A cochilada de instantes de Marlene Moreira Escobar, 39 anos, foi interrompida por um solavanco forte. A viagem da casa da filha, em Joinville, para Xanxerê, onde começaria uma vida nova, lhe traria um novo teste de amor aos filhos. Ao abrir os olhos, percebeu que o ônibus da empresa Reunidas em que estava tombou. Agarrada a Ismael, filho de um ano, segurou a criança com a força que só uma mãe tem para proteger.

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Ao mesmo tempo, zelava pelos outros três filhos – dos 10 que tem -, que também estavam no ônibus. Antes de começar a viagem, Marlene colocou o cinto de segurança no trio, mas esqueceu dela e do caçula:

– Sempre viajei assim e nunca aconteceu isso – justificou o descuido.

A falta do equipamento de proteção fez a servente ficar mais vulnerável, enquanto os filhos estavam protegidos. Assim que o ônibus tombou, Marlene recorda de um cenário assustador:

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– Me lembro quando estava todo mundo caindo um em cima do outro. Todos gritavam, apavorados e chorando.

O instinto materno só foi deixado de lado quando uma outra passageira caiu e quebrou o pulso da servente. Aí ela teve de soltar a criança sobre o gramado onde o ônibus caiu.

Agoniada ontem de madrugada, enquanto esperava pelo atendimento no Hospital Santo Antônio, só ficou calma quando ouviu de um funcionário da Reunidas que os filhos estavam sendo bem cuidados no Hospital Misericórdia, na Vila Itoupava. Antes de deixar a unidade para buscar as crianças de um, três, oito e cinco anos, não sabia como iria a Xanxerê:

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– Eu não vou viajar de ônibus de novo. Não sei. Quero ver como vou.

O que a senhora lembra?

Lembro que estava todo mundo caindo um em cima do outro. O meu piazinho estava chorando.

Você estava dormindo na hora do acidente?

Eu acho que estava começando a dar uma cochilada. E aí na hora vi tudo, virou o ônibus.

Lembra-se do caminhão batendo?

Não. Não vi caminhão batendo. Pensei que o motorista tinha dormido.

E o ônibus virou?

Virou. E aí todo mundo estava gritando, apavorado e chorando. Meu Deus, desesperados. Foi horrível. E já vi quando meu piazinho veio pra perto de mim. Não sei como ele foi tão ligeiro. Eu estava com o bebê no colo.

Em que lugar do ônibus vocês estavam?

Bem atrás. Atrás de mim só tinha uma poltrona. E atrás do meu guri só tinha uma poltrona.

E como foi depois do capotamento?

Aí todo mundo ajudou o outro. Os que puderam se ajudar, se ajudaram. Eles começaram a quebrar os vidros pra poder sair.

Em que você pensou assim que saiu do ônibus?

Não pensei nada. Só peguei meus filhos e fui saindo.

E os filhos estão bem?

Estão. Tenho que agradecer a Deus agora.

E o braço está bem?

Quebrei o pulso. A batida aconteceu às 22 horas e estou até agora (3h30min) aqui esperando para ser atendida, quase morri gritando de dor. Meu Deus do céu. É difícil aqui, mais difícil que em Xanxerê, que é menor.

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