De vereador a vice, de vice a prefeito, Mário Hildebrandt (Podemos) tenta agora poder dizer que é “prefeito eleito” de Blumenau. O ex-secretário de Assistência Social do governo do próprio adversário adota um discurso em que mira o futuro da cidade a partir de agora e não a longo prazo. Hildebrandt ainda defende firmemente a gestão da pandemia e afirma que nunca um gestor fez tanto pelo turismo quanto ele nos pouco mais de dois anos em que está à frente do Executivo. 

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Confira a entrevista:

Augusto Ittner: O senhor fez menos votos no 1º turno do que todos os prefeitos eleitos em Blumenau desde 1996. Sinal de pé atrás do eleitor?

Desde 1996 não tivemos tantos candidatos a prefeito em uma eleição. São 12 candidatos e, entre eles, um ex-prefeito com dois mandatos, uma ex-deputada estadual, dois deputados estaduais, ex-reitor da Furb, um promotor de Justiça… Ou seja, um rol de candidatos com condições de arregimentar eleitores para suas propostas. O próprio segundo colocado fez um índice extremamente baixo relação a outros segundos colocados.

Evandro de Assis: É possível chamar de controlada a situação da Covid-19 com 300 casos novos por dia?

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A pandemia está sendo acompanhada, orientada, e é uma situação diferente daquela que a gente viu em julho. Aqui nós temos uma série de ações importantes em relação àquele momento, com o de hoje. Em julho tínhamos problema de remédios, inclusive para UTIs. Tínhamos dificuldades para os hospitais em relação a EPIs. Tínhamos um problema sério por falta até de médicos, que estavam ficando doentes. Não havia leito de Covid no Alto Vale e os da Foz do Itajaí-Açu estavam lotados. Então havia um diferencial em relação ao que temos hoje. Hoje temos leitos de UTI Covid no Alto Vale, na Foz do Itajaí, e com uma ocupação em Blumenau abaixo de 40%. Ao mesmo tempo temos uma estrutura de retaguarda organizada, com profissionais preparados, com medicamentos à disposição, ambulatórios de referência, fast-track, testagem. Outra situação que nos diferencia, é que estramos comprando um teste de 30 minutos. Se ele for validado, a partir de semana que vem teremos testes “de cotonete” para atender também nos fast-tracks. Então teremos à disposição testes de sobra, equipe organizada e leitos de UTI com uma perspectiva de ocupação razoável dentro dessa condição. E o principal, na minha visão: nós estruturamos nos nossos hospitais, investimos aqui, não contratamos alguém que vem aqui, fecha a mala e leva tudo embora. Temos testagem, rastreamento e monitoramento dos pacientes.

Prefeito Mário Hildebrandt
Mário Hildebrandt é prefeito e candidato à reeleição em Blumenau (Foto: Eraldo Schnaider, Divulgação)

Ittner: Com 0,86% de letalidade e 300 casos por dia, Blumenau está encomendando três mortes por dia. O senhor considera isso tranquilo?

Nenhum óbito é tranquilo. Estamos trabalhando desde o início para não perder nenhuma vida. Mas se você olhar proporcionalmente o percentual de óbitos de SC e o do Brasil, e a média de casos, a letalidade, em relação aos casos confirmados, somos uma das cidades com o melhor índice. Somos a terceira cidade que mais testa e uma cidade que isola, monitora e rastreia os pacientes. Isso é feito desde o início.

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Evandro: Em julho, o senhor dizia que um terço dos 94 leitos de UTI eram “de guerra”, e nem sequer os incluía na conta. Por que agora eles são seguros e a situação é controlada? Não é uma maquiagem dos números?

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Os leitos de guerra estão incluídos no total. Naquela época eles estavam na janela do Estado. Hoje eles estão referenciados pelo governo. E os leitos Covid não são os leitos normais, os hospitais têm essa separação. Temos toda a segurança de que podemos chegar a 94 leitos de UTI. Essa é a definição trabalhada inclusive nas reuniões com os hospitais. Naquele momento, quando chamávamos de “leitos de guerra”, eles não estavam credenciados pelo Estado. Hoje eles fazem parte dessa referência do governo de SC, que sabe como eles são utilizados.

