, buscar recursos para o município e ser parceiro, sem pensar em quem vai lucrar politicamente. Veja quanta resistência tivemos para fechar a entrega de R$ 465 milhões para o Ministério da Infraestrutura. Resistência política, de uma liderança de SC, querendo atrapalhar pela ideia de que o governador vai inaugurar (a obra). Isso é um erro. Essa é a má política.
Houve uma distorção muito grande, de que o governador é contra o presidente, ou o presidente é contra o governador. O ruído do entorno foi fundamental para protagonizar essa ideia de afastamento. Não tenho que ser próximo, acho que as políticas públicas têm que ser pró-cidadão. Sozinho o presidente não conseguiria avançar, mas a gente percebe que SC é o quarto estado que mais contribui no Brasil e o 24º em devolução de tributos federais. Tem algo de errado nisso.
Não dá para colocar a responsabilidade no presidente. Precisa de maioria no Congresso, e não temos para fazer uma modulação. Não abandonar os estados deficitários, hipossuficientes, mas SC precisava receber mais. Há algo muito errado na República.
Estela – Qual é a sua expectativa para a economia catarinense para o próximo ano?
De forma comparativa, quando a gente olha para 2020, que foi um ano muito duro para a economia de Santa Catarina, a gente pode perceber que conseguiu retomar a economia rapidamente este ano. SC foi um estado que, com o enfrentamento da pandemia, menos fechou no Brasil. Em seguida, regulamentou as atividades com os protocolos para todas. Algumas, claro, foram liberadas um pouco depois que outras, mas hoje a gente pode ver que retoma com saldos positivos de emprego. Se a gente comparar os períodos, tivemos 176 mil novos empregos até setembro, uma amostra clara de que Santa Catarina está indo bem. O saldo de empresas também cresceu, com mais de 100 mil empresas abertas nesse período.
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A gente olha o verão se aproximando, com uma expectativa de lotação de hotéis, enfim, dos espaços que a gente sabe que a economia vai avançar. O turismo de eventos vai avançar. Os protocolos da pandemia foram fundamentais para que a gente gerasse uma expectativa positiva. Se a gente olhar para a Europa, por exemplo, para países que estão voltando a fazer lockdown, no nosso Estado acreditamos que o acerto foi justamente o avanço da imunização da população e o estabelecimento de protocolos, fechamos só o que era essencial, retomamos as atividades.
Alguém poderia perguntar: foi correto, reabrir na forma e no compasso que a gente reabriu, pensando também na economia, nos empregos? Basta ver a nossa taxa de letalidade. Para organismos independentes, a gestão da pandemia em SC foi uma das melhores do Brasil, inclusive pela taxa de letalidade bem abaixo da média nacional.
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Então, com base nisso, a gente acredita que também o fato de o governo ter saneado as suas contas, estar investindo em infraestrutura – uma bandeira da nossa administração – isso atraiu novos investimentos não só pelo salto no número de empresas, mas pelos projetos de grande porte, de empresas nacionais e multinacionais. Eles estão fazendo SC ser um Estado com pleno emprego e crescimento de três vezes a média brasileira. Então, a expectativa de arrecadação também é muito boa.
Estela – Os investimentos para o ano que vem são elevados? Que informações o senhor tem do setor privado?
Sim, nós temos várias empresas que estão ampliando suas plantas. Algumas investindo R$ 500 milhões, no setor de energia, por exemplo. Os investimentos públicos acabam dando uma ideia de como vai ser para a iniciativa privada. Quando o governo anuncia que nos próximos cinco anos vai avançar com a rede de gás, vai levar gás até o Oeste de SC, vai conectar todo esse sistema, vai continuar investindo em infraestrutura, isso amplia a capacidade de receber novas empresas.
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Estamos investindo em ambientes adequados, em parques industriais. Estamos pegando prefeitos pela mão e dizendo “onde está o terreno, onde você quer fazer o distrito industrial?”. Nesse meio tempo a gente já transferiu para municípios R$ 3,5 milhões de transferências voluntárias. Tudo isso está criando em SC um ambiente muito favorável para novos investimentos. Outro exemplo é a Nestlé, em Vargeão, que está investindo mais de R$ 1 bilhão em fábrica de alimentos para pet.
Estela – Este é um período especial para os estados. Pelo fato de não terem reajustado salários por dois anos e com o aumento da arrecadação, estão com muitos recursos para investir. Quanto o governo de SC tem para investir este ano e no ano que vem?
A gente acredita que pelo menos R$ 2 bilhões é possível investir este ano. Para o ano que vem, o Estado saiu da capacidade de pagamento C para a B. O Estado melhorou a sua condição fiscal, é claro que isso faz com que SC tenha condição de pegar dinheiro para investir. Nós temos um financiamento encaminhado com o BNDES, ou com o Banco do Brasil. A Fazenda vai decidir, da ordem de R$ 786 milhões.
Mas vejam como é relevante o movimento que nós já fizemos em termos de capacidade do governo de investimento quando eu pego R$ 786 milhões de financiamento. Mas nós já estamos investindo mais do que isso nos municípios e nas rodovias estaduais, nas prefeituras, como é o caso agora das rodovias federais, com o Estado colocando à disposição do governo federal R$ 465 milhões.
Se a gente juntar tudo isso com o plano de investimentos nas 50 principais cidades nos próximos cinco anos, então serão R$ 7,5 bilhões. Mas eu acho que a conta é maior se a gente juntar tudo o que estamos fazendo e as oportunidades que virão.
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Estela – E para o ano que vem, especificamente, o senhor tem ideia de quanto será o investimento do Estado?
A gente poderia chutar na casa dos R$ 3 bilhões, mais ou menos.
Estela – O senhor anunciou o investimento nas rodovias federais, mas lideranças de parte do Estado ficaram preocupadas, criticaram a qualidade das rodovias estaduais, principalmente no Oeste. Como estão os investimentos nas estradas estaduais?
A gente não tem dificuldade orçamentária para investir em rodovias estaduais. A gente tem dificuldades por falta de projetos. Quando recebemos o governo, uma pesquisa apontava que 74% das rodovias estavam em condições ruins ou péssimas. O nosso projeto, até o final de 2022, é zerar esses problemas. Como contratar um projeto demora meses, para fazer licitação demora de 10 a 18 meses dependendo da complexidade do projeto, num governo a gente não consegue resolver problemas que vinham de mais de uma década sem manutenção adequada.
Não temos dificuldade orçamentária para investir em rodovias estaduais. Temos falta de projetos”.
Uma das estratégias que adotamos foi fazer revitalização funcional de algumas rodovias. Sabemos que vai durar menos, cerca de um ano e meio, mas que a gente consegue fazer por trechos, sem fazer projetos. Nesse meio tempo, os projetos estão sendo elaborados. Acredito que por falta de projetos a gente não conseguirá executar todo o orçamento previsto para infraestrutura, que são R$ 5,5 bilhões de investimentos até o final do governo.

Dagmara Spautz – Por que essa demora, governador?
Porque os projetos demoram para ser efetuados. É uma questão de prioridade. Você tem a capacidade de execução do Estado. Você faz uma licitação, faz outra e faz outra. Você tem uma limitação do quadro de engenheiros. Nós fizemos uma reforma administrativa. Extinguimos o Deinfra, que achávamos uma estrutura redundante, concentramos os engenheiros na Secretaria de Infraestrutura, abrimos concurso, trouxemos mais gente, mas, mesmo assim, não é suficiente.
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Para fazer um projeto desses é preciso fiscalizar a execução, conferir se foi bem feito. Contratar uma empresa para fazer o projeto é quase como inspecionar o projeto por inteiro. Isso tudo dá muito trabalho. Aconteceu algo semelhante com a educação. Temos 1.064 escolas em Santa Catarina. A infraestrutura das escolas precisa ser reformada para ter espaço adequado aos alunos. A falta de projetos, a modalidade de contratação junto com a execução da obra para alguns aspectos não foi aceita pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE). Isso nos trouxe dificuldades para executar.