Ittner: A duplicação da Ponte Adolfo Konder vai resolver o problema do trânsito entre a Ponta Aguda e o Centro? Os adversários chamam a obra de “puxadinho”. Como o senhor avalia até essas críticas?

Adversário pode usar a expressão que quiser, faz parte do processo político, infelizmente. A Ponte Adolfo Konder tem duas etapas, a primeira delas é a duplicação, com uma alça diferenciada, em curva. A segunda etapa é a reforma e a alteração da saída da atual ponte, com alargamento para a saída e duplicação para quem vem da Ponta Aguda. Mas nós já estamos trabalhando no alargamento de uma pista na Beira-Rio até na Martin Luther, para melhorar a questão do trânsito, e em uma nova ponte na Rua Bolívia, que vai praticamente interligar com a Namy Deeke. Vamos alterar inclusive a rua ao lado do shopping Beira-Rio e dar uma linha direta. Já estamos negociando com o proprietário, para que quem venha da Ponta Aguda em direção ao Garcia não precise nem mais passar pela Beira-Rio. Isso faz parte de um processo amplo de ações de mobilidade urbana na Região Central da cidade, assim como a Ponte do Biergarten, que também vai melhorar o acesso à Beira-Rio, inclusive mirando o funcionamento do corredor de ônibus.

Evandro: O senhor acredita em um modelo em que a prefeitura tem que subsidiar a empresa e o sistema?

Acredito em um modelo em que precisamos buscar alternativas para que o transporte coletivo seja viável e barato. O caminho temos que construir a partir desse momento, anormal, em que esperamos que tenhamos a redefinição com vacina ou acomodação da pandemia, para que não haja risco de subsídio. O que não pode haver é aumentos descabidos da tarifa para a população que não tem mais condição de aguentar esse processo.

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Evandro: Mas só para ficar claro, o senhor tem esse projeto de subsidiar o sistema pós-pandemia para pelo menos mantê-lo viável economicamente?

Esse é um momento em que estamos fazendo o subsídio do transporte coletivo por uma determinação judicial, frente a cinco meses de parada definida pelo governo do Estado. Aí gerou-se esse prejuízo, a empresa entrou na Justiça, e conseguiu trazê-la a seu favor e nos obrigou a fazer a indenização. Essa discussão nós teremos que fazer de acordo com a retomada do transporte coletivo. E nós já estamos fazendo, também, melhoria da infraestrutura, com uma coisa chamada integração de modais. Os dois novos terminais urbanos têm integração entre bicicleta e veículos, algo que não existe em nenhum dos outros. O que isso permite? Que a pessoa vá de bicicleta até o terminal, deixe ela lá, vá para o Centro, volte, e vá para a casa. Isso facilita a vida do usuário, traz mais pessoas para o transporte.

Ittner: E os ônibus terão ar-condicionado?

Esse é um debate que estamos fazendo com a empresa concessionária. O detalhe é que se hoje nós tivéssemos ar-condicionado, eles não poderiam nem ser ligados, nesse atual momento de pandemia. Mas com certeza esse é um debate de melhoria da climatização do transporte coletivo que precisa ser feito.

Prefeito Mário Hildebrandt
Mário Hildebrandt recebeu 42,53% dos votos válidos no 1º turno (Foto: Patrick Rodrigues, BD)

Evandro: Que obra o senhor considera mais importante para aliviar o trânsito da cidade, principalmente depois que as aulas voltarem?