Hoje, a partir da hora que podemos fazer projeto e execução para algumas obras como quadra esportiva e ginásio, a gente está fazendo rapidamente. A mesma coisa é para rodovia. Você precisa saber que tipo de intervenção precisa ser feita.
Estela – A previsão para 2022 é de que o PIB do país vai crescer menos de 1%. Quais são as expectativas de vocês para a arrecadação do Estado? Ela vai crescer mais do que o PIB novamente e será possível manter contas equilibradas?
Acreditamos que sim. Nós temos que considerar que a projeção de arrecadação do Estado pode variar até com o índice inflacionário. A expectativa que a gente tem é de R$ 37 bilhões de arrecadação. Podemos ter variações porque é uma bola de cristal. Como vai ser a inflação até o final do ano? A gente percebeu o aumento do valor da gasolina. Isso impacta na arrecadação.
A gente imagina uma receita corrente líquida disponível de R$ 24 bilhões, que vai ser distribuída entre órgãos e poderes. A gente acredita que consegue pagar os nossos compromissos. Há uma variação na arrecadação porque há uma projeção de inflação para o ano que vem. Isso também influencia na arrecadação.
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Com relação aos nossos compromissos, estamos com as contas bem equilibradas, mesmo com a valorização dos servidores públicos que a gente está fazendo. Fizemos essa semana com a Segurança Pública, vamos avançar com a educação, saúde e demais partes. Pelo que a gente conseguiu conquistar em economia na gestão, se a gente pensar um pouquinho, a gente fala em mais de R$ 700 milhões que a gente vai pegar de financiamento e investir R$ 2 bilhões, R$ 3 bilhões.

A gente tinha um déficit previsto de R$ 2,5 bilhões e, durante a gestão, a gente conseguiu avançar para superávit. A gente economiza anualmente mais de R$ 600 milhões com governo digital, revisão de contratos, redução da máquina pública e extinção das secretarias de Desenvolvimento Regional. Tudo isso faz com que a gente tenha dinheiro para investimentos e saldar compromissos. Tínhamos compromissos de governos anteriores, como é o caso da dívida histórica da saúde que diziam ser impagável. Enfrentamos a pandemia e não ficamos devendo na Saúde.
A expectativa agora é continuar executando o orçamento agora, dois anos em um. Cirurgias eletivas, tudo isso está no nosso radar. São mais de 100 mil pessoas na fila esperando atendimento, procedimentos cirúrgicos. Acreditamos que com uma arrecadação de R$ 37 bilhões a gente pode cumprir os compromissos, pagar as dívidas e continuar investindo.
Quando a Secretaria do Tesouro Nacional avalia a condição fiscal de Santa Catarina e avança da capacidade de pagamento C para B mostra porque o nosso Estado está crescendo, porque está aumentando a arrecadação e porque pode causar estranheza a outros estados da federação. Mas mostra que estamos no caminho certo. O que a gente fez? Revisamos alguns incentivos fiscais que não faziam muito sentido. Isso aumentou a arrecadação, equilibrou o Estado, a gente reduziu o tamanho da máquina, diminuiu despesas supérfluas e fez algo diferente na gestão.
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Quando a gente diz que economiza mais de R$ 30 milhões com o governo digital, é fazer algo diferente, fazer mais com menos. Estamos no caminho certo para manter o equilíbrio fiscal do Estado, honrar compromissos e continuar investindo. Quando o governo faz isso, o mercado também acompanha.
Vamos ter boas notícias no ano que vem. Não acredito em redução de crescimento do nosso Estado. A gente tem sido muito procurado, agora por empresas do setor automotivo para ampliar as plantas, investir em novos negócios, em pesquisa e desenvolvimento. Temos também aqui as empresas de tecnologia e inovação que começam a criar, de fato, um ambiente muito favorável a novos investimentos nessa área, o que movimenta o PIB.
Nosso Estado também é um celeiro de comida para mundo. Independente das crises que o mundo e o Brasil possam vir a passar, a forma como a economia de SC é constituída nos dá a tranquilidade de prever que a gente vai continuar produzindo, exportando e crescendo.
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