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Todas as obras têm um valor importante. Se você olhar para a Região Central da cidade, as pontes que estamos construindo são importantes, o alargamento da Beira-Rio é importante. Mas se você olhar para a região do Garcia, as duas pontes que estão sendo construídas lá, também são importantes. Lá na Itoupavazinha, na saída da Jacob Ineichen, uma rótula que foi um investimento baixo foi extremamente importante para a região. Para aquela comunidade, aquela rótula é uma ação de mobilidade importante, assim como a rótula que faremos na saída da Johann Ohf com a José Reuter. Assim como lá na Santa Maria, na frente do Mercado Carol, também faremos uma rótula. Como foi a Paranapanema, onde ficamos uma rótula. Se você pegar uma obra, vai focar em uma região. Mas para cada situação você precisa ter ações que melhorem a mobilidade. Posso te trazer obras grandes, mas preciso olhar também aos bairros e trazer soluções locais. Outra obra importante que nós teremos a obrigação de fazer é ali na saída da Guilherme Scharf com a Pedro Zimmermann, porque com todas as alças de acesso da BR-470, ali virou um gargalo. Então se não resolver aquele problema, tudo fica complicado. Estamos planejamento uma ponte no Farol Lanches, para melhorar o fluxo próximo ao Terminal da Proeb, planejando alargar a ponte na frente do Sesc, para melhorar até o fluxo do pedestre… Então entre pequenas e grandes obras, todas têm visão importante de transformação da realidade de uma região.

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Ittner: O que o senhor pretende fazer para reverter a queda nas notas do Ideb de Blumenau neste ano?

Estamos acima da média nacional, isso é um ponto a ser colocado, e nós temos o desafio de continuar o trabalho com a Secretaria de Educação de incentivar a permanência do professor em sala de aula. Criamos o abono dia letivo para o professor, que é praticamente um 14º salário, para que a gente diminua atestados e até o desejo de não estar em sala de aula, que é um desafio, já que a sala traz uma pressão, um desgaste. Temos que trabalhar a formação continuada dos professores, pensar desde a contratação, implementar o concurso público e ampliando a transformação da educação, através do ensino de lógica e ampliar as escolas bilíngues.

Evandro: Tirar o FGTS dos ACTs não é uma desvalorização da categoria?

Nós temos o contrato administrativo que é o mesmo modelo adotado pelo governo do Estado para a contração. Para isso fortalecemos e criamos o abono dia letivo que, inclusive, dá mais do que o próprio FGTS. É um trabalho feito na linha de valorização do professor em sala de aula, que é o que imaginamos que vai dar resultado, até, na melhoria da nota do Ideb. O principal ponto é que nós precisamos mudar essa curva, criando concursos, para contratar o professor e para que ele seja efetivo, para que o ACT só seja contratado em caso de necessidade.

Ittner: O que o senhor vai fazer para desafogar o pronto-socorro dos hospitais de Blumenau?

Primeiro é importante destacar que os hospitais hoje recebem apoio financeiro do município para manter os pronto-socorros abertos, apesar de não ser responsabilidade da municipalidade, nós repassamos aos três hospitais, hoje, cerca de R$ 13 milhões por ano. A principal finalidade desse recurso são essas ações. Há um pedido dos hospitais para que a gente auxilie na redução do atendimento no pronto-socorro. Além disso, os AGs do Badenfurt e da Fortaleza já serão um projeto-piloto para que tenham exame de imagem e hemograma. Através dessa ação, a gente já consegue diminuir a demanda sobre o pronto-socorro, porque a pessoa faz quase tudo no AG e só vai para o hospital para fazer o gesso, por exemplo.

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Evandro: Um gerente em cargo de confiança na Faema foi preso por cobrar propina. Outro, na Vila Itoupava, é investigado pela polícia por suspeita de superfaturamento da merenda escolar. Afinal, essas pessoas eram de confiança?

Se eu olho para os teus olhos, não sei qual é tua intenção por trás deles. Mas eu tenho uma questão muito clara sobre as minhas decisões e todas elas são muito duras. Se houver qualquer denúncia, qualquer constatação, se for cargo de confiança, a pessoa é afastada sumariamente. Fiz isso nesses dois casos sem discutir. Depois, se for provado que eles são inocentes, aí é uma conversa mais adiante. Existe, sim, um acompanhamento e monitoramento, não só com cargos de confiança. Estamos hoje com oito fiscais afastados, fora outros profissionais, por denúncias e monitoramento feito pela controladoria. Temos uma comissão que faz a constatação e, se provado, a pessoa é exonerada, não pode assumir cargo público por três, quatro, cinco, 10 anos. Quando eu assumi, poderia criar uma secretaria que, entre aspas, “desse mais votos”. Mas não, criei a Secretaria de Controladoria e Transparência para fiscalizar o próprio governo.

Ittner: Como o senhor pretende resgatar o setor de turismo após a pandemia? E se trabalha com a hipótese de que o Festival da Cerveja vá acontecer?

Festival da Cerveja, inclusive, lançou edital, então a hipótese é de que ela aconteça, não nada nesse momento que diga que não. Agora em relação ao turismo, é importante destacar que muita gente fala do pós-pandemia. Se vocês tiverem, me avisem, porque vou colocar em um calendário e até dar uma descansada. Nós estamos hoje, mesmo com a pandemia em andamento com várias ações de fortalecimento do turismo. Primeiro, lançamentos o edital de concessão do Frohsinn. Lançamos o edital do Museu da Cerveja. Vamos lançar o edital da Praça Dr. Blumenau. Vamos lançar o editar da Praça da Estação, ao lado da prefeitura, já com interessados. Então só esses quatro já são ações importantes. Aí vamos contar, também, a Prainha, que só não continuou a obra por conta de uma briga judicial entre duas empresas. Tem a revitalização na Rua Curt Hering, que é uma empresa que tem trabalhado muito bem, que é a Pacopedra. Estamos preparando também a venda dos novos direitos de usa da Oktoberfest para a cervejaria principal, com criação do Museu da Oktoberfest. Vamos construir um biergarten onde sempre montamos a tenda na Vila Germânica e, ao mesmo tempo, o teleférico. São ações fundamentais no processo, sem esquecer do Centro de Convenções, que está em fase final de análise no governo do Estado. Só tem coisa boa para o turismo. Nunca se investiu tanto, se fez tantas ações em tão pouco tempo.

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Prefeito Mário Hildebrandt
Mário Hildebrandt (Foto: Divulgação)

Evandro: O senhor declarou voto ao presidente Jair Bolsonaro e inclusive sinalizou filiação ao Aliança Pelo Brasil. Hoje o senhor ainda é um apoiador do presidente?

Continuaria votando no presidente Bolsonaro. Entendo que ele tem uma visão muito clara de responsabilidade, de retidão, de conservadorismo, de uma economia liberal, e essa é a linha que eu adoto nas minhas ações. Não vejo necessidade de mudar meu voto e minha visão em relação ao presidente Bolsonaro

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Ittner: O senhor é bolsonarista?

Me considero alguém que admira o presidente Jair Bolsonaro nas ações, no trabalho, e na visão em relação à economia e ao conservadorismo. Se isso é ser considerado bolsonarista, então posso ser.

Por que o senhor é melhor candidato que João Paulo Kleinübing?

Porque tenho as melhores propostas para Blumenau, e propostas claras de um futuro que não começa daqui a cinco, 10 anos, e sim de um futuro que começa agora com decisões ousadas, de coragem, e que não fica discutindo ações e projetos de longo prazo. Temos que ter planejamento, ações, mas precisamos de resultados. Ficamos duas eleições discutindo onde era o melhor lugar para se construir a ponte do Centro. Aí fomos lá e construímos duas pontes no Centro e duas no Garcia. Durante 12 anos ficou-se discutindo se abre ou não abre a Velha-Garcia, e nós estamos resolvendo o problema lá. Enfrentamos o problema da URB, que era um espaço de corrupção, de mau uso do dinheiro público, e extinguimos a Companhia Urbanizadora. E nós temos as melhores propostas na saúde, mobilidade, assistência social, desenvolvimento urbano, turismo e tecnologia. Propostas claras, objetivas, e que vão impulsionar Blumenau.

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